Golpistas estão sempre buscando uma nova forma de tirar dinheiro de consumidores, desta vez, miraram nas empresas de transporte rodoviário de passageiros. O golpe funciona da seguinte forma: os fraudadores conseguem os dados de cartão de crédito de vítimas e fazem a compra da passagem pelo site das companhias rodoviárias. Em seguida, vão à Rodoferroviária de Curitiba trocar o voucher da compra pelo bilhete. Passados alguns dias, voltam à rodoviária informando que desistiram da viagem, pedem o reembolso e recebem o valor em dinheiro.
A legislação (lei 4.282/2014 e o decreto estadual 1.821/2000) dá esse direito ao consumidor, desde que a desistência ocorra até três horas antes da viagem. Às companhias ainda é facultativo reter 5% do valor da tarifa, como compensação. Uma regulamentação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) ainda determina que a pessoa deve ser reembolsada da mesma forma como pagou pela compra.
Os golpistas retiram o bilhete na rodoviária para descaracterizar a compra online, via cartão de crédito. Assim, teoricamente, vão ao guichê da companhia, devolvem o bilhete e conseguem receber o valor em dinheiro no ato (apesar da lei dizer que a empresa tem até 30 dias para fazer o reembolso, após a manifestação da desistência).
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Duas mulheres de Curitiba quase foram vítimas do golpe. Só não perderam dinheiro porque foram rápidas e já bloquearam no banco as compra indevidas. Para a primeira das vítimas, que é jornalista e preferiu não se identificar, o quase golpe ocorreu em novembro do ano passado. “Eu estava em casa quando chegou uma mensagem no celular, pelo aplicativo do banco, de uma compra de passagem rodoviária, feita no site da Viação Garcia. E. Eu estranhei e imediatamente liguei para o banco relatando que não tinha feito aquilo. Eles já bloquearam meu cartão para compras online”, afirma a jornalista. Por ter sido rápida, evitou que R$ 274 fossem lançados na fatura do cartão.
Com a também jornalista Marília Bobato, 35 anos, ocorreu exatamente igual no mês passado. Só que no caso dela, foram várias compras “apitando” no celular em menos de cinco minutos: cinco compras de passagens rodoviárias e mais outras duas em lojas, tudo online. “Eu liguei imediatamente para o banco. Mas já era noite e o horário de atendimento já tinha encerrado. Então abri o chat e mandei mensagem pro gerente, pra deixar formalizado. De manhã já liguei de novo e vi que o gerente já tinha cancelado meu cartão para compras online”, conta Marília, que teve outros inconvenientes por causa do episódio.
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A jornalista tinha alguns boletos programados no cartão, que estavam configurados como compras online. Um deles, por exemplo, era a do plano de saúde. “Aí eles ficavam me ligando, pra informar que o boleto estava em aberto. Tive que imprimir esse e outros boletos de volta, pagar tudo com juros e multa”, lamenta Marília. A “dor de cabeça” durou uns 20 dias, até que o novo cartão enviado pelo banco chegou.
Elas não fazem a mínima ideia de onde e como os golpistas conseguiram os dados dos cartões de crédito delas. Marília faz poucas compras online. Já a amiga dela desconfia de um site que fez compra momentos antes, supondo que o site tenha furtado os dados dela.
Como se proteger do golpe da passagem?
Não é difícil encontrar por aí pessoas que já tiveram os dados do cartão de crédito roubados. Aí vem a pergunta: “Onde roubaram meus dados?”, “Como faço pra evitar o problema?”. Quem responde é o especialista Leandro Escobar, que é professor de sistema de informação e coordenador da pós-graduação em Inteligência Artificial da Universidade Positivo. Escobar explica que nem sempre somos nós que cometemos deslizes para ter os dados roubados por hackers. Por mais que as empresas (principalmente sites de e-commerce) trabalhem para manter os dados dos seus clientes seguros (e o mesmo diga- -se dos clientes), hackers estão sempre procurando vulnerabilidades nos sistemas. Algumas empresas possuem equipes de tecnologia atentas 24 horas (e mesmo as maiores e mais conhecidas estão sujeitas a ataques). Outras, no entanto, são mais relapsas, como uma loja online brasileira que demorou dois dias para perceber uma invasão.
Portanto, diz o professor, como não é possível evitar o roubo, o mais eficiente é manter-se atento. Uma maneira é receber no celular mensagens SMS, avisando sobre gastos feitos com os seus cartões bancários. É uma das poucas formas de saber que os seus dados foram roubados.
Outra forma dos hackers agirem, diz o professor, é desenvolverem programas robôs que ficam lendo os dados da vítima, até encontrarem o que querem. “Quando as pessoas usavam o computador, costumavam se proteger mais, usando antivírus, acessando somente sites com início https (mais seguros), não comprando em sites desconhecidos. Hoje, mais de 70% dos acessos à internet vem de dispositivos móveis. E o celular trouxe uma falsa sensação de que é mais seguro. As pessoas relaxaram com os antivírus, acessam todo tipo de site e acabam instalando robôs (espécie de vírus) no aparelho”, mostra o professor.
Os vírus e robôs permitem que o hacker, por exemplo, veja o que está na tela da vítima e o que ela está digitando. Ou então, leem mensagens de texto que a pessoa deixou em aplicativos como WhatsApp, Messenger, Telegram, agenda, contatos telefônicos, etc., até encontrarem os dados que desejam. Até mesmo fotos tiradas de cartões, robôs analisam as imagem em busca de dados.
Portanto, não se deve deixar esse tipo de dado digitado ou em foto em lugar nenhum do celular ou computador. Mas Escobar não desestimula ninguém a deixar de fazer compras online. “Fazendo uma analogia, é como você andar na rua, por exemplo. Você evita os locais perigosos, os escuros. Na web é a mesma coisa. Basta ter um comportamento seguro”.
Cláudia Silvano, diretora-geral do Procon-PR, mostra que é uma obrigação de todo consumidor verificar quais movimentações são feitas com cartões e contas bancárias. “Sabemos que nem todos têm afinidade com a tecnologia. Mas se o banco ou operadora oferece os avisos no celular, use. E se veio uma compra irregular, conteste na hora”, ensina ela. Ela também mostra que é obrigação de toda empresa promover um ambiente de compra seguro (físico e online). E no caso do cliente contestar alguma compra indevida, o banco ou operadora de cartão, assim que comunicado, deve tomar uma providência.
O que dizem as empresas
Luiz Fernando da Silva Mattos, gerente comercial da Viação Garcia, afirmou que há alguns anos tiveram problemas no interior do Paraná com uma quadrilha que clonava cartões e comprava passagens rodoviárias. A partir disto, investiram num novo sistema antifraude de compra de bilhetes (via portal online e aplicativo de celular), que praticamente eliminou o problema. “Além do sistema, temos pessoas que também fazem o monitoramento de todas as operações”, diz Mattos.
A reportagem procurou outras duas grandes empresas do ramo, para ver se estão com problemas de reembolsos fraudulentos e que medidas tomam contra isto. A Viação Catarinense não respondeu até o fechamento da matéria. Na Itapemirim, não há atendimento de imprensa e a ligação não passou do canal de atendimento ao consumidor.
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