Calçadas inacabadas em frente ao Instituto Paranaense de Cegos (IPC), no Centro de Curitiba, têm colocado em risco 180 deficientes visuais que estudam no local. A obra fica na Avenida Visconde de Guarapuava, onde operários trabalharam até meados de julho e sumiram logo depois. Com isso, a esquina com a Rua Coronel Dulcídio, onde deveria haver um piso especial de sinalização para pessoas com deficiência visual,permaneceu inacabada, assim como o canteiro central utilizado pelos cegos na travessia no semáforo.
Mãe de uma aluna do IPC, a dona de casa Marilene Zanete de Paula, de 40 anos, afirma que a situação é inaceitável. “Fico revoltada porque se até nós que enxergamos podemos tropeçar nos buracos que ficaram ali, imagine quem não enxerga”, pontuou a mulher, mãe de Maria Eduarda, de 11 anos, cega desde que nasceu por causa de um glaucoma.
Sem o piso tátil, Maria Eduarda explica que perde a referência de localização para caminhar. “Fico perdida”, enfatiza a menina que, para sair da escola, utiliza como referência a guia das construções localizadas na avenida e segue com sua bengala até o semáforo na esquina, justamente onde um piso tátil de alerta deveria guiá-la ao botão de acionamento do sinal sonoro do semáforo.
- Leia mais - Curitiba testa ônibus 100% elétrico com capacidade de rodar 250 km por dia
A situação piora no canteiro central da Visconde de Guarapuava com a Coronel Dulcídio, onde a calçada também não foi recolocada e, por isso, não há faixas de alto-relevo fixadas no chão para informar que ela terminou a primeira parte da travessia - ou seja, que ela está saindo do asfalto e entrando no canteiro central. “Quando chego ali e encosto a bengala na guia mais alta, acabo achando que já terminei de passar. Mas ainda tem outra parte e fico confusa”, explica a garota.
Assim como Maria Eduarda, o colega Mateus Braga dos Santos, 12 anos, também se sente perdido sem o pavimento tátil na calçada e tem medo de se machucar. “Hoje mesmo eu tropecei ali e quase caí”, lamenta o menino, entrevistado nesta quarta-feira (3).
- Veja também - Polícia Militar passa a atender ocorrências via aplicativo em Curitiba e região
A professora de estimulação visual Mônica Adriana Alves afirma que a situação coloca em risco os alunos. “Sem a pista de alerta na esquina eles não sabem para onde ir e podem entrar na frente de carros. E sem o piso no canteiro central eles não sabem onde parar. É bem perigoso porque muitos andam sozinhos”, alerta.
Resposta da prefeitura
De acordo com o IPC, diversas solicitações a respeito da obra inacabada já foram enviadas à prefeitura por meio da Central 156. Os pedidos foram de pais, alunos e pela própria diretoria do instituto.
No entanto, de acordo com a Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP), a revitalização das calçadas é uma obra privada por se tratar de umas das medidas mitigadoras exigidas da empresa que está construindo um prédio de dez pavimentos no mesmo terreno do Castelo do Batel, a construtora Cyrela. O objetivo dessas medidas é minimizar os impactos ambientais provocados pelo edifício.
Com isso, a construtora precisará finalizar a troca das calçadas no entorno do IPC e instalar pisos táteis antes de receber a licença de operação no prédio. De acordo com Luiz Paludo, gerente de incorporação da Cyrela, apesar de aparentar estar quase pronta, a calçada ainda precisa passar por várias etapas antes da entrega.
O motivo da demora, segundo Paludo, é que a construtora está fazendo a revitalização da calçada em etapas ao longo de um trecho de quase 1 km. Portanto, antes de ser colocado o piso tátil, o local deve passar por um processo de lixação. Todo o procedimento deve levar mais 60 dias. A construtora não informou se vai acelerar o andamento da obra ao menos em frente ao instituto, para facilitar a travessia dos cegos.
Outras calçadas
Além de cobrar a finalização da obra, o IPC solicita que a prefeitura também avalie a situação das demais calçadas nos arredores do instituto, principalmente as que estão perto dos pontos de ônibus utilizados pelos estudantes. “A quadra onde estamos tem calçadas relativamente boas, mas o restante do entorno sempre foi complicado”, afirmou o professor Enio Rodrigues da Rosa, diretor do IPC.
Segundo ele, o desnível e outros obstáculos existentes nesses espaços dificulta a locomoção de idosos que têm dificuldades visuais e de quem está começando a se orientar pela ponta da bengala. “Eu já enxerguei e sei que a pessoa que está vendo o obstáculo pode desviá-lo com facilidade, mas é diferente para o cego, que pode perder a referência com facilidade, potencializando o risco de acidentes”, afirmou o professor de 59 anos, deficiente visual desde 1994.
O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) informa que já revitalizou a Rua Coronel Dulcídio, localizada na lateral do IPC, e que não tem projetos em andamento para obras nas demais vias.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião