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Rua XV de Novembro: calçadão mais famoso de Curitiba recebe milhares de pessoas diariamente | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Rua XV de Novembro: calçadão mais famoso de Curitiba recebe milhares de pessoas diariamente| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Quem passa pelo calçadão da Rua XV de Novembro, no Centro de Curitiba, sabe que percorrer o trecho sem ser interrompido pode não ser uma tarefa simples. Isso porque, todos os dias, dezenas de panfleteiros, vendedores e voluntários se posicionam estrategicamente para abordar a população no local.

Confira cinco situações de abordagem comuns na Rua XV de Novembro

Galeria: Veja fotos do calçadão da Rua XV de Novembro

O engenheiro civil Rodrigo Dias, por exemplo, tem passado pelo calçadão todos os dias pelos últimos três anos e conta ter notado aumento na quantidade de vendedores e divulgadores. “Acho que com a crise do país os estabelecimentos passaram a adotar estratégias mais intensas pra chegar até as pessoas. Fora aqueles que usam a XV pra conseguir público para responder pesquisas e afins”, analisa o engenheiro.

Apesar da necessidade de estratégias diversificadas em tempo de crise ser compreensível, as táticas, muitas vezes, incomodam os transeuntes. A auxiliar de cozinha Simone Gomes explica que entende a forma de trabalho, mas que não gosta quando há insistência para o contato. “Principalmente quando estamos com pressa, é chato. Uma vez um homem que vendia poemas chegou a me xingar porque eu não quis falar com ele”, relata.

Não é o caso de quem passa pelo calçadão esporadicamente, como o turista Hermínio Meorin Neto. Aposentado, ele veio visitar o filho em Curitiba e conta achar curiosa a aglomeração de vendedores e panfleteiros no calçadão. “Não me incomoda nem um pouco. Eu acho que o Centro já é um bairro barulhento e movimentado e não faz tanta diferença. Agora, não deixa de ser surpreendente a capacidade desses trabalhadores de ficarem o dia inteiro em pé e falando”, comenta.

Veja cinco situações de abordagem comuns na Rua XV de Novembro:

1) A persistência dos panfleteiros

A divulgadora Cleusa da Silva trabalha há quatro anos entregando panfletos na Rua XV de Novembro. De segunda a sábado, costuma passar adiante cerca de mil panfletos por dia. O objetivo final de Cleusa, que é contratada por uma loja de cosméticos, é fazer com que quem caminha pelo calçadão vá até a loja - muitas vezes acompanhado da própria promotora. O trabalho acontece até mesmo quando há chuva, debaixo de marquises ou, quando é apenas garoa, sob o guarda-chuva.

Panfleteiros entregam materiais para milhares de pessoas diariamente na Rua XVAniele Nascimento/Gazeta do Povo

2) Serviços de óticas

“Vai uma limpezinha gratuita?” é um dos bordões mais ouvidos por quem na caminha nos arredores da Rua XV. Posicionados próximos a óticas, funcionários desses estabelecimentos podem ser encontrados oferecendo um serviço de limpeza de óculos ou testes de visão para quem passa. O intuito desse tipo de promoção é fazer com que o interessado entre na loja e conheça os produtos. A tarefa de conseguir clientes, porém, é árdua. “Tem dias que a gente recebe mil nãos. Mas o melhor que podemos fazer é ser educado, perguntar se está tudo bem, dar bom dia”, diz Robson Fernando Silva, que trabalha há um ano oferecendo o serviço. “Em dias bons, eu consigo umas 30 pessoas para fazer a limpeza de óculos. Algumas delas acabam mesmo comprando na loja”, revela.

Voluntárias se fantasiam de Emília para vender bonecasAniele Nascimento/Gazeta do Povo

3) Bonecas vendendo bonecas

Fantasiadas de boneca Emília, personagem do Sítio do Picapau Amarelo, com perucas coloridas e maquiagem de glitter, vendedoras de boneca de pano costumam chamar atenção principalmente das crianças que passam pela XV de Novembro. “Às vezes as crianças choram, abrem um berreiro para levar a boneca. Quando isso acontece e os pais não tem dinheiro, acabamos deixando eles levarem de graça, mesmo”, conta a voluntária Gisele Alves Lopes, que trabalha há sete anos nas ruas da cidade. As “Emílias” são voluntárias da Companhia do Sorriso, entidade que existe há 14 anos para ajudar crianças carentes da capital.

Segundo Gisele, o melhor dia para a venda das bonecas, feitas manualmente, é o sábado. “Esse é o dia em que muita gente tá passeando, e além de tudo é quando tem mais turistas”, esclarece a voluntária. Para chegar nos possíveis clientes, a tática de Gisele é elogiar. Assim, conseguem vender, em média, cinco bonecas por período de trabalho, o que gera um total de R$ 50.

Vendedores de alfajor são alguns dos ambulantes mais conhecidos do Centro Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

4) Alfajores em toda parte

Simpáticos, vestindo camisetas cinza e com um isopor debaixo do braço, os vendedores de alfajor são alguns dos ambulantes mais conhecidos do Centro da cidade. Quem já foi abordado pelos insistentes comerciantes, sabe que a venda é uma forma de arrecadação para o trabalho de uma entidade. O doce, conforme os vendedores, banca o trabalho de reabilitação de dependentes químicos em uma clínica evangélica de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Monitor de três vendedores de alfajor no Centro, Fabiano Nogueira conta que muitas pessoas abordadas são mal educadas e chegam a xingar os vendedores. “Mas essa é a nossa forma de sustento e temos que seguir em frente”, pondera Nogueira. O grupo não tem autorização da prefeitura para vender os produtos exatamente na Rua XV, por isso geralmente são encontrados nos calçadões perpendiculares a essa via, como na Rua Monsenhor Celso.

Propaganda de restaurantes é feita com cartazes no meio da Rua XVAniele Nascimento/Gazeta do Povo

5) Buffet livre, saladas, carnes e massas

Quando se trata da divulgação de restaurantes do Centro, apenas as placas dos estabelecimentos não dão conta do recado. São tantas opções - e muitas delas escondidas em segundos andares de prédios da rua XV - que os restaurantes apelam para a divulgação por meio de ambulantes. Muitos deles entregam panfletos vestindo objetos chamativos ou segurando placas. Everton Andrioli, garçom em uma unidade de uma rede de restaurantes populares da capital, explica que às vezes precisa descer para a rua e trabalhar de divulgador, junto de outro funcionário contratado especificamente para a função.

“O meu colega ali já tem a voz preparada para isso, eu nem tanto. Mas quando o movimento está fraco, meu patrão pede pra eu descer e segurar uma placa também. E ajuda”, conta Andrioli.

Andando toda a extensão da parte calçada da XV, a reportagem encontrou seis estabelecimentos usando a tática de porta-vozes. Muitos portam microfones ou usam técnicas peculiares de impostar a voz, oferecendo almoços em buffet livre e explicando os tipos de saladas, carnes e massas do estabelecimento.

Colaborou: Cecília Tümler

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