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Santuário Santa Rita de Cássia está sendo reformado para tentar inibir a ação dos marginais. | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
Santuário Santa Rita de Cássia está sendo reformado para tentar inibir a ação dos marginais.| Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo

Não tem canto do bairro Hauer em que alguém não tenha uma história de violência para contar. São furtos, assaltos, arrombamentos, gente machucada. Nem o Santuário Santa Rita de Cássia, que fica em frente à Praça Alfredo Hauer, ficou imune ao crime.

No santuário, há uma capela do lado de fora, onde as pessoas fazem orações e acendem velas. Mas, segundo a dona de casa Tereza Bitencourt, 74 anos, pessoas que dormem pela praça à noite ou se escondem na folhagem do muro de uma faculdade, ao lado da igreja, invadem a pequena capela para pegar água, fazer necessidades fisiológicas, usar drogas, dormir. Quebram vidros, torneiras e até as cabeças das santas. Nem a maçaneta da porta da igreja foi poupada.

O santuário está passando por uma pequena reforma, para reforçar a segurança da capela e da porta da igreja. “Eu não saio mais à noite de casa. Missa, agora, eu só venho domingo de manhã. E para andar pelo bairro, ando com uma bolsinha escondida debaixo da roupa, porque tenho medo de assalto‘, lamenta Tereza.

Em outro ponto do bairro, na Rua Irmã Flávia Borlet, o comerciante Ailson Souto, 40, teve seu restaurante arrombado na madrugada da última sexta-feira (26). ‘É a segunda vez que entram aqui e levam coisas. Mas no outro restaurante que tenho com a minha esposa, na Rua Waldemar Kost, a situação é bem pior. Lá nós já perdemos a conta de quantos arrombamentos e assaltos já passamos. Minha esposa já teve arma apontada na cara”, relata. Ele conta ainda que o dono de uma farmácia próxima fechou as portas porque não aguentou o prejuízo com tantos roubos, além de ter sido ferido em um deles.

Ailson Souto teve o restaurante arrombado na madrugada de sexta-feira.Felipe Rosa/Gazet ado Povo

A costureira e comerciante Leia Costa, 38, tem a sorte de nunca ter tido seu ateliê assaltado. Isso que ela fica até as 22h aberta. Mas quase nenhum dos seus vizinhos saiu imune ao crime. Na pizzaria ao lado, por várias vezes tanto o restaurante quanto os clientes, que ficam no carro aguardando a pizza, já foram roubados à mão armada. No salão de beleza ao lado da pizzaria, depois de alguns assaltos, a proprietária passou a atender de porta fechada. ‘Mas o que adianta fechar a porta? Se chega uma pessoa e aperta a campainha pra abrir, como que eu vou saber se é cliente ou ladrão? Então deixo aberto mesmo’, diz Leia.

Na madrugada de domingo (28), uma loja de móveis em frente ao terminal do Hauer, na Marechal Floriano Peixoto, foi invadida. Roubaram vários objetos e mercadorias e deixaram um buraco no teto do comércio.

Motociclista ladrão

Outro problema que vem tirando o sono, principalmente das mulheres, é um motociclista assaltante. Já existem vários relatos de um homem que anda todo de preto, numa motocicleta preta, e ataca mulheres andando na rua. Ele passa e arranca a bolsa da vítima.

Segundo Rodrigo Vidal, membro do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Hauer, uma mulher que foi atacada ficou com o rosto todo ralado, porque foi arrastada pelo asfalto. A dona de casa Luci Gomes, 67, já teve airmã assaltada pelo motociclista. A vítima trabalha numa escola estadual do bairro e todo dia faz o trajeto de bicicleta. Há um mês, o rapaz passou e arrancou a bolsa dela. ‘Ficou só a alça. Os documentos, celular, tudo foi levado. Agora eu saio pelo bairro e não posso ver nenhuma moto, fico apavorada‘, revela a dona de casa, que no dia em que foi entrevistada, voltava do banco, onde foi pagar uma conta. Ela sai de casa só com uma sacolinha de papel dobrada na mão, carregando só o necessário.

A camareira Alvina Rodrigues, 53, também teve uma filha atacada pelo motociclista. ‘Ele veio e ameaçou ela com uma faca. Só não conseguiu levar a bolsa porque tinha muita gente por perto e ele desistiu‘, recorda a camareira, que anda com o celular e os documentos escondidos na roupa.

Praças do crime

Algumas praças do bairro são bem frequentadas durante o dia. As pessoas aproveitam para se exercitar, pegar um sol. Mas o problema é o deslocamento das pessoas até os espaços de lazer. ‘A parte comercial do Hauer, que fica em sua maior parte concentrada na Avenida Marechal Floriano, até tem policiamento. O problema está mais no lado residencial, onde se vê muito pouca polícia‘, relata Vidal, membro do Conseg.

A Praça Alfredo Hauer é bem iluminada e frequentada. Sempre há gente se exercitando ou passeando. Mas à noite e nos fins de semana é que está o problema. Muita gente se reúne no local para usar drogas. A artesã Beatriz Bezerra já viu gente consumindo drogas até durante o dia, dentro de veículos, parados ao redor da praça. Vizinhos reclamam de perturbação de sossego pelas madrugadas. Também são comuns relatos de pequenos furtos nas imediações do espaço de lazer.

Praça Alfredo Hauer: bastante frequentada de dia, cheia de problemas à noite. Felipe Rosa/Gazeta do Povo

A dona de casa Marli de Paula Garcia, 70, tem a casa cheia de grades. A janela só fica aberta se a pantográfica estiver trancada. ‘Tem gente que para aí no estacionamento da praça, não sabemos se são honestos ou não. Se pararam aí só pra descansar um pouco ou se estão observando as casas, fazendo alguma coisa errada‘, comenta.

Já a vizinha dela, a aposentada Albertina Sandrini Ferreira, 60, quase foi abordada por ciclistas suspeitos, na caminhada matinal que faz ao redor da praça todos os dias. ‘Acho que eles viram eu levando o controle do portão na mão e pensaram que era um celular. Quando eu tenho que ir até a Marechal ou algum outro comércio, só levo uma sacolinha. Bolsa não dá mais pra usar, é um chamariz‘, fala.

Outra praça do bairro, a da passarela, também é considerada perigosa. “O pessoal não utiliza, está abandonada, por isso a criminalidade toma conta”, observa Rodrigo.

Policiamento “possível”

Em nota, o 20.º Batalhão da Polícia Militar (20º BPM) informa que está fazendo o policiamento preventivo e ostensivo na região do Hauer “com os meios humanos e materiais que possui”. Segundo a corporação, nos horários de grande movimentação de pessoas, o patrulhamento é feito com a Radiopatrulha (RPA), a Rondas Ostensivas com Apoio de Motocicletas (Rocam) e a Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam). A orientação é de que a população denuncie qualquer situação suspeita pelo 190 e não deixe celulares e relógios à mostra.

Em relação ao uso de drogas, a PM alega que é um problema social e de saúde pública. Vira caso de polícia se os usuários de drogas cometerem crime. Além do 190, denúncias relativas a tráfico de drogas podem ser feitas pelo 181 Narcodenúncia.

Por sua vez, a Guarda Municipal ressalta que enfoca a proteção dos equipamentos municipais e poderá ser acionada via 153. A Coordenação de Operações da GM informou que o patrulhamento na Regional Boqueirão foi ampliado desde o início do ano e que o trabalho integrado com a PM tem trazido resultados positivos para a população. Estão previstas novas ações e operações da GM na região. A corporação reforça a importância de se registrar o boletim de ocorrência.

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