Após dez dias, o acampamento pró-Lula montado na região da Superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, em Curitiba, foi desmontado nesta terça-feira (17) e transferido para outro local. Por volta das 19h15, quando os manifestantes realizaram o último ato da noite para o ex-presidente, com os autofalantes ecoando gritos de “boa noite, Lula”, já não havia mais nenhuma barraca instalada nas proximidades da PF. Restavam ali apenas as quatro tendas de apoio à vigília pró-Lula – permitidas pelo acordo feito com autoridades – e três barracas de vendedores ambulantes, que também já começavam a se recolher, a pedido da organização do acampamento.
Pelo acordo, a vigília poderá continuar nas proximidades da PF, mas as barracas para pernoitar e a cozinha tiveram de ser transferidas. O novo endereço é um terreno particular, na divisa dos bairros Santa Cândida e Tingui, na esquina das ruas Joaquim Nabuco e São João (rápida sentido Colombo), a cinco quadras do ponto inicial de protesto. O custo do aluguel será pago pelo PT, mas os valores não foram divulgados pelos apoiadores.
Segundo a organização, após o pernoite no novo local, os manifestantes voltam a se reunir em vigília a partir das 9h desta quarta-feira (18), quando será dado o grito de “bom dia, Lula”. A vigília deve seguir até as 21h, para cumprir o horário determinado pela Justiça. O som terá de ser desligado às 19h30. O ponto central da vigília acontece na Rua Dr. Barreto Coutinho.
Para os vizinhos, depois desses dez dias, essa será a primeira noite de sono tranquilo. Bruno Weingartner, 23 anos, morador da Rua Guilherme Matter, uma das principais da vigília, afirmou que a saída dos manifestantes e das barracas foi um alivio. “Hoje à tarde, o acesso a minha casa melhorou bastante. Estava sendo um transtorno, tinha barulho, tinha que explicar para a polícia que eu era morador e os manifestantes não tinham hora para descansar. Acabava que nós também não. Agora, só de olhar pelo muro e ver que não tem mais ninguém acampado me sinto mais aliviado”, disse.
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Outro morador que não quis se identificar, de uma casa mais ao fundo de onde era o acampamento, sente um misto de alívio com precaução. “Eu tenho medo que eles voltem. Lá no começo, quando eles vieram para cá, eu saí de casa de manhã e, quando voltei, a rua estava tomada. Eu e mais um grupo de vizinhos estamos aproveitando para prender fitas de isolamento nas calçadas, para que não comece outro acampamento”, contou o morador.
Durante esta terça, a desmontagem do acampamento foi tranquila praticamente o dia todo. Perto das 19h, o último ônibus se preparava para deixar o local e era possível observar a movimentação de poucos carros de manifestantes com o porta-malas carregado de pertences. Quando as caixas de som utilizadas para os discursos foram desligadas, o silêncio passou a predominar. As casas da vizinhança estavam com poucas luzes acessas e um pequeno grupo de estudantes, que ficou até o fim da vigília, também já começava a ir embora. Não havia lixo deixado pelos manifestantes.
Confusão
Uma confusão entre aproximadamente 20 integrantes da torcida organizada Império Alviverde, do Coritiba, e um grupo de manifestantes pró-Lula foi registrada na noite desta terça-feira (17) em Curitiba. Os petistas saíam da região da Polícia Federal e seguiam para o novo acampamento e se encontram com o grupo de alviverdes, na Avenida Paraná, no bairro Santa Cândida. Membros da torcida provocaram os manifestantes e chegaram a disparar um rojão em direção ao grupo pró-Lula, que estourou no asfalto. Houve xingamentos e empurra-empurra. De acordo o presidente do PT-PR, os militantes foram agredidos com barras de ferro e duas pessoas ficaram feridas.
Relembre o caso
Após o juiz Sergio Moro ter determinado a prisão de Lula, condenado em 2.ª instância no caso do tríplex de Guarujá, Lula se entregou à PF em São Paulo, em 7 de abril, e foi transferido para Curitiba. Desde então cumpre pena na sede da PF na capital paranaense. Um dia após a prisão do ex-presidente, militantes do PT e integrantes de movimentos sociais montaram um acampamento em ruas próximas ao prédio.
Moradores da região reclamaram dos transtornos causados pela presença dos participantes do acampamento em frente às suas casas e da falta de acesso a serviços públicos. Uma série de bloqueios no trânsito também foram feitos na região - para impedir que houvesse confusões com os grupos contrários ao ex-presidente. O policiamento foi reforçado.
Antes mesmo da formação da estrutura, um interdito proibitório impedia a aglomeração de pessoas no Santa Cândida. Mas a decisão não foi cumprida. Diante dessa situação, a Justiça determinou no último sábado (14) multa de R$ 500 mil por dia aos manifestantes.
Após a determinação judicial, um acordo foi fechado na segunda-feira (16) entre representantes do PT e autoridades municipais e estaduais para a transferência das barracas de pernoite. A prefeitura de Curitiba ofereceu o Parque do Atuba para os militantes, porém, eles recusaram e preferiram ficar em um terreno particular, que fica a cinco quadras do endereço antigo.
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