A reestruturação do sistema de saúde de Curitiba para atender a sobrecarga de pacientes com Covid-19 não passa apenas pela abertura de novos leitos. Com o avanço acelerado da pandemia e a dificuldade da indústria farmacêutica e de equipamentos em cumprir prazos de entrega pela alta demanda, nos hospitais da rede pública da capital a ordem é pelo uso racional não só de vagas, mas também de medicamentos, insumos, máquinas e equipes de saúde para conseguir que mesmo com a estrutura colapsada todos tenham atendimento - segunda-feira (29) os 513 leitos de UTI seguiam 100% ocupados.
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O primeiro passo foi a transformação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em atendimento de retaguarda. Foram 240 leitos abertos nas UPAs para o pronto atendimento de pacientes de Covid-19 em estado grave. Para isso, além de transferir equipamentos de UTI, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também levou profissionais como fisioterapeutas e nutricionistas para acompanharem o tratamento. "Como a situação está muito grave, o hospital hoje é somente para o paciente que está muito grave", explica o diretor de Urgências da SMS , o médico Pedro Henrique de Almeida.
Ele afirma que enquanto que na pandemia em 2020 a média era de quatro a cinco leitos de enfermaria ocupados para um de UTI, agora a média em muitos hospitais é de metade de leitos de enfermaria e metade leitos intensivos com o agravamento dos casos. "Tem unidade em que a quantidade de UTIs já ultrapassou a de vagas na enfermaria", aponta.
Dessa forma, nas UPAs e nos hospitais as equipes de saúde têm que seguir protocolo estrito para que não haja desperdício de medicamentos e insumos. O diretor de Urgências cita o caso do oxigênio, insumo caro e que vem sendo difícil de ser encontrado pela falta de cilindros para o envase. Antes, explica Almeida, um paciente chegava a receber oxigênio para alcançar até 98% de saturação sanguínea. Agora, a meta é manter a quantidade suficiente para 92% de saturação.
"Temos que usar o oxigênio de forma racional. Ao invés de soltar um volume alto de gás, acima do que o paciente realmente precisa para saturar, a gente tem que trabalhar na quantidade exata, sem desperdício", exemplifica. "No momento, não buscamos mais o ideal, e sim o melhor possível", admite.
O mesmo vale para sedativos e bloqueadores neuromusculares para intubar pacientes na UTI. Almeida explica que com a dificuldade de restabelecer os estoques - o que tem levado hospitais particulares a negociar com fornecedores estrangeiros -, a quantidade de drogas usada na intubação é milimetricamente calculada. "Agora temos que sedar o paciente ao ponto de ele não sofrer, não ficar agitado, mas não é mais no nível de anestesia geral. Não é mais a dose máxima", explica o médico. Entretanto, enfatiza, há casos em que essa adaptação alternativa não é possível de ser feita.
De equipamentos, Almeida cita a adaptação no trabalho da enfermagem sem as bombas de infusão - equipamento que leva o medicamento do soro ao braço do paciente, que hoje é um dos mais difíceis de serem encontrados no mercado, chegando a custar R$ 10 mil a unidade, segundo a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak. "Aí temos que voltar a fazer como era antigamente. Tem que calcular e liberar manualmente a dose do medicamento em cada paciente", explica o gerente de Urgências.
Equipes
A contratação de médicos, enfermeiros e fisioterapeutas, em especial os habilitados para atuarem em UTI, que exige um padrão alto de especialidade, é o principal entrave na abertura de leitos. Com isso, a SMS adotou um sistema nas equipes. Os profissionais mais experientes supervisionam os menos acostumados com este tipo de atendimento. "Quem tem mais treinamento faz as visitas, verifica se está tudo bem. Os outros profissionais executam essas tarefas", explica.
Além disso, uma iniciativa da Sociedade Paranaense de Terapia Intensiva (Sotipa) também tem colaborado para amenizar a dificuldade dos hospitais em contratar profissionais. Dentro do projeto Rede do Bem, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas doam uma hora de seu dia de segunda a sexta-feira para cuidar de uma UTI de pequeno porte ou de uma unidade de saúde com pacientes graves.
As visitas são à distância, feitas por videochamadas, e tem apoio da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). Nas conversas, esses médicos orientam os profissionais das respectivas profissões, principalmente em pequenos hospitais do interior.
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