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Moradores  como Helena Onuka estão aliviados com o sossego nos arredores da Justiça Federal | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Moradores como Helena Onuka estão aliviados com o sossego nos arredores da Justiça Federal| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Depois de quase dois anos de bloqueios policiais e inúmeras manifestações pró e contra a Operação Lava Jato, os moradores e comerciantes do bairro Ahú, em Curitiba, afirmam que a paz voltou a reinar nos arredores da Justiça Federal em Curitiba. Segundo eles, as ações na região foram frequentes até o primeiro semestre deste ano e tiveram seu ápice durante os depoimentos do ex-presidente Lula ao juiz federal Sergio Moro nos meses de maio e setembro de 2017, que culminaram com a condenação e prisão do petista pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

O movimento registrado no Ahú foi o oposto do que ocorreu no bairro Santa Cândida. Com a prisão de Lula, os atos contra e a favor do petista deixaram de ser realizados na região da Justiça Federal e passaram a ocorrer perto da Superintendência da Polícia Federal, no Santa Cândida, onde o ex-presidente está preso desde abril. A tensão no local foi reduzida após a locação de um terreno em frente à PF por parte dos apoiadores do petista, mas ainda há reclamações dos moradores.

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Segundo a pedagoga Dineia Santos de Barros, de 50 anos, os moradores da região da Justiça Federal tinham dificuldade para chegar em casa nos dias de depoimento devido aos bloqueios de trânsito e ainda ficavam preocupados com o esquema de segurança montado diante de seus portões. “Teve um dia que eu precisei comprar um remédio para minha mãe, de 73 anos, e fui obrigada a fazer um caminho bem mais longo para conseguir”, afirmou.

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Além disso, cada passo que ela dava ao redor de sua residência era preocupante. “Tinham tantos policiais e manifestantes que nós ficávamos só pensando quando é que ia acontecer algum confronto. Morríamos de medo de que atirassem”, relatou a pedagoga, que mora a alguns metros da Justiça Federal.

A pedagoga Dineia Santos de Barros tinha dificuldade para entrar em casa e ficava com medo de caminhar pela regiãoAniele Nascimento/Gazeta do Povo

Outro problema, segundo a moradora Aline Milani, de 24 anos, era o barulho constante gerado pelos manifestantes. “A situação não era só nos dias de depoimento porque eles sempre estavam aqui. Chegavam cedo e ficavam gritando, buzinando e soltando foguetes até as 21h”, afirma ela, que preparava seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para se formar em Zootecnia na época das ações. “Eu precisava estudar durante o dia, mas não conseguia. Então, comecei a fazer meu TCC à noite, depois que os protestos paravam”, recorda a zootecnista.

O barulho constante também atrapalhava o gerente comercial José Valdemar Sehnem, de 64 anos. Funcionário de um estacionamento localizado nas proximidades, ele aproveita agora o silêncio da região para trabalhar com tranquilidade. “Acabou aquela bagunça de apito, foguete e gritos contra e a favor do ex-presidente. Está bem diferente”, afirmou.

O barulho constante atrapalhava o gerente comercial José Valdemar Sehnem, que trabalha próximo à Justiça FederalAniele Nascimento/Gazeta do Povo

Aluguel para emissoras

No entanto, um detalhe durante as manifestações deixou saudades em José. “Várias emissoras de televisão alugaram nosso espaço para filmar a chegada e saída do Lula nos dois depoimentos. Aqui ficou cheio de caminhões com equipamentos e eu gostei dessa correria incomum”, afirmou. Segundo ele, até uma empresa de TV estrangeira usou o espaço. “Nossos clientes de sempre não conseguiam vir porque o trânsito estava totalmente bloqueado, mas os jornalistas ocuparam o espaço e foi bem divertido”.

A dona de casa Helena Onuka, de 60 anos, também aproveitou o movimento diferente na região para lucrar. Vizinha do estacionamento onde alguns caminhões das emissoras estavam parados, ela decidiu alugar a cobertura do seu prédio para que os repórteres acompanhassem o passo a passo da vizinhança.

O espaço estratégico garantia um ângulo perfeito da entrada da Justiça Federal sem nenhum obstáculo à frente, o que atraiu diversas equipes de comunicação. “No primeiro depoimento, consegui alugar para 11 emissoras de televisão, sendo uma da França e até uma equipe que estava preparando um documentário. Já na segunda vez, aluguei para quatro emissoras”, afirmou.

O maior movimento nos arredores da Justiça Federal foi registrado durante os depoimentos do ex-presidente LulaMarcelo Andrade/Gazeta do Povo

Cada empresa pagou o valor de R$ 1 mil por aluguel, o que a ajudou a pagar seu carro novo. “As prestações custavam R$ 3 mil e eu estava com dificuldade para quitar. Acabei conseguindo acertar quase cinco parcelas de uma vez com os primeiros alugueis e terminei de pagar o carro no segundo depoimento do Lula”, comemorou.

Mas, mesmo com a renda extra, ela garante não sentir falta da movimentação nos arredores da Justiça Federal. “Me ajudou bastante, mas prefiro o sossego que está agora porque ficávamos com medo do que podia acontecer e nem tínhamos liberdade para entrar e sair de casa”.

Acampamento Lava Jato

Integrantes do acampamento pró-Lava Jato até montaram uma estrutura na praça em frente à Justiça FederalJonathan Campos/Gazeta do Povo

Entre os manifestantes que utilizavam a praça em frente à Justiça Federal estavam integrantes do acampamento pró-Lava Jato, que montavam barracas e permaneceram no local por vários períodos. A última ação do grupo terminou em 29 de janeiro, após os organizadores receberem uma notificação da prefeitura pelo uso irregular do espaço. A notificação foi emitida pela Secretaria Municipal de Urbanismo.

Na ocasião, o grupo informou em comunicado oficial que saiu da praça após membros da ocupação serem alvo de ameaças. Desde então, os voluntários têm atuado em outros bairros da cidade fazendo campanha eleitoral gratuita a favor do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL).

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