Cerca de 5 mil funcionários do sistema de transporte coletivo de Curitiba descobriram, quando foram sacar o salário, que apenas a metade do valor havia sido depositado. A situação atinge motoristas e cobradores de cinco das dez empresas que atuam na cidade, mas as empresas, por meio da entidade representativa, se comprometeram a pagar o restante ainda em abril: algumas em parcela única e outras em duas vezes. A justificativa foi a redução no repasse mensal feito pela Urbs, em função da queda na circulação de passageiros.
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O Sindimoc, que representa os trabalhadores, declara que só ficou sabendo da medida na segunda-feira (6), quando os salários não foram pagos integralmente. Não teria acontecido nenhum acordo prévio ou negociação para parcelamento, pegando de surpresa os funcionários. O sindicato informou que já esperava que algo semelhante pudesse acontecer, diante da queda de arrecadação, embora empresas e poder público tivessem se comprometido a manter a remuneração. De acordo com a Urbs, a redução chega a 80% – foram 164.842 passageiros no sistema na última quinta-feira (2) e 756.167 em 10 de março.
As empresas que não conseguiram pagar integralmente os salários foram, segundo o Sindimoc: Gloria, CCD, São José Filial, Tamandaré e Viação Sorriso. O Ministério Público do Trabalho (MPT) foi acionado para acompanhar o caso. A preocupação está voltada também para o cenário futuro, com a perspectiva que o número de usuários do sistema continue baixo. Segundo o Sindimoc, não há intenção de fazer greve e também não houve qualquer menção sobre demissões.
A Urbs também informa que apenas dois dias antes do pagamento de salários é que foi informada, por meio de um documento em que as empresas pediam auxílio, que poderia haver atraso de salário. Por meio da assessoria de imprensa, a entidade responsável pela gestão do transporte coletivo em Curitiba informou que está estudando a situação para analisar o que será feito, inclusive com a intercedência junto aos governos estadual e federal. A Urbs informa ainda que o repasse ficou apenas 20% da média mensal – o que representou R$ 14 milhões a menos.
O Setransp, entidade que representa as empresas do transporte coletivo, informou que está tendo custos altos, com a frota circulando boa parte do tempo vazia, e que a diminuição na receita impactou diretamente a folha de pagamento, que equivale a mais da metade da despesa. O sindicato informa também que não houve tempo de avisar os empregados com mais antecedência, uma vez que havia a expectativa de alguma resposta positiva, no sentido de auxílio financeiro, por meio do poder público.
Por meio do Setransp, as empresas informaram que a prioridade é manter o serviço, que é considerado essencial, inclusive para o transporte de categorias como profissionais de saúde e trabalhadores de supermercados, e também assegurar os empregos. Ajustes na quantidade de veículos em circulação estão sendo pedidos diariamente, uma vez que que embora ainda haja concentração em horários de pico, nos intervalos muito combustível é queimado sem demanda proporcional. Atualmente, a frota está rodando nos dias de semana com escala de sábado, mas com reforço nos horários de pico, e aos finais de semana com escala de domingo.
As empresas também se comprometeram a pagar o restante dos salários ainda em abril e destacaram que o vale-alimentação foi repassado integralmente. Também se comprometeram a tentar tirar do contato direto com o passageiro os funcionários de grupos de risco, como maiores de 60 anos, que estariam sendo encaixados em férias. A expectativa das empresas é de que algum tipo de suporte financeiro seja oferecido. Um exemplo seria o que aconteceu em Belo Horizonte, em que a prefeitura mandou reduzir a frota e se comprometeu a pagar uma diferença, uma espécie de subsídio. O setor ainda analisa a adesão à medida provisória (MP) editada pelo governo federal que estabelece a redução de salário, compensada pelo poder público, mediante a garantia de empregos.
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