Desde o dia 5 de setembro, motoristas e cobradores de ônibus protestam por mais segurança no transporte público de Curitiba e região metropolitana. Até o dia 20, por pelo menos uma hora, os trabalhadores cruzarão os braços e vão parar a cidade exigindo que o poder público faça algo para cessar a onda de violência nos ônibus. Basicamente, a classe pede: filmadoras em todos os veículos com monitoramento 24 horas, criação de Delegacia Especializada em Crimes no Transporte Coletivo e o retorno do Grupo Tático Velado da Guarda Municipal nos ônibus. A exigência se justifica, mas, de prático, até agora, só uma ação: cartazes espalhados pelos ônibus da região metropolitana pedindo que a população registre Boletim de Ocorrência. Mais nada.
Somente de julho para cá, pelo menos 12 ocorrências graves, incluindo o assassinato de dois cobradores, comprovam a decadência do transporte público de Curitiba. Além de mortes, o sistema também registra no período arrastões, facadas, assaltos e assédio sexual. Isso fora o estado precário dos veículos: 28% da frota curitibana, ou seja, 1.656 ônibus, está com o prazo de validade de dez anos vencido — o que gerou casos de incêndio e até a queda da porta de um biarticulado.
Situações que tornam cada vez mais difícil não só o trabalho de motoristas e cobradores, como também a dos próprios passageiros que pagam carro pela passagem: R$ 4,25.
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Veja 12 situações dos últimos dois meses:
1) Motorista assassinado em arrastão
O motorista Edmilton José de Melo, de 45 anos, foi assassinado na Linha Curitiba/Jardim Paulista, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. O caso aconteceu no dia 22 de julho, quando, depois de roubar os passageiros, assaltantes atiraram contra o motorista. A situação gerou revolta nos motoristas e cobradores, que dois dias depois fizeram um protesto pedindo câmeras de vigilância nos coletivos.
Melo foi morto após parar em um ponto na Vila Zumbi dos Palmares, onde dois homens armados entraram e anunciaram o roubo. Os assaltantes fugiram e não foram identificados.
2) Cobrador leva dois tiros
Depois de uma discussão com um grupo que tentava entrar no ônibus sem pagar passagem, um cobrador foi atingido por dois tiros da noite do dia 26 julho. A violência aconteceu na estação-tubo Antonio Cavalheiros, no Cabral, onde circula a linha Santa Cândida/Capão Raso. O cobrador pediu ajuda em um mercado da região e foi encaminhado em estado grave para o Hospital Cajuru. A Polícia Militar não obteve informações sobre o atirador.
3) Porta de ligeirinho cai
A porta de um ligeirinho em movimento caiu e assustou passageiros na manhã do dia 27 de julho. O carro da linha Pinhais/Campo Comprido apresentou o problema nos arredores da Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba. A situação acabou não gerando vítimas, mas deixou os passageiros revoltados. “Sorte que não estava lotado e não tinha ninguém tão próximo da porta”, afirmou a passageira Karina Aricielli na ocasião. De acordo com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), a peça que suporta todo o peso da porta quebrou repentinamente e não foi possível detectar o problema com antecedência.
4) Motorista esfaqueado
Após um arrastão na linha Curitiba/Piraquara, no dia 5 de agosto, assaltantes feriram o motorista do veículo com uma facada na cabeça. Os criminosos levaram objetos dos cerca de 50 passageiros, como bolsas e celulares, além do dinheiro que estava com o cobrador. A agressão aconteceu quase no limite entre Pinhais e Piraquara, quando os ladrões desciam do veículo para fugir. A Polícia Militar não comentou o caso.
5) Porta de biarticulado cai
Usuários da linha Santa Cândida/ Capão Raso se assustaram no dia 8 de agosto, quando uma das portas de um biarticulado caiu com o ônibus em movimento. Ninguém se machucou na ocasião, que aconteceu durante horário de menor movimento. O veículo chegava na estação Fernando de Noronha, no bairro Bacacheri, quando a porta se soltou. A Urbs, empresa municipal que gerencia o transporte público de Curitiba, diz ter autuado a empresa responsável pelo ônibus.
6) Cobrador assaltado duas vezes no mesmo dia
Primeiro, o cobrador Jhonatan Martins Alberti foi esfaqueado durante um assalto na linha Curitiba/ Campo Largo, enquanto o veículo passava pelo bairro Mossunguê. Enquanto recebia atendimento médico, o carro da família de Alberti, que foi buscá-lo no Hospital Evangélico, foi roubado. Não é a primeira vez, porém, que o cobrador foi assaltado durante o trabalho. “Trabalho há seis anos como cobrador e já fui assaltado outras duas vezes. Ali você trabalha já esperando que isso vá acontecer. Temos que lidar com isso todos os dias, com medo”, explica o funcionário do coletivo.
7) Ônibus pega fogo
Um ônibus da linha metropolitana Itaperuçu-Curitiba pegou fogo na madrugada do dia 23 de agosto. O veículo saía da garagem da empresa Viação Sul, no Bairro Cachoeira, quando o incêndio começou. O motorista parou o coletivo e usou os extintores do próprio veículo para apagar o fogo.
Segundo o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) o incêndio começou devido a uma falha técnica. A entidade ressalta que o ônibus não é um dos veículos que têm a vida útil vencida, mas que, ainda assim, está sujeito a falhas técnicas.
8) Estação-tubo depredada por meses
A estação-tubo Praça 19 de Dezembro, na Avenida Cândido de Abreu, em frente ao Shopping Mueller, no Centro Cívico, passou meses depredada. Funcionando como ponto da linha Curitiba/Cachoeira, o tubo tinha o letreiro luminoso que deveria indicar os horários inativo, bem como as portas da estação sem funcionamento. Alvo de vandalismo, o tubo também permaneceu pelo menos sete meses com vidro da fachada trincado e placas de metais retorcidas. De responsabilidade da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), o tubo começou a ser concertado apenas depois da publicação da reportagem da Gazeta do Povo sobre a situação, no dia 31 de agosto.
9) Cobrador morre após levar dois tiros na cabeça
Um cobrador de ônibus de 25 anos morreu na noite do dia 1º de setembro após levar dois tiros na cabeça enquanto fazia a linha Gramados. O crime aconteceu na Rua Bartolo Gusso, no bairro Capão Raso. Segundo informações do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), o trabalhador teria sido alvo de disparos, sem motivo revelado. O cobrador foi encaminhado em estado gravíssimo ao Hospital do Trabalhador, mas não resistiu aos ferimentos.
10) Motorista esfaqueado no Inter 2
O motorista de um ônibus ligeirinho da linha Inter 2 foi esfaqueado no início da noite do dia 4 de setembro, enquanto dirigia no bairro Campina do Siqueira. Ele recebeu golpes na cintura e no peito, depois de pedir para que um pasageiro, que ouvia música em um volume muito alto, abaixasse o som do celular. O homem passou pela proteção que separa o motorista dos demais passageiros e, depois de esfaqueá-lo, fugiu pela porta de entrada do carro.
O motorista foi levado de ambulância ao Hospital Evangélico, fora de risco. A Guarda Municipal esteve no local e fez buscas pelo agressor, mas não há informações sobre o andamento das buscas.
11) Passageira assaltada com cacos de vidro
No último dia 05 de setembro, data de início das manifestações de motoristas e cobradores que vão paralisar o transporte público da cidade por pelo menos uma hora até o próximo dia 20, uma passageira foi assaltada dentro da linha Circular Sul, que liga o Pinheirinho ao Boqueirão. Ela foi rendida por dois homens que usavam cacos de vidro de uma garrafa quebrada dentro do ônibus. O crime aconteceu por volta das 6h30 e a jovem teve o celular e o dinheiro roubados.
12) Abuso sexual
Um homem foi detido pela Polícia Militar após ter sido denunciado por abuso sexual contra uma passageira no ônibus da linha Santa Cândida-Capão Raso. O caso ocorreu nesta sexta-feira (8), em frente à Praça Oswaldo Cruz, na Avenida Sete de Setembro no sábado, dia 9 de setembro. Tanto o rapaz como a vítima foram levados ao 12.º Batalhão da PM. Como negou ter cometido o crime, o suspeito assinou um termo circunstanciado e foi liberado em seguida.
Em depoimento divulgado no Facebook do projeto Humans of Curitiba, a vítima acusa o suspeito de ter apertado as nádegas dela. “Eu me assustei, por alguns instantes fiquei travada, trêmula, não conseguia falar”, descreveu a mulher, de 33 anos. Segundo ela, depois disso o rapaz ainda conseguiu se esfregar em uma outra passageira do ônibus, que estava lotado.
Colaborou: Cecília Tümler
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