Os casos de violência registrados no último final de semana na Região Metropolitana de Curitiba, com a morte de dois motoristas de transporte individual privado, abriram o debate sobre os riscos da profissão. As empresas admitem que a tecnologia envolvida nos aplicativos não é capaz de blindar usuários e motoristas, mas que as informações geradas durante as viagens, nos cadastros e a constante análise de dados proporcionam mais segurança do que os modelos não digitais. Diante do assunto, o poder público se posiciona como mediador entre as partes, mas não aponta política específica para este setor.
O motorista do aplicativo 99 Pop Agnaldo Felipe Milki, de 34 anos, foi assassinado a facadas em Colombo, no último sábado (20). Um dia antes, Marcos Mathozo Cordeiro, 25, foi encontrado morto em Almirante Tamandaré. O carro com adesivo da Uber foi retirado do fundo do lago do Parque Tingui.
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As ocorrências consternaram os colegas de profissão, que pediram melhorias no nível de segurança dos aplicativos e ação mais ostensiva da polícia. Entre as sugestões levantadas estão a instalação de um botão de pânico no aplicativo, sistema mais rigoroso para o cadastro de usuários, pagamento somente com cartão e abordagens da Polícia Militar e Guarda Municipal nos carros com a identificação dos aplicativos, o que é obrigatório em Curitiba.
Um grupo de motoristas levou essas demandas diretamente ao escritório regional da Uber em Curitiba e a autoridades locais, em audiência com representantes da Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp) e com o secretário Municipal da Defesa Civil, Guilherme Rangel.
“Vamos convocar o pessoal dos aplicativos e servir como interlocutor”, garantiu Rangel. Ele afirmou que na próxima semana irá se reunir com representantes das empresas e transmitir os pedidos dos motoristas. Além disto, vai pedir mais colaboração durante as investigações. Para ele, existe resistência no fornecimento de informações à polícia.
Questionada pela Gazeta do Povo a respeito de medidas para ampliar a segurança de motoristas e passageiros de aplicativos de transporte individual privado, a Secretaria da Segurança limitou-se a responder por meio de nota afirmando que age no policiamento preventivo, com rondas, e também na área de investigação, o que é função constitucional das polícias. Segundo a nota da Sesp, “todas as denúncias feitas são investigadas pela Polícia Civil e também pelo Departamento de Inteligência do Estado do Paraná. Resultado disso foi uma prisão de três pessoas suspeitas de matarem um motorista de aplicativo em setembro do ano passado”.
Aplicativos
Tanto a Uber quanto o 99 Pop ressaltaram que conferem importância à segurança de motoristas e usuários. Mas lembram que ambos os casos são qualificados como violência urbana. As empresas afirmam que os dois motoristas não estavam realizando viagens pelos aplicativos no momento das mortes. Mas ressaltam que colaboram com as investigações.
“Para garantir que o nosso serviço seja seguro, o 99 montou uma equipe de mais de 30 pessoas incluindo com ex-militares, engenheiros de dados e até psicólogos. O time trabalha 24 horas por dia, sete dias por semana, dedicado exclusivamente à proteção dos usuários. Usamos tecnologia de ponta para focar especialmente na prevenção”, informou Raul Montenegro, coordenador de comunicação para segurança.
As duas companhias utilizam inteligência artificial que analisa uma série de parâmetros levando em conta perfil dos passageiros, formas de pagamento, frequência de viagens, local da partida e parada final, horário, entre outros dados que são obtidos inclusive com as secretarias da segurança de cada estado.
No caso da Uber o motorista pode cancelar a corrida e selecionar a justificativa “segurança” se desconfiar do local de partida ou passageiro. No 99 Pop este procedimento é computado como cancelamento comum e a justificativa deve ser feita por ligação telefônica gratuita.
Quanto ao cadastro, a Uber exige o CPF de todos os clientes. “Os demais usuários, que efetuam pagamento em cartão, já tinham seus dados cadastrais fornecidos pelas instituições financeiras”, completa Andre Monteiro, gerente de Comunicação para a Região Sul.
O 99 Pop pede somente telefone e e-mail. De acordo com a empresa, o sistema verifica todos os usuários e solicita validações adicionais de passageiros, caso seja necessário. A plataforma permite que o motorista escolha pagamentos somente com cartão de crédito ou débito, opção indisponível para os profissionais da Uber.
Para um motorista que atende pelos dois aplicativos, que pediu para se manter anônimo, a culpa de muitos crimes recai sobre os próprios profissionais e clientes. “Tem motorista que atende no ‘particular’, ou seja, acerta um valor mais baixo por fora para não pagar a porcentagem da empresa e desliga o aplicativo”, denuncia. Ele comenta que há condutores que “alugam” o cadastro para outras pessoas realizarem o serviço. “Se ele não pode ter cadastro é porque tem algo errado, ou foi expulso ou tem o nome sujo”, presume. Outra atitude perigosa é o usuário que pede um carro para desconhecidos, o que acontece com mais frequência em saída de bares e baladas. “A pessoa diz que está sem bateria, diz que vai pagar em dinheiro e pede um favor. Isto é muito perigoso, até porque se algo ocorre é o perfil daquele usuário que estará envolvido”.
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