Salas esvaziadas em dias de chuva, janelas corroídas incapazes de segurar vidros e a presença constante de ratos ficaram no passado no Colégio Romário Martins, em Piraquara, região metropolitana de Curitiba , que respira vida nova desde que professores, funcionários e a comunidade, incluindo pais e alunos, decidiram se unir para reformar o prédio, inaugurado há 65 anos.
A nova cara da escola, a maior da cidade, ganhou o último grande retoque em setembro, quando um grupo de detentos de um projeto que percorre escolas do estado para fazer serviços de manutenção e conservação terminou de pintar a parte interna do prédio. Ano passado, em julho, o grupo já havia pintado a fachada da escola.
E todo o trabalho já deu retorno: desde que as reformas começaram, em 2013, a busca por matrículas na instituição aumentou, principalmente entre 2015 e este ano. De cerca de 1,3 mil alunos, o colégio tem agora 1,7 mil estudantes matriculados.
Vídeo - Veja vídeo de como a escola era antes da reforma
Fotos - imagens do Colégio Romário Martins reformado
“Depois de toda essa mudança, aumentou significativamente a procura por matrículas. Chegamos ao ponto de ter que negar vaga para todo mundo que vem aqui agora”, afirma a diretora Claudiovane Parralego de Aguiar. Ela e outros dois professores já vinham se dedicando a uma série de pequenos reparos enquanto estavam apenas lecionando. Após chegar à direção em 2016, a equipe achou que era hora de investir mais tempo nos reparos, já que as condições precárias atrapalhavam os trabalhos em sala de aula.
Dias de chuva eram os piores, relembra o diretor auxiliar João Lucas Esser Borocz. “Quando chovia, escorria água pela escada, por cima da iluminação. Chovia dentro das salas e não dava pra dar aula”, recordaa. “Por isso, uma das primeiras coisas que a gente fez foi a reforma do telhado. Fomos eu e um outro professor, já que a gente não tinha dinheiro para pagar mão de obra. Depois, para as outras coisas, a comunidade foi muito importante em tudo. Tivemos que mobilizar muita gente. Veio filho, cunhado, pai de aluno e os próprios alunos”, conta.
Projeto insere presos nos reparos
O arremate na nova escola – que ainda tem mais alguns projetos de reforma – veio com a pintura interna e externa recém finalizada por um grupo de detentos do Projeto Mãos Amigas, que dá chances a presos do regime semiaberto da Colônia Penal Agroindustrial. Hoje, são 32 detentos que integram o projeto na região metropolitana de Curitiba.
“Eles são escolhidos com base no crime que cometeram, como se comportam na carceragem e passam por um treinamento. Eles têm uma série de regras para cumprir quando estão nesse trabalho fora da colônia agrícola, como não falar com ninguém”, explica o coordenador do projeto, Nabor Bettega Junior.
A principal ideia é trabalhar a ressocialização destes presos, que, a cada dia no programa, veem cair em três dias a pena total estipulada pela Justiça. Além disso, eles recebem, mensalmente, três quartos do salário mínimo , dos quais 20% fica em uma poupança para que ele possa retirar a quantia quando conquistar a liberdade, e 80% é vai para a família.
“Outra grande vantagem é a economia para o estado. Como esse preso vai ficar menos tempo no sistema, a gente calcula que desde que o programa começou, há cinco anos, já foi uma economia de R$ 3 milhões para o governo. Sem contar que os serviços que eles fazem saem de 50% a 70% mais barato que o de uma construtora”, analisa o coordenador.
O programa Mãos Amigas foi criado em 2012 em uma parceria entre as secretarias estaduais da Educação e da Segurança Pública e Administração Penitenciária, por meio do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen), com o apoio do ParanáEducação.
Arrecadação
Problema no telhado também foi o que deixou fechado por oito anos a quadra coberta da escola. A cobertura se encheu de buracos que foram tomados por ninhos de pombos, que sujavam o espaço com suas fezes. Hoje, a quadra recebeu os reparos, pintura nova e é local de treino dos times do colégio. Em outra parte da escola, a dor de cabeça vinha das janelas. Tomadas pela ferrugem, já não conseguiam mais sustentar os vidros. Foram R$ 25 mil para mudar as estruturas.
Desde o ano passado, foram aproximadamente R$ 200 mil em todas as reformas, parte vinda de doação e muito dos recursos próprios da escola, que passou a se organizar com festas juninas e pasteladas, já que os R$ 16 mil por ano do estado para reformas e consertos não davam conta.
O dinheiro da cantina – cerca de R$ 9 mil por mês – também ajuda a aliviar o caixa dos reparos. “Para fazer alguma coisa fora da verba, a gente tem que correr, ligar, tomar chá de cadeira na Secretaria de Educação. Eles ajudam no que podem, mas a grande ajuda mesmo vem da APMF [Associação de Pais, Mestres e Funcionários]. Os pais sempre decidem tudo sobre os investimentos aqui na escola”, comenta Claudionave, que antes de ir para a direção dava aulas de matemática para as turmas.
Os alunos, por sua vez, acham que as mudanças marcam um antes e depois na história do Colégio Romário Martins. “Antes a gente achava que esse era um colégio desacreditado, como esses colégios públicos que geralmente são retratados pela mídia. Agora, não. Dá vontade de levantar cedo para vir para cá e os alunos que estudam à noite também não vêm mais tão cansados de vir do trabalho. É motivação”, enfatiza o estudante Gabriel de Barros Cardoso, 16 anos, presidente do Grêmio Estudantil do Romário Martins.
Escada da escola virava cachoeira em dias de chuva