A morte do neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no dia 1.º de março, em Santo André (SP), motivou uma corrida de pais aos centros de vacina de Curitiba. Arthur Araújo Lula da Silva tinha 7 anos e foi vítima de meningite meningocócica, uma doença causada pela bactéria Neisseria meningitidis, que gera um processo inflamatório das meninges – membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal.
“O fato de o neto do Lula ter morrido mudou o padrão de procura pela vacina, que normalmente aumenta perto do inverno. É o primeiro ano que isso acontece desde 2015 quando a vacina chegou ao Brasil”, revela a responsável técnica pela clínica Previnna, Thanara Pruner da Silva. Ela ainda diz que o estoque de vacinas para a meningite do tipo B chegou a acabar em alguns momentos e que tem buscado os laboratórios para fazer a reposição.
Escorpiões em Curitiba e RMC: como se proteger e o que fazer em caso de picada
Essa situação tem sido recorrente em outras clínicas de Curitiba que foram procuradas pela reportagem da Gazeta do Povo. Em alguns locais, há falta de doses devido à alta demanda gerada a partir da última semana.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, as meningites causadas por bactérias são consideradas as mais graves. A forma mais eficaz de combate à doença é a vacinação contra o tipo B, que não é disponibilizada na rede pública. Somente a do tipo C é aplicada nas unidades de saúde gratuitamente – os outros tipos, A, W e Y também são encontradas em clínicas particulares.
Um levantamento da Gazeta do Povo mostrou que o preço da dose varia entre R$ 520 e R$ 620 nas clínicas particulares de Curitiba. Já a vacina ACWY fica entre R$ 270 e R$ 350.
Leia também: Curitiba tem segundo caso confirmado de febre amarela
Balanço
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Paraná (Sesa), houve 1.601 casos de meningite, de todos os tipos, no estado em 2018, com 108 mortes. Neste ano já foram registrados 144 casos, com 14 mortes. A mais recente foi de um jovem de 16 anos que morreu em Capanema, no dia 5 de março. Por enquanto não há informação sobre o tipo da doença – o Laboratório Central do Estado (Lacen) realiza a análise para a identificação.
A Sesa informa que a quantidade de mortes, tanto de 2018 como 2019, está dentro da média histórica e que não há motivos para alarde. No entanto, recomenda que as pessoas que não foram vacinadas busquem as unidades de saúde para a aplicação da dose contra a meningite do tipo C, ofertada na rede pública.
O Paraná tem recebido do Ministério da Saúde cerca de 66 mil doses por mês, número insuficiente, segundo a Sesa. A demanda atual para o todo o estado é de 88 mil doses mensais. Como consequência, na capital, a Secretaria de Saúde de Curitiba tem remanejado as vacinas recebidas entre os postos de saúde para adequar-se à demanda.
A doença
A meningite é causada, geralmente, por infecção viral, mas também pode ter origem bacteriana ou fúngica. Ela também pode ocorrer por outros microorganismos ou mesmo complicações de outras doenças, como sarampo e pneumonia.
De acordo com a Sesa, a maior ocorrência da meningite está entre as causadas por vírus (60%), que costuma ser a forma benigna, com boa evolução para cura. Outros 30% são causados por bactérias – existem mais de 200 que podem provocar a doença. Elas ocorrem por complicações de outras doenças ou são transmitidas pelo contato entre pessoas. Os 10% restantes são causados por fungos ou protozoários.
A meningite do tipo B é de alta letalidade e se instaura rapidamente no paciente. Por isso, pode levar à morte em menos de 48 horas. Em média, 25% dos casos resultam em óbito, e dos que sobrevivem, 20% ficam com sequelas, como perda de audição, falência renal e problemas motores. Como a doença evolui rapidamente, a vacina continua sendo a melhor forma de combater a meningite.
Entre os sintomas da doença estão dor de cabeça, rigidez na nuca, febre, convulsão e vômito. Nas crianças com menos de um ano, é comum o choro persistente e inchaço na moleira. Em alguns casos, algumas manchas vermelhas podem ser observadas na pele.
Deixe sua opinião