O acidente envolvendo uma viatura da Polícia Militar que matou quatro pessoas na última terça-feira (31) trouxe à tona uma série de problemas relacionados ao fluxo de veículos e pessoas na Linha Verde. Embora seja uma rodovia federal — a BR-476 —, a via tem um alto fluxo de pedestres ao longo de todo o trecho urbano, seja por causa dos pontos de ônibus instalados na canaleta central ou por causa dos comércios e serviços próximos. E, mesmo com os semáforos e pontos de travessia em vários pontos, nem sempre eles são respeitados.
A tragédia desta semana, inclusive, teria acontecido justamente quando a viatura tentou desviar de uma pessoa que atravessava a canaleta, como informou o policial militar que dirigia o veículo em depoimento. E quem frequenta o local diz que esse tipo de situação é constante por ali.“Sempre tem gente atravessando a canaleta e também as duas pistas da Linha Verde. Quase nunca pela faixa. Eu vejo quando venho do hospital [Erasto Gaertner] até aqui e enquanto aguardo o ônibus”, explica a atendente, Ana Paula Adorei Rosário dos Santos, de 19 anos, que costuma pegar ônibus no mesmo ponto em que as vítimas estavam.
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A única faixa de pedestres entre o Erasto Gaertner até o ponto de ônibus fica no sinaleiro do viaduto da Avenida das Torres. No trajeto de cerca de 250 metros, não há gradis de proteção na canaleta para impedir a travessia fora da faixa — a exemplo do que acontece próximo à passarela do Colégio Medianeira, um pouco mais à frente na rodovia. Assim, a existência de uma faixa de pedestres se torna totalmente ignorada por ali.
O promotor de vendas Fernando Imaregna, 61 anos, também utiliza o ponto na Linha Verde e diz que ninguém respeita a sinalização. “Tem pedestres que vão para o trabalho, mas também tem pedintes. Todo mundo circula por aqui e não respeita. Quase ninguém passa na faixa. Eles se arriscam para atravessar a canaleta no meio dos carros e eu acho um perigo”, conta.
Além disso, Imaregna destaca que é comum ver veículos oficiais passando pela canaleta, como carros policiais e ambulâncias. “Se você fica 15 minutos no ponto, vê vários passando. A impressão que dá é que eles estão muito mais rápidos do que 70 por hora. Nem todos com luzes de sirene acesa ou apitando. Isso aumenta ainda mais o risco de quem atravessa”.
Falta de gradil
Em nota, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), responsável pelo projeto da Linha Verde, disse que todas as demandas de sinalização, ajustes no mobiliário urbano e segurança viária encaminhadas à prefeitura são avaliadas tecnicamente e levam em conta a necessidade e a viabilidade da solicitação. Segundo o órgão, em sua concepção, o projeto da Linha Verde não prevê a instalação de gradis e que a estrutura só está instalada perto da passarela do Colégio Medianeira por ser área próxima de entrada e saída, embarque e desembarque dos estudantes.
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Ainda segundo o Ippuc, em relação à segurança do trânsito, o que prevalece em todas as vias é a sinalização, seja horizontal ou vertical, para pedestres e motoristas. “As placas e faixas apontam o que precisa ser respeitado por todos”, diz o texto.
Ponto na canaleta
A própria localização de alguns pontos de ônibus na Linha Verde também preocupa, já que eles ficam do lado da canaleta e não da calçada. Para a doméstica Ana Bora Fontana, isso aumenta o risco de acidentes, já que força as pessoas a cruzarem a rodovia.
Ainda assim, o assessor técnico da Comec, Wilian Corrêa, diz que a empresa não recebeu nenhuma solicitação de passageiros pedindo alteração de local do ponto do acidente, mas informou que a passagem da linha Maracanã/ Linha Verde pela canaleta próxima ao viaduto da Avenida das Torres é uma operação temporária. Com as obras de extensão Norte/Sul da rodovia, no lugar daquele ponto será instada uma estação-tubo chamada Estação Torres. “Os biarticulados farão o trajeto Norte/Sul e a linha do Maracanã só chegará até a altura da Rua Fagundes Varela, vinda do Atuba”, explica.
Segundo Corrêa, chegando na Fagundes Varela, os passageiros deverão fazer a baldeação para os biarticulados, que, antes de chegar na Estação Torres, ainda passarão por uma estação-tubo que será instalada na passarela do Centro Politécnico. Ainda não há data definida para a mudança ocorrer – ela depende da conclusão das etapas das obras na Linha Verde.
Fiscalização
Conforme informou a Superintendência de Trânsito de Curitiba (Setran), no dia do acidente estava ocorrendo uma blitz na Linha Verde, em outro ponto da rodovia. Na quarta-feira (1), outra fiscalização integrada incluiu pontos da região do acidente. Ainda segundo a Setran, mesmo antes do acidente, agentes de trânsito e guardas municipais já vinham deflagrando operações praticamente diárias pela cidade - muitas delas, na Linha Verde.
Investigação do acidente
Conforme explicou o delegado Vinicius Augustus de Carvalho, titular da Dedetran, o depoimento do PM que estava na carona da viatura ainda não tem data definida para acontecer. Além dos PMs, outras três testemunhas também devem ser ouvidas. Familiares das quatro vítimas e os policiais rodoviários federais que atenderam a ocorrência também devem colaborar com as investigações.
A Dedetran também vai analisar as imagens das câmeras de segurança da região e analisar os laudos do Instituto de Criminalística. Na quarta-feira (1.°), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgou um vídeo que mostra o momento em que a viatura da Polícia Militar passa pela canaleta instantes antes do acidente. As imagens mostram o veículo oficial passando no sentido Atuba da rodovia. Na gravação, não é possível ver o giroflex da viatura ligado.
A dúvida sobre o fato de o giroflex e a sirene estarem ou não ligados veio à tona pela exigência do Código de Trânsito Brasileiro que só permite a circulação de carros oficiais em canaletas durante atendimento e com esses equipamentos de sinalização ligados. Questionada sobre a ocorrência que os policiais estariam indo atender, a PM afirmou, em nota, que a “questão deve ser tratada durante os procedimentos investigatórios e durante a oitiva dos policiais militares”.
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