Curitiba decidiu nesta sexta-feira (28) retornar para a bandeira vermelha, a mais restritiva de todas, para tentar frear a transmissão do coronavírus. Quinta-feira (26), os hospitais públicos que atendem Covid-19 colapsaram na capital após todas as vagas de UTI serem ocupadas. Os leitos de enfermaria já haviam colapsados terça-feira (25). O anúncio foi feito pela prefeitura no início da tarde desta sexta.
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Quinta-feira (27), a prefeitura fez reunião remota com representantes de setores econômicos, da saúde pública e privada, da educação e de igrejas, além da participação do Ministério Público do Paraná (MP-PR) e de vereadores. Na sessão, a secretária municipal de Saúde, Márcia Huçulak, reforçou que o quadro nos hospitais é crítico não só por causa da pandemia, que gera falta de leitos e de medicamentos para intubação na UTI.
Os leitos de pacientes vítimas de traumas causados por acidentes de trânsito, ocorrências de violência e outros incidentes também estão lotados. Foi isso, inclusive, que levou a prefeitura a decretar lockdown na capital no último fim de semana após "apelo desesperado", nas palavras da própria secretária, dos diretores de prontos-socorros. Na reunião de quinta, Márcia enfatizou mais uma vez que a maioria dos atendimentos de traumas em Curitiba são de pacientes na região metropolitana, o que já havia ressaltado em sessão virtual com os vereadores terça-feira.
“Historicamente, 65% do nosso atendimento de traumas é de fora de Curitiba. Só 35% é de Curitiba. Por isso, temos apelado para que a região metropolitana que nos ajude”, enfatizou a secretária em sessão essa semana na Câmara Municipal.
Por isso, o anúncio sobre a possível mudança de bandeira que seria terça-feira (25), após a secretária de Saúde afirmar que “tudo caminhava” para a volta da bandeira vermelha, foi adiado para essa sexta, após pedido para que o governo do estado publique decreto metropolitano para que as cidades vizinhas sigam as mesmas regras da capital.
O pedido do decreto metropolitano está na mesa do secretário estadual de Saúde, Beto Preto, que já acenou que deve acatar o pedido. Em março, quando Curitiba decretou a bandeira vermelha pela primeira vez, os 11 municípios da região metropolitana mais próximos da capital seguiram a decisão a partir do decreto estadual, implantando o lockdown seis dias após a restrição já estava em vigência na capital. Agora, o objetivo é de que Curitiba e pelo menos este mesmo anel de cidades da região metropolitana iniciem as medidas ao mesmo tempo.
Porém, um novo fator pode mudar o rumo da decisão. Quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar decretos de lockdown no Paraná, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A Ação Diretora de Inconstitucionalidade foi protocolada pela Advocacia-Geral da União (AGU), alegando que as medidas restritivas seriam impostam unilateralmente pelos governos estaduais.
Momento crítico
Na reunião com os setores econômicos e de saúde quinta-feira, não só a Secretaria Municipal de Saúde enfatizou o momento crítico dos hospitais. Representantes da rede particular de hospitais também demonstraram que o sistema não vai comportar a demanda se a transmissão do coronavírus continuar aumentando.
O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, o médico Clóvis Arns Cunha, que é diretor clínico do Hospital Nossa Senhora das Graças, um dos principais hospitais particulares de Curitiba, afirmou que o quadro atual é pior do que o da última onda, que levou os hospitais ao colapso “Não só no serviço público, como no privado, está cada vez mais difícil dar atendimento adequado. Não temos mais recursos humanos”, argumentou o infectologista.
Alerta que foi seguido pelo presidente da Federação dos Hospitais do Paraná (Femipa), Flaviano Ventorim. “Nós, dos hospitais, não vamos dar conta. O sistema está entrando em colapso e precisamos de um fôlego”, apontou na sessão. Ventorim ainda cobrou que os municípios da região metropolitana tomem medidas para barrar o contágio da Covid-19. “Não se vê a região metropolitana tomando medidas”, reforça.
Diante do colapso nesta semana, a Secretaria Municipal de Saúde abriu mais 14 leitos de UTI exclusivos de Covid-19 quinta-feira. Agora, o SUS da capital tem 539 vagas intensivas e 726 de enfermaria. A ocupação é de 106% nas UTIs e 99% nas enfermarias.
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