Roubos de carros nas ruas de Curitiba não são raridade. Mas uma nova modalidade de crimes envolvendo os veículos está fazendo com que, apesar de continuarem estacionados do local colocado por seus donos, os carros não consigam mais sair do lugar. Trata-se do furto das baterias dos veículos, o que tem acontecido em série desde 2018 na região do Jardim Botânico
RECEBA notícias de Curitiba e região no seu Whatsapp
Vítima de uma tentativa de furto em dezembro do ano passado, a jornalista Tatiana Duarte acabou tendo a bateria levada de vez na madrugada de 1.º de abril. “Eu tinha comprado a bateria por R$ 270 em novembro de 2018, então ela estava nova.”, explica Tatiana, que havia terminado de pagar o valor parcelado em fevereiro. Segundo a jornalista, os principais alvos dos furtos são os carros dos moradores do seu condomínio, que é formado por cinco prédios em uma das ruas de acessos à trincheira da Rua Chile, que corta a Avenida Comendador Franco e termina na Vila Torres.
Os cinco prédios não têm garagem interna e, por isso, os veículos ficam estacionados em vagas nas ruas do entorno. Em cada episódio de furto, baterias de três a cinco carros são levadas pela "gangue da bateria". “Em dezembro, eles quebraram parte da grade frontal do meu carro para abrir o capô, mas não conseguiram pegar a bateria. Agora completaram o serviço e estragaram a grade de vez”, relata a moradora da região, que teve um prejuízo total de R$ 500.
Leia também: Gansos “avisam” sobre a presença de estranhos e são xodós da vizinhança em Curitiba
Já no caso do caminhoneiro Allan José Benites, que também mora nos prédios do Jardim Botânico, não ocorreu apenas uma vez. Foram quatro baterias roubadas de seu caminhão que fica estacionado nas redondezas, em 2018. Por se tratar de um equipamento maior, próprio para caminhões, o prejuízo do proprietário do veículo foi ainda maior. Ele havia pago cerca de R$ 850 por bateria, ou seja, a perda foi de R$ 3,4 mil. “Só parou de acontecer depois que eu gastei mais de R$ 3 mil comprando um alarme específico para a bateria”, lamenta.
De acordo com Iolita de Souza Sarmento, síndica de um dos prédios do condomínio, além das baterias também já foram furtadas lâmpadas do portão de entrada. “É sempre esse tipo de item que pode ser removido que eles conseguem levar. Mas a questão das baterias é a pior”, avalia. Iolita conseguiu chegar a ver a ação de alguns dos criminosos nas imagens das câmeras de segurança, mas ela explica que eles se vestem de maneira discreta, com um boné e uma mochila grande nas costas, então não seriam facilmente identificáveis.
Na avaliação da síndica, a situação gera uma insegurança muito grande em todos os moradores, e piorou especialmente depois que tiveram que dispensaram o vigia noturno que fazia a ronda na região, no fim do ano passado. “Os moradores não estavam mais conseguindo pagar o valor do serviço”, lamenta.
Além disso, a maioria dos condôminos também não conseguiria pagar uma mensalidade em estacionamentos próximos, que custa em torno de R$ 130. Mesmo assim, de acordo com José Tadeu Ancoski, administrador de um estacionamento próximo ao local dos furtos, desde julho do ano passado a procura por vagas aumentou muito. “Em julho eu tinha 12 vagas para mensalistas, agora só sobraram duas, que logo devem acabar”, afirma o funcionário.
De acordo Ancoski, os crimes causam indignação também pelo valor pelo qual as baterias são repassadas. “Um vendedor de baterias que eu conheço disse que já tentaram oferecer uma roubada para ele por R$ 20. O dono do carro, enquanto isso, gasta pelo menos R$ 300 para substituí-la”, comenta. O funcionário acrescenta que a região sempre foi perigosa, especialmente após a inauguração da trincheira da Chile, em 2012, mas agora o medo tem sido constante.
Conforme o delegado Marcelo Magalhães, titular da Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) de Curitiba, furtos de baterias de veículos não são comuns. “É mais comum que levem o carro todo ou que apenas mexam na bateria para desativar o alarme, porque o valor de mercado de uma bateria usada é muito pequeno”, explica o responsável pela delegacia. Ainda segundo Magalhães, mesmo agora não há registros de um grande volume desse tipo de ação, e, portanto, não pode ser classificada como uma nova onda de furtos.
O delegado acrescenta que esse tipo de crime geralmente é feito por dependentes químicos, com o objetivo de conseguir dinheiro da forma mais fácil possível. “Mas para que a gente possa identificar uma onda de furtos o primeiro passo é a população fazer o Boletim de Ocorrência”, destaca Magalhães.
Deixe sua opinião