Para driblar os prejuízos ocasionados em casos de furtos e roubos, os curitibanos estão adotando a estratégia de comprar celulares extras, mais baratos e simples, para entregar aos ladrões. A situação chega a fazer uma diferença notável na rotina de vendas em lojas de celulares e comerciantes têm percebido um aumento na saída de modelos básicos, que custam cerca de R$ 100, especialmente para essa finalidade.
“Há dois anos eu vendia mais ou menos 10 celulares simples, desses que não são smartphones, por semana. Agora tenho vendido dois por dia”, explica Marcos Lopes, funcionário de uma loja de eletrônicos no Centro de Curitiba. Segundo o vendedor, alguns desses modelos são adquiridos por idosos, que não sabem lidar com tecnologia, mas a maioria sai para pessoas que não querem chamar atenção usando aparelhos mais caros em ônibus e nas ruas da cidade.
De acordo com Lopes, a prática tem se tornado cada vez mais comum: “Chegamos a mudar a logística e passamos a pedir mais desses celulares simples para atender à demanda”. Segundo o funcionário, os modelos acabam sendo usados só para fazer ligações, ouvir música e mandar mensagens SMS. “Os clientes me contam que o celular mais novo, moderno e caro, enquanto isso, fica guardado na bolsa”, conta.
É o caso do estudante Pedro Fernandes, de 19 anos, que há um mês anda pelas ruas de Curitiba com dois celulares. “Eu estou sempre ouvindo música, e o fone de ouvido acaba chamando a atenção de ladrões, então peguei um celular simples só para isso, que levo no bolso. O meu celular mais caro fica bem guardado na mochila”, esclarece Fernandes.
O vendedor Erick Milão, de 18 anos, também decidiu adquirir um modelo mais antigo quando viu que muitos amigos e conhecidos estavam sendo assaltados. “Nunca aconteceu comigo, mas é por precaução.Claro que é ruim sair com dois celulares, mas é melhor do que perder o que saiu caro para comprar”, relata.
O proprietário de outra loja de eletrônicos do Centro, Oziel Silva, também percebe a demanda. Quem mais costuma comprar o celular extra, segundo Silva, são os jovens. “Os mais jovens gostam de tecnologia e ter um smartphone bom faz parte da cultura deles”. Ao mesmo tempo, a necessidade de ter dois aparelhos “é um problema enfrentado pela classe trabalhadora, que precisa pegar ônibus, andar em locais perigosos, e muitas vezes comprou o smartphone parcelado e não pode comprar outro do dia para a noite”, acrescenta.
Para o comerciante, apesar de alavancar as vendas dos celulares, a situação é deplorável. “Tenho vendido vários desses celulares que não são smartphones, inclusive para funcionários e amigos. A situação de segurança da cidade está muito complicada, eu mesmo tenho medo de andar aqui pelo Centro, é assalto o tempo todo”, reclama o proprietário.
Colaborou: Cecília Tümler