![Cachorro embarca em ligeirinho, passeia pelo Centro e volta com o mesmo ônibus Pitoko não é o único cão comunitário que gosta de dar passeio nos ônibus da capital | Reprodução/Facebook](https://media.gazetadopovo.com.br/2018/07/993d89373b844d46e87abe2c794f0ad6-gpLarge.jpg)
O sumiço de um cachorro movimentou o terminal do Barreirinha domingo (15). Pitoko, um dos três vira-latas que vive no terminal e que perdeu a visão de um dos olhos anos atrás, se assustou com o barulho dos fogos de artifício da final da Copa do Mundo e entrou em um ônibus que estava parado para embarque. O coletivo — o ligeirinho da linha Barreirinha-Guadalupe — saiu instantes depois com o animal dentro. O passeio deixou todos os cuidadores preocupados, mas Pitoko pareceu não se importar: depois de passar a tarde andando pelas ruas do Centro de Curitiba, voltou para o terminal em um ônibus da mesma linha como se nada tivesse acontecido.
Neusa dos Santos, uma das protetoras que ajuda a cuidar dos cães comunitários do terminal do Barreirinha, contou que tudo começou com o soltar de fogos nos primeiros momentos da partida decisiva do Mundial da Rússia, entre França e Croácia. Assim como muitos cachorros, Pitoko entrou em desespero ao ouvir o barulho dos explosivos e correu em direção ao ônibus que aguardava o embarque de passageiros.
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Ninguém percebeu o embarque inesperado, exceto uma passageira que costuma passar pelo terminal todos os dias e que reconheceu Pitoko no ônibus. “Ela mandou uma mensagem para o segurança que trabalha no terminal e logo depois ele me avisou. Eu estava no shopping almoçando e entrei em desespero. Meu marido e eu paramos de comer, levamos nossos amigos para casa e voltamos para o Centro para começar as buscas”, conta Neusa.
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Segundo ela, a passageira que reconheceu Pitoko viu quando o cachorro desceu do ônibus na estação-tubo do Círculo Militar, no Centro de Curitiba, e seguiu em direção a uma das lanchonetes da região. Foi lá que Neusa e o marido iniciaram a empreitada, sem muito sucesso. Até moradores de rua ganharam gorjetas do casal para ajudarem a encontrar o bicho. “Nós parecíamos dois zumbis procurando o Pitoko. Ele reconhece meu assovio, então eu andava assoviando pelas ruas. Não sei nem o que as pessoas estavam pensando. Passamos pela reitoria da UFPR, seguimos para o Alto da XV, voltamos para a Rui Barbosa e nada”, relembra a protetora.
O alívio só veio horas depois. Por volta das 17h40, logo depois de Neusa e o marido chegarem em casa, o guarda do terminal viu Pitoko descer tranquilamente de um ônibus da mesma linha em que ele havia entrado para se esconder dos fogos. De acordo com Neusa, ele estava “feliz e tranquilo”. “Eu corri para o terminal e quando ele me viu, veio correndo feliz me abraçar. No fim, a situação foi bem engraçada. Acho que ele só queria dar uma volta”, brinca a cuidadora.
Fogos
Agora tranquilizada, a voluntária ressalta que a história que acabou bem não poderia ter o mesmo fim - principalmente pela forma como tudo aconteceu.
O motivo de Pitoko ter entrado no ônibus já chegou à discussão na Câmara dos Vereadores de Curitiba. Em 2017, a vereadora Fabiane Rosa (PSDC) propôs projeto prevendo o fim de fogos com estampido em Curitiba. No texto, ela argumenta que os explosivos podem levar os animais a quadros de ansiedade, tremores, taquicardia, latido e choro excessivo e até mesmo à morte em casos extremos. Para dar mais coro à demanda, no fim do ano ativistas criaram um abaixo-assinado na internet para apoiar o projeto.
A proposta já passou pela Comissão de Legislação, Justiça e Redação, Saúde, Bem-Estar Social e Esporte, Direitos Humanos, Defesa da Cidadania e Segurança Pública e Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Agora, aguarda análise pelo plenário.
Comunitários
Pitoko, de 4 anos, é criado no terminal do Barreirinha junto com Max e Zoinho. Assim como outros cães que vivem nos terminais da capital, eles recebem atendimento veterinário da prefeitura, mas são alimentados e supervisionados por voluntários. No começo deste ano, a Rede de Proteção Animal prometeu iniciar uma campanha de adoção dos cachorros que vivem nos terminais, já que não há consenso sobre a manutenção dos animais nestes espaços.
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Na passado, até mesmo uma ação polêmica foi posta em prática, só que em um terminal da região metropolitana. Para afastar os cachorros do terminal de Fazenda Rio Grande, a empresa administradora instalou sirenes, alegando que os cachorros abandonados tem representado risco à segurança dos passageiros e dos funcionários.
Atualmente, Curitiba não sabe quantos cachorros e gatos de rua existem na cidade. Além de atrapalhar na criação de políticas públicas para os animais, a ausência desse dado prejudica também o planejamento de ações em prol da saúde humana. Isso porque, só nos últimos 30 anos, cerca de 75% das novas doenças humanas infecciosas são zoonoses, ou seja, transmitidas através dos animais.
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