De prático, o caso da menina Valentina Vieira apenas reforçou as patrulhas da Guarda Municipal dos cemitérios municipais.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

A identificação de um carro modelo Chevrolet Astra na cor verde oliva segue sendo o principal desafio na investigação do corpo de um bebê levado do Cemitério do Boqueirão, em Curitiba, em junho. Foi com esse veículo, cujas imagens foram divulgadas pela Polícia Civil, que dois homens deixaram o cemitério com o caixão e o corpo da pequena Valentina de Fátima Vieira, de apenas 1 ano, enterrado menos de 24 horas antes. A menina morreu dia 20 de junho, quando retornou em estado grave à UPA do Boqueirão após ser atendida e enviada para casa no dia anterior com sintomas de gripe. O atendimento médico também gera questionamento por parte da família.

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Quase seis meses após o crime, a Polícia Civil tem poucos vestígios do crime, o que remete o caso à morte da menina Rachel Genofre, encontrada morta dentro de uma bolsa na rodoviária de Curitiba há dez anos e até hoje sem solução. Das raras pistas, a investigação do caso Valentina se apega a um único indício: sem chegar ao veículo, as chances de solução minguam a cada dia que passa.

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“Quanto mais tempo passa, mais difícil fica”, admite o delegado responsável pelo caso, Cássio Conceição, da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Ele confirma a existência de uma testemunha que viu dois homens – brancos e de meia idade – deixarem o Cemitério do Boqueirão com um caixão pequeno e branco no mesmo dia em que o corpo de Valentina desapareceu.

A ocorrência foi no dia 22 de junho, por volta das 9h. A testemunha-chave fazia reparos em um túmulo e viu o momento em que a dupla seguiu com o caixão em direção a um dos portões da Rua Henrique Martins Tôrres, que estava aberto e sem qualquer tipo de monitoramento.

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Ao meio-dia daquela sexta-feira, a seleção brasileira enfrentaria a Costa Rica pela Copa do Mundo da Rússia e, por causa do jogo, as ruas estavam vazias, o que facilitou a ação dos criminosos, flagrados muito de longe por uma câmera de segurança. A testemunha também não conseguiu fornecer detalhes suficientes para um retrato falado e até hoje as incógnitas que rodeiam a ocorrência perturbam não só a família da menina, mas os próprios investigadores.

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“Quero uma resposta, mas tenho medo da resposta que vou encontrar”, disse a mãe da menina, Rita de Cássia de Souza, 31 anos, em entrevista à Gazeta do Povo , um mês depois do desaparecimento do corpo de Valentina. O temor é da possibilidade do que pode ter sido feito com o corpo do bebê: necrofilia (sexo com cadáver) ou magia negra - a segunda hipótese é praticamente descartada pela investigação. “Já fomos cumprir busca em vários terreiros, mas quiçá matam galinha preta lá. Quando surge denúncia desse tipo é muito do cara que tem preconceito com a religião do vizinho. Aí mais atrapalha do que ajuda”, relata o delegado Conceição.

Com poucas certezas de para onde seguir, a polícia continua a se agarrar em possíveis pistas que possam levar ao paradeiro do automóvel usado pela dupla. “A gente conseguiu várias imagens, mas em nenhuma deu para visualizar a placa porque estão sem qualidade. Também pegamos todas as listas de Astras no Detran e analisamos casa por casa. Nenhum resultado até agora”, lamenta o delegado.

Ao menos 30 endereços com carros de modelos semelhantes em Curitiba, cidades da região metropolitana e até mesmo no litoral já foram averiguados pelos investigadores. Em nenhum deles foram encontrados suspeitos.

Rita de Cássia de Souza, mãe de Valentina: angústia por uma resposta de quem levou o corpo da filha 

O vídeo mais expressivo que a DHPP tem foi encaminhado para perícia na tentativa de que análises mais detalhadas consigam, ao menos, identificar uma ou outra informação importante da placa do carro. As imagens que foram divulgadas - e sobre as quais a polícia deposita alguma esperança - mostram um veículo Astra se aproximando do cemitério e, mais à frente, parando para que os dois homens com o caixão entrassem.

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“Sem chegar ao veículo vai ser bem difícil”, admite Conceição. A Polícia Civil fez varredura nas câmeras até uma semana antes do crime, mas não viu o veículo rondando o cemitério em nenhum desses dias.

Ao mesmo tempo, os investigadores também aguardam o resultado de um exame de DNA feito em peças do caixão que foram largadas ainda dentro do cemitério. A expectativa é de que, por exclusão, seja possível chegar a algum DNA de fora da família ou de quem já se sabe que manuseou aquelas peças, como funcionários da funerária e do cemitério, por exemplo.

Qualquer informação deve ser encaminhada à DHPP pelo telefone 0800-643-1121.

Novo caso Rachel Genofre?

Enquanto o tempo passa, as chances de uma solução vão ficando cada vez menores – a exemplo do caso Rachel Genofre, que completou dez anos no dia 3 de novembro e ainda longe de qualquer resposta sobre o autor do crime. À época com 9 anos de idade, Rachel desapareceu em novembro e 2008 após sair da escola e seu corpo só foi encontrado dois dias depois, dentro de uma mala na rodoviária da capital.

Segundo a polícia, denúncias sobre o caso Rachel continuam chegando. Já sobre o caso Valentina, aparecem em menor volume, embora nenhuma delas tenha, de fato, ajudado até agora. “Algumas denúncias vão chegando, mas aí fica igual o caso da Rachel, muita coisa sem fundamento”, afirmou Conceição.

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A policia da região de Foz do Iguaçu, no Oeste, por exemplo, foi comunicada sobre um caixão branco encontrado abandonado. O material foi recolhido e mandado para a perícia, mas a falta de vestígios de resíduos orgânicos indicam que, provavelmente, o caixão nem chegou a ser usado.

Segurança nos cemitérios

Por enquanto, a família decidiu se manter afastada de qualquer processo que exija reparo da prefeitura de Curitiba, responsável pela administração do cemitério do Boqueirão. O crime contra a pequena Valentina ocorreu em meio a uma onda de furtos e assaltos nos cemitérios municipais. O caso, entretanto, forçou a Guarda Municipal a manter ao menos uma equipe por 24 horas não só no Cemitério do Boqueirão, mas também no São Francisco de Paula e Água Verde.

“Esse crime não afetou só a família, mas toda a sociedade. Imagina o quanto de gente que agora tem medo de enterrar o corpo de um parente e depois achar a sepultura violada. Esse medo é inconcebível”, diz o advogado da família, Júlio César Pires Ribeiro.