O sumiço de um cachorro movimentou o terminal do Barreirinha domingo (15). Pitoko, um dos três vira-latas que vive no terminal e que perdeu a visão de um dos olhos anos atrás, se assustou com o barulho dos fogos de artifício da final da Copa do Mundo e entrou em um ônibus que estava parado para embarque. O coletivo — o ligeirinho da linha Barreirinha-Guadalupe — saiu instantes depois com o animal dentro. O passeio deixou todos os cuidadores preocupados, mas Pitoko pareceu não se importar: depois de passar a tarde andando pelas ruas do Centro de Curitiba, voltou para o terminal em um ônibus da mesma linha como se nada tivesse acontecido.
Neusa dos Santos, uma das protetoras que ajuda a cuidar dos cães comunitários do terminal do Barreirinha, contou que tudo começou com o soltar de fogos nos primeiros momentos da partida decisiva do Mundial da Rússia, entre França e Croácia. Assim como muitos cachorros, Pitoko entrou em desespero ao ouvir o barulho dos explosivos e correu em direção ao ônibus que aguardava o embarque de passageiros.
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Ninguém percebeu o embarque inesperado, exceto uma passageira que costuma passar pelo terminal todos os dias e que reconheceu Pitoko no ônibus. “Ela mandou uma mensagem para o segurança que trabalha no terminal e logo depois ele me avisou. Eu estava no shopping almoçando e entrei em desespero. Meu marido e eu paramos de comer, levamos nossos amigos para casa e voltamos para o Centro para começar as buscas”, conta Neusa.
Segundo ela, a passageira que reconheceu Pitoko viu quando o cachorro desceu do ônibus na estação-tubo do Círculo Militar, no Centro de Curitiba, e seguiu em direção a uma das lanchonetes da região. Foi lá que Neusa e o marido iniciaram a empreitada, sem muito sucesso. Até moradores de rua ganharam gorjetas do casal para ajudarem a encontrar o bicho. “Nós parecíamos dois zumbis procurando o Pitoko. Ele reconhece meu assovio, então eu andava assoviando pelas ruas. Não sei nem o que as pessoas estavam pensando. Passamos pela reitoria da UFPR, seguimos para o Alto da XV, voltamos para a Rui Barbosa e nada”, relembra a protetora.
O alívio só veio horas depois. Por volta das 17h40, logo depois de Neusa e o marido chegarem em casa, o guarda do terminal viu Pitoko descer tranquilamente de um ônibus da mesma linha em que ele havia entrado para se esconder dos fogos. De acordo com Neusa, ele estava “feliz e tranquilo”. “Eu corri para o terminal e quando ele me viu, veio correndo feliz me abraçar. No fim, a situação foi bem engraçada. Acho que ele só queria dar uma volta”, brinca a cuidadora.
Fogos
Agora tranquilizada, a voluntária ressalta que a história que acabou bem não poderia ter o mesmo fim - principalmente pela forma como tudo aconteceu.
O motivo de Pitoko ter entrado no ônibus já chegou à discussão na Câmara dos Vereadores de Curitiba. Em 2017, a vereadora Fabiane Rosa (PSDC) propôs projeto prevendo o fim de fogos com estampido em Curitiba. No texto, ela argumenta que os explosivos podem levar os animais a quadros de ansiedade, tremores, taquicardia, latido e choro excessivo e até mesmo à morte em casos extremos. Para dar mais coro à demanda, no fim do ano ativistas criaram um abaixo-assinado na internet para apoiar o projeto.
A proposta já passou pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação, Saúde, Bem-Estar Social e Esporte, Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública e Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Agora, aguarda análise pelo plenário.
Comunitários
Pitoko, de 4 anos, é criado no terminal do Barreirinha junto com Max e Zoinho. Assim como outros cães que vivem nos terminais da capital, eles recebem atendimento veterinário da prefeitura, mas são alimentados e supervisionados por voluntários. No começo deste ano, a Rede de Proteção Animal prometeu iniciar uma campanha de adoção dos cachorros que vivem nos terminais, já que não há consenso sobre a manutenção dos animais nestes espaços.
Na passado, até mesmo uma ação polêmica foi posta em prática, só que em um terminal da região metropolitana. Para afastar os cachorros do terminal de Fazenda Rio Grande, a empresa administradora instalou sirenes, alegando que os cachorros abandonados tem representado risco à segurança dos passageiros e dos funcionários.
Atualmente, Curitiba não sabe quantos cachorros e gatos de rua existem na cidade. Além de atrapalhar na criação de políticas públicas para os animais, a ausência desse dado prejudica também o planejamento de ações em prol da saúde humana. Isso porque, só nos últimos 30 anos, cerca de 75% das novas doenças humanas infecciosas são zoonoses, ou seja, transmitidas através dos animais.
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