O carro em que o empresário Edison Brittes Jr levou o jogador Daniel ao matagal onde foi morto a facadas, um Hyundai Veloster, seria de um policial civil. O veículo está em nome de uma empresa de materiais de construção de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, porém a posse seria deste policial que responde a três processos: assassinato, extorsão mediante sequestro e organização criminosa. Ele está afastado de suas atividades desde junho de 2017.
A informação, publicada no domingo (18) em reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, foi anexada ao inquérito paralelo ao assassinato aberto a pedido do Ministério Público do Paraná (MPPR), que quer saber se o assassino confesso tem ligação com o crime organizado.
No último dia 9, policiais da Delegacia de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, apreenderam uma moto de luxo na casa de Edison. A moto, modelo Honda Cbr 1000RR Fireblade, que custa aproximadamente R$ 60 mil, está no nome de um traficante preso. Edison costumava postar imagens da moto nas mídias sociais, quando participava de encontros de motociclistas.
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Além disso, o chip do celular com o qual o assassino chegou a ligar para consolar a família e amigos de Daniel está no nome de um homem assassinado em 2016. Segundo o MPPR, o dono do chip teria ligações com receptação de carros roubados e foi executado. Edison também responde outros dois processos antes do caso Daniel: por receptação de carro roubado e por porte ilegal de arma.
“A Promotoria de Justiça requisitou à polícia a abertura de um inquérito específico que nada tem a ver com o homicídio para apurar eventual atuação de Edison Brittes em organização criminosa”, ressalta o promotor João Milton Salles ao Fantástico.
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Para o promotor, há indícios de que Edison tem ligações com criminosos. “O Ministério Público entende que deve ser instaurado procedimento para apurar eventual existência de uma quadrilha ligada a este tipo de criminalidade: receptação de bens ou roubos”, prossegue Salles.
Sobre o chip, o advogado Cláudio Dalledone, que defende Edison, afirma que o cliente não o informou que estaria no nome de um homem assassinado. Já sobre o carro, o advogado afirma que assim como a moto a documentação não foi transferida para o nome do empresário, o que, segundo o defensor, estava em vias de ser regularizado. “O Edison não tem qualquer envolvimento com traficante ou narcotráfico”, ressalta Dalledone.
O advogado do policial, Leonardo Buchmann, diz também que o documento só não foi transferido para o nome de Edison por uma questão formal. “Ele [policial] vendeu esse veículo para o Edison Brittes e não passou o documento por questão formal, apenas documental, que com certeza seria feito dentro do prazo que eles jugassem adequado”, enfatiza.
Depoimento
O delegado Amadeu Trevisan, responsável pelo inquérito da morte de Daniel, vai ouvir na manhã desta segunda-feira (19) o sétimo preso por suspeita de envolvimento no assassinato. Eduardo Purkote Chiuratto, 18 anos, detido quinta-feira (15), teria participado do espancamento do atleta na casa de Edison e quebrado o celular do jogador.
Na primeira versão do caso, Edison tentou preservar Purkote, dizendo que ele mesmo havia arrombado a porta ao ouvir gritos de socorro da esposa Cristiana Brittes, 35 anos, que afirma que Daniel teria tentado estuprá-la - hipótese praticamente descartada pela polícia. Na sequência, Edison mudou a versão, dizendo que quem arrombou a porta foi Purkote, que é enteado do ex-vice-prefeito de São José dos Pinhais, Jairo Melo.
Além de Edison, Cristiana e Purkote também estão presos Allana Brittes (18 anos e filha do casal), Eduardo Henrique da Silva (19 anos), Ygor King (1) e David William Silva (19).
O caso
O corpo de Daniel Corrêa Freitas foi encontrado em um matagal em São José dos Pinhais no dia 27 de outubro com sinais de tortura: o pescoço estava quase degolado e o pênis decepado. Daniel veio a Curitiba participar da festa de aniversário de Allana Brittes, filha de Edilson Brittes Jr, no dia 26 de outubro. Após participar da comemoração em uma casa noturna no bairro Batel, o jogador foi para outra festa na casa de Edison, dono de um mercado em São José dos Pinhais.
À polícia, o empresário admitiu ter matado o jogador após tê-lo flagrado tentando estuprar sua esposa - versão questionada pela polícia. O jogador chegou a enviar via Whatsapp a um amigo imagens dele ao lado da esposa de Edison na cama do casal, o que teria levado o empresário a cometer o assassinato. Nas fotos, Cristiana dorme enquanto o jogador faz caretas.
Daniel foi espancado na casa da família e levado para um matagal no porta-malas do carro de Edison. De acordo com o empresário, ele decidiu matar o atleta com uma faca que tinha no carro. Entretanto, Eduardo afirmou em seu depoimento nesta segunda-feira (12) que viu Edison pegar a faca na cozinha da residência.
Antes de ser preso, o empresário chegou a ligar para a família e para amigos de Daniel a fim de prestar solidariedade. Allana também trocou mensagens com uma parente de Daniel afirmando que não houve briga na casa da família e que o jogador foi embora sozinho na noite do assassinato.
Daniel teve passagem apagada pelo Coritiba em 2017, prejudicada por lesões. Natural da cidade de Juiz de Fora (MG), teve também passagens por Cruzeiro, Botafogo, São Paulo, Ponte Preta e estava atualmente no São Bento de Sorocaba (SP). O corpo do jogador foi enterrado no dia 31 de outubro na cidade de Conselheiro Lafaiete, também em Minas Gerais.