Uma população de aproximadamente 79 mil habitantes, imigrantes de várias nacionalidades, bonde elétrico e um processo de modernização em curso. Essas são algumas características da Curitiba de 100 anos atrás. Tratam-se de fatos que marcaram a cidade em 1919, ano da publicação da primeira edição da Gazeta do Povo, e também outros que, ocorridos em anos anteriores, ainda influenciavam a rotina dos curitibanos.
FOTOS: Veja abaixo fotos de Curitiba em 1919 e em 2019
Naquele ano, o prefeito era João Antonio Xavier. Mas as ações aqui destacadas são de outro alcaide, Cândido de Abreu. Em 1919, a capital estava “de cara nova”. Abreu empreendeu grande reforma urbana durante sua administração, entre 1913 e 1916. O bonde movido por mulas foi substituído pelo elétrico, várias ruas foram abertas e outras, alargadas. Além dessas, houve a ampliação da iluminação pública e a prefeitura deu andamento às obras de pavimentação e de calçamento – as calçadas de Curitiba já davam o que falar no início do século passado. A construção e inauguração da primeira sede própria da prefeitura, o Paço Municipal, também ocorreu naquele quadriênio.
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Foram muitas as mudanças na paisagem urbana e no cotidiano da cidade. O novo Código de Posturas do Município de Curitiba foi aprovado pela Câmara Municipal e sancionado pelo prefeito Xavier em 1919. Entre outras medidas, trazia regulamentações sobre o trânsito, que deveriam ser seguidas por automóveis, carros de tração animal e outros veículos. Já havia uma preocupação expressa em relação ao excesso de velocidade e aos acidentes.
O documento também dividiu a cidade em três zonas e determinou quais eram as exigências para as construções em cada uma delas. A urbana correspondia ao Centro da capital; a suburbana era a área ao redor do Centro; já o rocio ficava entre o fim da segunda zona e os limites da cidade.
Um fato curioso era que, além das casas construídas na capital, havia 33 edificações de prédios em 1919.
População
Da composição da população faziam parte imigrantes de várias nacionalidades, principalmente alemães, italianos, poloneses, ucranianos e portugueses. Mas não eram apenas eles que residiam na capital. Nem sempre citados, os negros e pardos também estavam inseridos na sociedade curitibana daqueles tempos.
A Curitiba do fim do século 19 e início do 20 registrava um acelerado crescimento populacional. No ano de 1900, 49.755 pessoas viviam na capital. Passados 20 anos, já éramos 79.986, o que corresponde a um crescimento maior que 60%.
Nem sempre a relação com os imigrantes foi amistosa. Essa questão se agravava em épocas de conflitos. Em meados de julho de 1914, teve início a Primeira Guerra Mundial, que se estendeu até novembro de 1918. Há relatos de rixas na capital e até do fechamento de escolas alemãs.
Rua XV de Novembro
Quanto à iconografia, uma das imagens de 1919, do acervo da Casa da Memória, retratava a circulação do bonde pelos trilhos da Rua XV de Novembro. A via já era importante para o deslocamento dos curitibanos à época e, anos mais tarde, em 1972, tornou-se o primeiro calçadão do Brasil. O fechamento da via para carros foi feito em apenas um fim de semana, já que os comerciantes não concordavam com a mudança. Eles tinham o receio de perder a clientela.
Futebol
E nos campos de futebol curitibanos, o que se passava? O Coritiba completava a sua primeira década em 1919. Um grupo de imigrantes alemães se reuniu e fundou, em 1909, o Coritibano Foot Ball Club. Como já havia um clube na cidade com esse nome, os fundadores decidiram mudar para Coritiba.
Não havia disputa do Atletiba, o principal clássico da cidade, já que o Athletico nem existia. O Clube Atlético Paranaense surgiu da união do Internacional, idealizado por Joaquim Américo Guimarães, com o América, em 1924. O Rubro-Negro passou a se chamar Club Athletico Paranaense em 2018.
Ainda mais recente é o Paraná Clube. Mas os times que deram origem a ele foram criados nas primeiras décadas do século passado. De um lado, o Savóia (1914), que passou a se chamar Esporte Clube Brasil (1942), e mudou para Água Verde (1944). O clube deu origem ao Pinheiros (1971). Do outro, Britânia (1914), Palestra Itália (1921), e Ferroviário (1930) uniram-se para formar o Colorado (1971). Da fusão de Pinheiros e Colorado, em 1989, nasceu o Paraná.
Obras consultadas
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