| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Uma campanha iniciada pela prefeitura de Curitiba tenta incentivar a adoção de cães e gatos resgatados em casos que envolvem maus-tratos, uma situação cada vez mais recorrente na capital. Espalhados em pontos de ônibus e outros locais da cidade, cartazes mostram alguns desses animais que estão à procura de um lar — uma espera que, em alguns casos, pode chegar quase a dois anos.

CARREGANDO :)

RECEBA notícias de Curitiba e região em seu WhatsApp

É exatamente isso o que ocorre com vários dos cães que estão no Centro de Referência de Animais em Risco (CRAR) da prefeitura. O espaço está atualmente em sua capacidade máxima, com cerca de 40 cachorros e 15 gatos que foram recolhidos e hoje estão disponíveis para adoção. O problema é que a procura por esses animais é baixa e alguns deles chegam a completar aniversário antes que alguém os leve para casa.

Publicidade
Velho vive no CRAR há 1,5 ano e já foi atacado por capivaras duas vezes
Formiga recebeu esse nome após dar à luz a filhotes em cima de um formigueiro
Willian chegou com pele em carne viva e hoje está 100% recuperado
Bernardo chegou agressivo e quase foi sacrificado por isso. Hoje, é dócil e tranquilo
Com quase 14 anos, Bob tem cara de cachorro de raça, mas a idade afasta adotantes
Julia quase foi adotada, mas família desistiu quando soube que ela era mestiça
Campana era cachorro de um morador de rua que se perdeu do dono e hoje vive no CRAR
Por ser um cão de porte médio, Fumaça não consegue encontrar um lar

Essa é a situação de Velho, o veterano do CRAR no momento. Entre idas e vindas, ele já está há um ano e meio procurando por um novo dono — e coleciona algumas histórias nesse período. Ele era um cachorro que vivia em um dos terminais de ônibus da cidade e que foi levado ao centro da prefeitura para fazer alguns exames. Após ser devolvido às ruas, foi atacado por capivaras duas vezes e passou a morar definitivamente no CRAR.

Só que, mesmo sendo um sobrevivente, ele não se encaixa no perfil de cão que a maioria das pessoas quer ao adotar. Idoso e de grande porte, ele representa boa parte dos cachorros abandonados que hoje vive no centro de referência. “A maioria das pessoas que vem aqui quer um cão de raça e que seja pequeno”, explica a veterinária Claudia Terzian, uma das responsáveis por cuidar dos moradores do CRAR. “Elas querem cães cada vez menores”.

Por causa disso, o que mais se vê nos vários canis são cachorros de porte médio e grande. Segundo Claudia, embora eles tenham perfil para serem cães de guarda, são poucas as pessoas que procuram o centro em busca desse tipo de animal. Com isso, Velho e tantos outros ficam lá por meses até que alguém os leve para casa.

Os filhotes são os que saem mais rápido — e, ainda assim, vários estão à espera de um dono| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

E essa superlotação afeta diretamente o atendimento dos técnicos do CRAR. Como entram mais animais do que saem, o espaço não tem mais capacidade para receber outros cães que também precisam de cuidados. “Mesmo que estejam em uma situação ruim, a gente não tem mais como recolher. A ideia é que aqui seja uma casa de passagem para esses animais, e não um depósito infinito”, desabafa a veterinária. Por isso, iniciativas como a campanha de adoção são formas de criar uma rotatividade no espaço.

Publicidade

Histórias de estimação

E não é só o Velho com seu duelo com as capivaras de Curitiba que coleciona histórias. Vários dos cães que vivem no CRAR foram resgatados em situações bem particulares — e alguns carregam em seus nomes parte desse passado.

Cães chegam a esperar quase até dois anos para serem adotados| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

A cadela Formiga, por exemplo, foi batizada desse jeito porque foi encontrada junto com seus filhotes em cima de um formigueiro. “Ela deu cria ali e, quando fomos buscá-los, estavam sendo picados inteiros pelos insetos”, relembra Claudia. Segundo a veterinária, a ninhada deve entrar em breve para adoção e encontrar um lar rapidamente, já que procura por filhotes é alta. Já Formiga pode não ter a mesma sorte. “Para quem vem aqui, ela já é considerada de porte médio e, por isso, pode ficar aqui por mais tempo”.

E quando o tamanho não é o problema, é a origem ou a condição do cachorro que se tornam empecilhos para a adoção. Pequeno e com cara de schnauzer, Bob tinha tudo para ter sido adotado. Contudo, o fato de ter quase 14 anos e alguns problemas de saúde faz com que possíveis adotantes não se interessem por ele. “Provavelmente ele já tenha sido abandonado porque ficou velho”, conta Claudia. “Já a Julia parece um lhasa apso e teve uma família que quase a adotou por isso. Só que, quando descobriram que ela era uma mestiça, foram embora sem levá-la”.

Bernardo quase foi sacrificado por ser considerado agressivo, mas adestramento mudou isso| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Publicidade

Outro idoso que há bastante tempo vive no CRAR é o Bernardo — chamado dessa forma por sua semelhança com um São Bernardo. A veterinária do centro de referência conta que ele chegou já com certa idade e com um comportamento bastante agressivo, rosnando muito para todo mundo. “Era um caso de eutanásia por agressividade”, relembra. No lugar dessa medida, porém, foi feito um trabalho de adestramento e ele logo se tornou um animal bastante dócil.

E talvez o caso mais impactante do CRAR seja de Willian, um cão que há três meses foi resgatado em situações extremas de maus-tratos. “Ele vivia na Vila Corbélia e estava com a pele muito feia, com sarna e até algumas partes em carne viva”, recorda Claudia. Assim, o animal passou por um tratamento intensivo para poder se recuperar. E, ainda que ainda falte pelo em muitas partes do corpo, a veterinária garante que ele já está 100% novamente. “Ele virou um cão super dócil e brincalhão. Até hoje, o antigo dono vem aqui brincar e correr com ele às vezes”.

Sete vidas esperando

Além de cães, o CRAR também possui dezenas de gatos disponíveis para adoção. Todos eles foram resgatados de acumuladores, pessoas que tinham muitos animais em casa e que não tinham condições de mantê-los dentro das condições necessárias. A diferença, contudo, é que os felinos contam com uma complicação a mais na hora de encontrar um novo lar: o temperamento.

Jonathan Campos/Gazeta do Povo

“Gatos são mais ariscos, principalmente aqueles que vêm de acumuladores, então a adaptação nem sempre é fácil. Tem que ter paciência e é muito raro aparecer alguém disposta a tentar assim”, conta Claudia. Ela destaca que muitos casais com crianças vão até o centro de referência procurar um gatinho para a família, mas que eles não levam justamente por causa desse perfil.

Publicidade

Além disso, ela aponta que os gatos pretos são ainda mais difíceis de serem adotados — tanto que, atualmente, todos os 15 felinos que estão no espaço são pretos. Sem saber se por coincidência ou superstição, o fato é que alguns deles estão no CRAR há mais de um ano.

Como adotar

Os interessados em adotar um cão ou gato podem conhecê-los diretamente no Centro de Referência de Animais em Risco na Rua Lodovico Kaminski, 1381, no bairro CIC. Todos os animais são vacinados e castrados antes de serem entregues à nova família.