O assassinato de um homem na madrugada do último sábado (2) acendeu de vez o alerta dos moradores, frequentadores e comerciantes da Rua Itupava, na divisa entre os bairros Alto da XV e Hugo Lange, em Curitiba. A morte a facadas, ocorrida próxima à Praça Jardim Poeta Leonardo Henke, área de diversos bares , junto à linha do trem, foi uma tragédia anunciada, segundo pessoas que moram na região.
Há um clima de insegurança geral motivado pelas recorrentes brigas e pelo escancarado consumo de drogas na Prainha da Itupava, como a região é conhecida. Além disso, os moradores reclamam do lixo deixado nas calçadas e do barulho que se estende madrugada adentro, até ao amanhecer, especialmente nas noites de sexta-feira e sábado.
“Atrapalha tudo. É muito barulho, muito trânsito. Só conseguimos dormir depois que dá uma calmaria. Tem vezes que vai até às 6h da manhã”, reclama o contador Luiz Carlos Morona, de 63 anos, vizinho da Prainha da Itupava. “Eles passam noite adentro na rua e ficam acumulando garrafa, copo, vão deixando tudo. Fica o lixo e até urina. Quase todos os dias temos que ficar limpando”, completa.
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Esse cenário se intensificou ano passado, quando a aglomeração de pessoas aumentou. Como consequência, tem prejudicado a qualidade de vida dos vizinhos da praça. Ao ponto de alguns deles pensarem em se mudar da região para não precisar mais conviver com a poluição sonora e a sensação de insegurança.
“A paz que existia aqui há dez anos não tem mais. Agora é barulheira, consumo de drogas, gritaria, bebedeira. Vai longe na madrugada, com briga de tudo quanto é jeito. Sentimos insegurança com essa situação. Nós já desistimos, perdemos a esperança”, lamenta outro morador da região que preferiu não se identificar.
Bares reagem
O convívio com os bares que começaram a se instalar no centro comercial em frente à praça em 2017 já foi pior, mas após várias conversas entre os proprietários e os vizinhos, chegaram a fechar um acordo de convivência, que impunha alguns limites, como horários de funcionamento e de música.
Os moradores ouvidos pela reportagem dizem que os bares têm respeitado o acordo. A reclamação mais incisiva é em relação ao que ocorre quando os bares fecham as portas, tanto direcionada a clientes que permaneçam na praça, como a grupos de pessoas que trazem as próprias bebidas e caixas de som.
“O que a gente escuta e combate são as mesmas coisas que os moradores querem se livrar. Isso não é bom para os moradores nem para nós”, enfatiza Alberto Bruel, proprietário de um dos bares e representante do pólo gastronômico da Prainha do Itupava.
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Ele reconhece que o movimento criado pelos bares pode incentivar a chegada de outras pessoas que vão para permanecer na praça. Mas garante que essa aglomeração após o expedientes dos bars é ruim também para os donos dos estabelecimentos. “O movimento se intensificou com os bares de rua, não dá para negar isso. Mas quem chega de fora, já vai com a intenção de ficar ali, leva isopor, cooler, a própria caixa de som. Eles não estão consumindo nos nossos bares e isso é ruim até do ponto de vista econômico”, ressalta Bruel.
Para tentar inibir confusões e mesmo furtos, os 12 bares decidiram contratar uma empresa de segurança. Câmeras foram instaladas em frente aos estabelecimentos e três vigilantes fazem ronda durante o horário de funcionamento. Nas sextas-feiras e sábados, ficam abertos até às 2h da madrugada. Nos outros dias, fecham entre às 23h e à meia-noite.
Apesar dessa iniciativa, Bruel admite que a atuação é limitada. “Os seguranças são orientados a apaziguar alguma situação de briga e evitar que o consumo de drogas se aproxime dos bares. E caso vejam alguma situação de venda de drogas, são orientados a chamar a polícia. Mas esse último caso até agora não ocorreu”, afirma Bruel.
Sensação de insegurança
O principal ponto de convergência entre moradores e donos de bares é a queixa direcionada à Polícia Militar (PM) e à Guarda Municipal (GM). Os dois lados reclamam que pouco tem sido feito para coibir o consumo de drogas, a perturbação do sossego e as brigas.
Eles dizem que cansaram de tentar criar um canal com o poder público. Já chegaram a se reunir com representantes da polícia e da prefeitura, mas até agora não receberam nenhuma resposta efetiva. O maior apelo é que seja instalado um módulo da PM no local.
“Agora com o que aconteceu na região [o assassinato], esperamos que tenha um módulo policial na praça. Somos os mais interessados. Acham que não queremos proximidade com a polícia. Mas para nós, quanto mais os clientes se sentirem seguros, melhor”, comenta Bruel.
Tanto comerciantes quanto moradores afirmam que as viaturas da polícia passam várias vezes durante a noite, mas os policiais não descem e andam pela praça. Em geral, param motoristas para verificar se estão dirigindo embriagados.
“Eles passam muito. Só que eles passam para fiscalizar quem está bebendo e dirigindo. É muito raro ter policiais circulando na praça. E quando precisamos, demoram muito para chegar. Já teve casos de mais de duas horas de espera”, completa o representante dos bares.
O que diz o poder público
A Guarda Municipal informou que “a região da Rua Itupava, assim como diversos outros pontos de encontro na cidade, é atendida com rondas feitas com viaturas da região central e do Grupo de Operações Especiais (GOE)”. Além disso, a prefeitura comunica que o Gabinete de Gestão Integrada municipal, o setor de inteligência da Defesa Social e da direção da Guarda Municipal “monitoram de forma constante o comportamento e a concentração de público no período noturno para fazer adequações e ajustes no programa Balada Protegida” e que, desta maneira, “é possível redirecionar efetivo e alterar horários, dentro das possibilidades”
A reportagem tentou com a Polícia Militar um posicionamento desde segunda-feira (4), mas até a publicação desta matéria não recebeu nenhuma resposta sobre o que pode ser feito para garantir a segurança na Rua Itupava.
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