Uma cratera gigante de aproximadamente mil metros quadrados e completamente alagada está tirando o sono dos moradores do bairro Água Verde, em Curitiba, que temem pela estrutura dos prédios vizinhos. Localizado na Travessa Capitão Clementino Paraná, próximo do Cemitério Municipal do Água Verde, o terreno foi adquirido pela empresa VCG Empreendimentos em 2014. No entanto, após as escavações de um buraco de quase 15 metros de profundidade, a obra foi abandonada em 2016 e passou a acumular muita água.
Um vídeo gravado em dezembro de 2017 pelo engenheiro civil Jiuliano Capristo, vizinho da obra abandonada, mostra uma das “cachoeiras” que se formam no local durante fortes chuvas. Nas imagens, é possível verificar que a água desce pelas laterais da obra — ou seja, abaixo do nível da rua e das demais construções localizadas na via. “Essa água vem pelo meio do solo e, a partir do momento que entra na terra com tanta força, pode carregar a terra e deixar buracos embaixo dos prédios construídos ao lado do buraco”, explica.
- Vídeo - cachoeira sai da parede da cratera no Água Verde
- Fotos - mais imagens do buraco gigante no Água Verde
O medo é que isso cause um processo de erosão, removendo solo, rochas ou material dissolvido de um local para outro. “Se isso continuar, os prédios podem trincar”, alerta o engenheiro. Além disso, ele afirma que as estruturas de contenção existentes nas laterais da obra abandonada também podem rachar. “É necessário aterrar esse espaço imediatamente ou travar essa estrutura com uma laje”, explica.
O arquiteto Bruno Borges Machado, 29, é morador de outro prédio vizinho à cratera e também teme pelo pior. “Se essa água continuar escavando o terreno, veremos as paredes do nosso prédio começarem a trincar e o piso pode ceder”, aponta.
E não é só pela estrutura das edificações vizinhas ao buraco que os moradores temem. A água parada e acumulada no buraco também colabora para a proliferação de mosquitos, inclusive o Aedes aegypti – transmissor da dengue, chikungunya, zika e da febre amarela. “A prefeitura fala tanto para a população esvaziar os potinhos que existem em casa, mas deixa uma obra abandonada como essa encher de água no meio da cidade. Que coerência há nisso?”, questiona a estudante de Direito Riviana Rucinski, de 44 anos.
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Síndica do prédio localizado em frente à obra abandonada, Riviana afirma que já ligou para a prefeitura inúmeras vezes solicitando uma atitude a respeito de tamanho descaso. “Só que não fazem nada e a população fica à mercê”, lamenta.
O vendedor Cláudio Diogo dos Santos, 58 anos, também está indignado com a situação. Morador há 15 anos do 8º andar de outro prédio vizinho do buraco, ele acompanhou de camarote a abertura e o abandono da cratera. “No início, eles até deixaram uma bomba para escoar a água na rua. Só que parou de funcionar e está completamente abandonado, causando mau cheiro e colocando em risco a nossa saúde”, reclama.
Insegurança
Zelador de um condomínio da rua, José Daniel Carvalho da Silva, 52 anos, explica que as bombas pararam de funcionar depois dos assaltos que ocorreram no espaço abandonado. “Toda a fiação elétrica foi roubada e sempre alguém entra ali para levar alguma coisa”, afirma.
Além disso, há também quem se esconda no local para abordar os moradores da região. “Até trocamos o portão do condomínio para outro que fechava mais rápido para evitar que abordassem nossos moradores no momento em que chegassem ao prédio. A insegurança aqui também é preocupante”, pontua.
Notificação
De acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), a VCG Empreendimentos foi notificada na última terça-feira (30), solicitando a drenagem do terreno. Uma nova vistoria será feita nesta quinta-feira (1.º). Caso a construtora não cumpra as exigências de adequação, pode ser multada em R$ 25 por metro quadrado da área que apresenta problemas. Ou seja, o valor pode chegar a R$ 25 mil.
Outra solicitação, segundo a SMU, foi realizada em junho de 2017, quando a empresa atendeu ao pedido. No entanto, não há nenhuma solicitação da prefeitura para continuidade das obras ou aterramento do terreno. Para que isso ocorra, a secretaria explica que os moradores da região precisam entregar um laudo técnico à secretaria comprovando a situação de risco com possível erosão. O documento deve ser feito pelo próprio técnico responsável pelos prédios.
A Gazeta do Povo tentou contato com a VCG pelo telefone e e-mail informados no site da empresa, mas não foi atendida. A equipe também se dirigiu até o endereço físico da companhia, mas foi informada por funcionários do prédio de que a VCG não atende mais ali.
As últimas reclamações da empresa no Procon-PR foram registradas em 2015, um ano antes de a obra no Água Verde ser abandonada.
Orientação
Segundo a diretora do Procon-PR, Claudia Silvano, a orientação para os moradores dos prédios vizinhos à obra abandonada é procurar a Justiça para abrir uma ação obrigando a continuidade da construção ou o aterramento do terreno imediatamente devido ao risco provocado. “Em uma situação como essa, a medida judicial é a melhor opção para evitar que algo grave aconteça em breve”, alertou.
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