Dois dias após 52 detentos com sarna terem sido transferidos da Delegacia de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), para a Casa de Custódia de Piraquara (CCP), também na RMC, o risco de que um surto da doença ocorra também no novo local assusta os agentes penitenciários. Isso porque, apesar de os detentos contaminados estarem isolados em contêineres, os agentes que os atendem são os mesmos que fazem a movimentação dos outros 1500 presos da CCP. As informações são do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), que solicita que uma força-tarefa da Secretaria Estadual da Saúde seja iniciada imediatamente no local. Entenda o caso
Além da mistura de contingente de carcerários entre os dois grupos de detentos, outro fator preocupante é a ausência de profissionais de saúde suficientes. De acordo com o Sindarspen, a Casa de Custódia tem apenas uma enfermeira a disposição todos os dias, fora um médico uma vez por semana. Por isso, o sindicato solicita que haja um aumento no número de servidores de saúde fixos no local.
Leia também: PM amplia atendimento pelo app 190 para celulares iOS em Curitiba e RMC
A sarna é causada por um ácaro que infecta a pele, gerando coceira intensa, e entre as medidas adotadas para controlá-la encontra-se uma medicação — que foi aplicada inclusive aos agentes penitenciários. “Mas esse remédio não tem ação imediata”, alerta o dirigente sindical do Sindarspen, Rodrigo Fontoura. Segundo Fontoura, o perigo de contaminação dos agentes é real, e além de outros presos, eles poderiam levar a sarna para suas casas e contaminar suas famílias.
Mesmo assim, o Departamento Penitenciário (Depen) afirma, em nota, que “todas as providências necessárias já foram tomadas”, e que os presos estão sendo acompanhados diariamente pela equipe de saúde. Segundo o Depen, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) já foi informada da situação, e estaria acompanhando o caso.
O departamento não se pronunciou quanto à necessidade de aumento no número de profissionais da saúde na CCP. Sobre a situação dos agentes penitenciários, o Depen reiterou que a equipe tomou uma medicação preventiva, o que avalia ser suficiente para conter a doença.
Carceragem insalubre
A contaminação com sarna teve início da Delegacia de São José dos Pinhais, no início de fevereiro. Além de todo o grupo de detentos do local ter sido contaminado, havia o risco, ainda, de que agentes penitenciários e advogados também contraíssem a doença. No momento em que os presos foram removidos do espaço, 52 detentos ocupavam um espaço que era originalmente destinado a oito - lotação que contribuiu para as más condições sanitárias em que viviam os presos.
A insalubridade do ambiente já havia sido atestada por um relatório da Vigilância Sanitária concluído no dia 4 de fevereiro. O documento apontou que a carceragem “encontra-se totalmente insalubre, não oferece as mínimas condições de habitabilidade aos detentos ou dos que lá se encontram e paralelamente aos funcionários por oferecer risco à saúde humana”.
Outros problemas descritos pela vigilância na Delegacia de São José dos Pinhais incluem ventilação deficiente, umidade excessiva, infiltração nos tetos e paredes, falta de higienização, roupas e colchões expostos em chão úmido, fiação exposta, entre outros.
A higienização da Delegacia de São José dos Pinhais, segundo a Vigilância Sanitária, levaria de 7 a 10 dias, a contar a partir de segunda-feira (11). Após esse prazo, a carceragem poderá ser utilizada novamente. Não foi feito um novo relatório da vigilância sobre as condições dos contêineres da CCP.