Uma das grandes mudanças no trânsito de Curitiba, o Binário Mateus Leme- Nilo Peçanha completou seis meses de funcionamento em 28 de maio. De lá para cá, o sistema gerou muitas polêmicas e dividiu opiniões quanto à mudança. É inegável, no entanto, que pelo menos seis dos problemas que vieram com a mudança ainda persistem.
Mesmo depois da mudança, a Superintendência Municipal de Trânsito (Setran) continua fazendo alterações nas duas vias, incluindo sinalização e outras demandas solicitadas. Quem mora ou trabalha por ali, no entanto, reclama que essas mudanças demoram a acontecer, e já deveriam ter sido planejadas para quando o binário começou a funcionar, em novembro de 2017.
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É importante lembrar, também, que as melhorias no trânsito dependem da população em mais um aspecto para além da atenção e respeito. Trata-se da colaboração com ligações para o número 156, da prefeitura, que recebe sugestões e críticas ao funcionamento da cidade. Quanto mais ligações sobre uma determinada questão, maior a probabilidade da gestão priorizar o tema.
Veja as reclamações da população:
Excesso de velocidade
Um dos primeiros problemas identificados logo após a inauguração do binário, o excesso de velocidade dos motoristas que circulam em ambas as ruas é algo que assusta os pedestres, os moradores e mesmo outros motoristas que respeitam a via. “Tem carros que passam aqui a mais de 100 km/h. Antes do binário isso não acontecia, eles reduziam porque tinha veículos vindo também na contramão”, conta Elaine Ramos, que há cinco anos tem um pet shop na Nilo Peçanha, entre o supermercado Condor e a sede da Celepar. A máxima permitida, enquanto isso, foi estabelecida em 50 km/h.
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Perto de escolas, faculdades e hospitais, a velocidade permitida é reduzida ainda mais: os veículos não podem ultrapassar os 30 ou 40 km/h, dependendo do trecho, o que muitas vezes também não é respeitado.
Na opinião da proprietária, deveriam ser instaladas travessias elevadas, que além de fazer os motoristas reduzirem a velocidade, ajudariam os pedestres a atravessar a rua. “Aqui é uma área com muitos pedestres, muitos comércios locais, escolas... Quem está caminhando deveria ter prioridade”, opina Elaine, que já viu um poste de energia elétrica ser batido pelo menos três vezes.
Fim de vagas de estacionamento
O fim das vagas de estacionamento da Nilo Peçanha foi um dos principais motivos para a diminuição de 80% do movimento de uma panificadora, cujo dono chegou a vender o ponto e tentar um novo local na Mateus Leme, em janeiro deste ano.
O mesmo acontece com Ivete Furlan, dona do Restaurante da Ivete, na Mateus Leme. “Muitos dos meus clientes vinham dos bairros, mas agora, como a rua virou sentido Centro, eu precisava de vagas de estacionamento, para que eles escolhessem ficar aqui”, explica. Segundo a proprietária, algumas vagas existem logo em frente ao seu estabelecimento, mas não demandam Estar. “Sem a necessidade do Estar, motoristas deixam o carro aqui o dia inteiro. Nunca tem vaga para possíveis clientes” , reclama a comerciante.
Radares insuficientes
Na rua Nilo Peçanha, na altura do cruzamento com a rua Orestes Beltrami, um radar que estava desativado não enganava a maior parte dos motoristas que passavam por ali: a parte de registro de imagem estava do lado correto da via, mas seus medidores continuam posicionados no mesmo local de quando a Nilo Peçanha tinha duas mãos, antes da inauguração do binário. A Setran não confirmou se o radar está funcionando.
Novos radares não foram instalados desde a mudança - já que também a velocidade máxima desceu de 60 km/h para 50 km/h. Para compensar a falta desses radares, a Setran está utilizando os modelos estáticos, que podem ser movidos de um local para outro, dependendo da demanda. Esses radares são colocados ou no período da manhã, durante a tarde ou à noite, mas não de forma contínua. Os aparelhos podem ser utilizados também nos três períodos, sem aviso prévio. Mas a medida não parece estar adiantando, já que a velocidade dos motoristas ainda é muito alta.
Pouca sinalização vertical
Alguns moradores da região consideram que o problema de alta velocidade, além de imprudência dos motoristas, se devem a falta de sinalização vertical indicando o limite da via. “As duas ruas parecem vias rápidas, os motoristas acabaram se acostumando com esse modelo com três faixas em Curitiba e não se dão conta de que aqui é diferente”, comenta Raiana Veiga, auxiliar administrativa, que pega ônibus todo dia na região.
De fato, apesar da Setran ter colocado placas indicando a mudança de sentido, são poucas as que mostram a velocidade máxima permitida, tanto na Mateus Leme quanto na Nilo Peçanha. A superintendência, no entanto, afirma estar seguindo as normas do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para distanciamento entre sinalizações verticais.
Superlotação de ônibus em pontos modificados
Alguns dos pontos de ônibus da Nilo Peçanha ficaram superlotados de passageiros com a implantação do binário. Isso acontece próximo do cruzamento com a rua Orestes Beltrami, no Bom Retiro, onde os moradores explicam que várias linhas estão usando o mesmo ponto, depois de terem seus trajetos modificados pelo binário. “O problema é que não tem espaço nem para todos os passageiros, nem para todos os veículos. Às vezes, alguns ônibus passam reto, porque já tem outro parado no ponto”, relata Márcia Lima, dona de uma banquinha de doces próximo da região.
Desvalorização do comércio da região
Além da falta de vagas de estacionamento, diversos comerciantes explicam que outros fatores do binário também atrapalham seus negócios. “Meus clientes vinham do bairro para deixar roupas pela manhã, e buscavam na volta, durante a noite. Agora, como a via é somente de ida, eu perdi mais da metade do faturamento”, lamenta Teresinha Zainer, de 63 anos, que há 30 mantém uma lavanderia na Mateus Leme.
Segundo Teresinha, seus clientes de anos passaram a deixar as roupas para lavar em outros estabelecimentos no caminho. Outro fator determinante é que a lavanderia fica virada para o sentido oposto dos carros.
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