Existe hoje uma certeza para quem circula pelas ruas do Centro de Curitiba e bairros adjacentes: em algum momento você vai se deparar com uma bicicleta ou patinete na calçada. Aliás, não só na calçada, mas também nas ciclovias e ciclofaixas, sendo usados por alguém a caminho de casa, do trabalho ou simplesmente para se divertir. Disponibilizado no início do ano na cidade, o serviço de compartilhamento de bicicletas e patinetes parece ter caído no gosto dos curitibanos.
A iniciativa funciona há alguns anos em outros países e capitais brasileiras, mas somente em 2019 chegou ao Paraná. A primeira a aportar em Curitiba foi a Yellow, que desde janeiro disponibiliza bicicletas e patinetes elétricos no sistema dockless, ou seja, sem estações para retirada e devolução. Um mês depois, foi a vez da Grin, que passou a ofertar patinetes nos mesmos moldes, porém, com estações para retirada dos equipamentos. A perspectiva é de que o negócio se intensifique nos próximos meses, com a chegada de mais empresas do ramo.
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Procuradas pela reportagem, Yellow e Grin não forneceram números, mas se declararam “satisfeitas” com a adesão dos curitibanos à novidade e informaram que pretendem ampliar a oferta dos equipamentos. A Yellow chegou na cidade disponibilizando 400 bicicletas e 100 patinetes, distribuídos em um perímetro de 21 quilômetros quadrados, que inclui o centro e mais 12 bairros. Já a Grin começou com 200 patinetes, distribuídos por 70 pontos para retirada.
À primeira vista, a resposta da população ao serviço é motivo de comemoração. Com a superlotação de veículos nas ruas, a dificuldade do poder público em viabilizar novas soluções para o sistema viário e o transporte coletivo, o uso de outros modais é um fato positivo. Por outro lado, experiências anteriores de compartilhamento em alguns países servem de alerta para possíveis problemas.
O que é uma vantagem para os usuários, o fato de poder deixar a bicicleta em qualquer lugar, tornou-se uma grande dor de cabeça na China, por exemplo, onde o serviço começou a ser ofertado com sucesso em 2016. A grande quantidade de equipamentos danificados ou amontoados nas calçadas levou o país a criar os chamados “cemitérios de bicicletas”, com milhares delas empilhadas. Já em Seattle, nos Estados Unidos, foi criado um perfil no Twitter, Dockless Bike Fail (fracasso das bicicletas sem estação, na tradução livre), que reunia fotos de bicicletas atrapalhando os pedestres ou abandonadas em locais inusitados, como jardins, rios e até em cima de árvores.
Em Curitiba, pessoas foram detidas tentando roubar ou vandalizar bicicletas já nos primeiros dias de funcionamento. Também foram encontrados equipamentos com as rodas tortas ou dentro de um rio. Segundo o gerente de relações públicas da Yellow, Marcel Bely, a empresa conta com os “guardiões”, uma equipe que fiscaliza as operações nas ruas. “Além disso, a empresa conta com um relacionamento estreito com o poder público, discutindo a possibilidade de destinar vagas públicas de carros para o estacionamento de bicicletas e patinetes, uma solução que tende a favorecer ainda mais o serviço de compartilhamento de bikes e patinetes no Brasil”, acrescenta.
No caso dos patinetes da Grin, até o momento não há registro de ocorrências mais graves. “A devolução dos veículos nas estações é muito importante para viabilizar a prestação do serviço e manter a cidade organizada. Além disso, as patinetes Grin são monitoradas em tempo real e recolhidas todas as noites pela empresa, que conta com uma equipe local para realizar o processo de coleta, recarga e recolocação diária nas estações”, informou a empresa por meio da assessoria de comunicação.
Infraestrutura necessária
Professora do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Márcia Bernardinis acredita que adesão das pessoas às bicicletas e patinetes é positiva, demonstrando a busca da população por outras alternativas de transporte. Ela lembra, no entanto, que o município precisa estar preparado para receber essa novidade. “Hoje não existe uma infraestrutura interessante para os ciclistas se deslocarem. A malha cicloviária é desconexa e não existem ligações funcionais para o dia a dia. Imagine se todos resolvessem aderir à bicicleta? Os acidentes iriam aumentar porque não há uma estrutura que ofereça a segurança necessária”, afirma.
Em relação aos patinetes, há uma outra preocupação, visto que não é permitida sua circulação nas ruas. Os usuários podem circular em ciclofaixas e ciclovias, até o limite de 20 km/h e, se necessário, em calçadas, observando o limite de 6 km/h. “Para garantir o uso cuidadoso das patinetes, a startup restringe o serviço para maiores de 18 anos, sendo apenas uma pessoa por patinete por vez. É recomendado que os clientes façam uso de capacete e que mantenham sempre as duas mãos no guidão e os dois pés dentro da patinete”, diz a Grin.
Márcia acredita, porém, que a falta de uma regulamentação mais específica traz riscos aos usuários e ao sistema viário. “Inicialmente o patinete era para ser um brinquedo e, de repente, começou a ser usado como meio de locomoção. Mais uma vez, isso é positivo, mas é necessário ter uma infraestrutura segura, senão a falta de planejamento pode surtir efeito contrário”, observa
Período de testes
A prefeitura de Curitiba ainda não tem planos para regulamentação dos serviços de compartilhamento de bicicletas e patinetes. O município encara os primeiros meses de funcionamento do sistema como um “período de testes” para avaliar sua operação. Ao receber representantes da Yellow, em janeiro, o prefeito Rafael Greca comemorou a novidade e disse que ela vem ao encontro da revisão do Plano Cicloviário do município, que pretende integrar o transporte multimodal, conectando-o com a rede de ônibus.
A empresa reforça que a ideia é fazer com que as bicicletas e patinetes sejam um complemento ao transporte público, sendo usados não para percorrer longas distâncias, mas trechos de um ou dois quilômetros. “O propósito da Yellow é, a partir de uma condução barata e divertida, revolucionar o transporte por meio da disponibilização de alternativas de transporte, principalmente para as chamadas primeira e última milha das viagens urbanas”, diz Marcel Bely.
Saiba como funcionam os serviços de compartilhamento de bicicletas e patinetes disponíveis em Curitiba:
Yellow
As bicicletas estão disponíveis em um perímetro de 21 quilômetros quadrados que abrange os bairros Centro, Centro Cívico, Ahú, Cabral, Juvevê, Alto da Glória, Hugo Lange, Alto da XV, Batel, Seminário, Rebouças e Campina do Siqueira. A empresa também oferece patinetes elétricos, cuja operação está limitada ao bairro Alto da Glória, no horário das 7h às 21h. O preço para usar o bikesharing é de R$ 1 a cada 10 minutos, sem fracionar a tarifa. Para os patinetes, a tabela inicial prevê a cobrança de R$ 3 de desbloqueio e R$ 0,50 a cada minuto de uso. A locação é feita pelo aplicativo do serviço.
Grin
O serviço de compartilhamento também é oferecido por aplicativo, através do qual o usuário se cadastra, encontra e desbloqueia a patinete mais próxima. O app informa a localização das estações Grin, pontos da cidade nos quais é possível encontrar e estacionar as patinetes. O custo é de R$ 3 para o desbloqueio e o primeiro minuto de uso, mais R$ 0,50 por minuto adicional. Os dez primeiros minutos do primeiro passeio são gratuitos. O horário de funcionamento é das 7h às 22h. O aluguel também está disponível pelo aplicativo de entregas Rappi.
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