Desde sua criação em 1919, a Gazeta do Povo é conhecida por suas bandeiras, que sempre geraram uma série de desdobramento sociais. Uma delas foi a de eleger o prédio da Universidade Federal do Paraná (UFPR) como símbolo da cidade.
O concurso aconteceu em 1999, promovido pelo Banco Itaú e Prefeitura Municipal, e podia ser encarado como uma brincadeira trivial. Promovido em várias capitais do país, perguntava qual era o símbolo de cada uma delas. Em Curitiba, a briga com outros cartões-postais era grande. Na dianteira, despontava o Jardim Botânico, seguida da Ópera de Arame, o Parque Barigui e a Boca Maldita, o Parque Tanguá, o calçadão da Rua XV de Novembro.
Embora modesta, a campanha traduziu uma das grandes obsessões de Francisco Cunha Pereira Filho, o Dr. Francisco: colocar a educação em primeiro plano. Figura presente nos bastidores da época, o jornalista e colunista da Gazeta José Carlos Fernandes acredita que a despretensão foi um dos fatores que fez tudo dar certo.
"A geração do Dr. Francisco experimentou a federalização da universidade na década de 1950, a primeira universidade brasileira. Acredito que tinha toda uma áurea especial de importância ser um prédio bonito, neoclássico, no centro da cidade, mas também de ser símbolo da educação”, comenta Zé Carlos, como é conhecido pelos corredores da redação. “Acho também que o imaginário que a universidade ocupa nos paranaenses contribuiu. Ele acreditava que era uma maneira de colocar a universidade em uma rede”.
O jornalista define que foi uma campanha simples, perto de outras maiores e mais dispendiosas que já tinham acontecido. “Mas o resultado foi muito interessante na época no sentido de valorização da educação", lembra Fernandes.
Ana Amélia Filizola, diretora da unidade jornais do GRPCOM, acredita que a pauta da educação era prioridade. "Para o meu pai, Curitiba precisava ser vista como uma capital de discussões e de desenvolvimento de pessoas, um centro de ciência e cultura. Por isso escolheu a Universidade Federal para a campanha, pois ela possui essa representatividade."
Entre os formadores de opinião a campanha pegou e a ideia de eleger a universidade ganhou a simpatia de diversos setores da sociedade. No mês que durou a votação, passaram pelas páginas do jornal professores, políticos e profissionais liberais - torcendo abertamente pela eleição da UFPR. "Tinha enquete na rua, as pessoas ligando, das pessoas comuns engajadas, além da intelectualidade da cidade", relembra Fernandes.
O então reitor da UFPR, o historiador Carlos Roberto Antunes, foi à televisão defender um dos slogans mais fortes do certame: "A universidade foi a maior invenção dos paranaenses", referindo-se à instituição criada em 1912. Escolhê-la era dizer "sim" ao ensino público e de qualidade, como conta o livro "Todo dia nunca é igual. Notícias que a Vida Contou", de José Carlos Fernandes e Marcio Renato dos Santos, que elenca histórias e marcos dos 90 anos de Gazeta do Povo.
Em pleno processo de mudança, a Gazeta estava definindo novos caminhos editoriais em 1999. Fernandes conta que o jornal vinha em um grande empenho para se tornar mais moderno, capaz de entender os interesses do público. Era um pouco a proposta da Universidade de Navarra que deu uma consultoria para o jornal a partir de 1996. "Ouvir a demanda do público, de se envolver numa campanha tem a ver com uma tradição do jornal, mas também com a ‘vibe’ que o jornal estava de modernização e de possuir uma pegada local", completa.
O concurso - promovido pelo Banco Itaú e Prefeitura Municipal - ganhou edições em outras sete cidades do brasil. Em nenhuma delas uma instituição de ensino ficou em primeiro lugar. São Paulo elegeu a Avenida Paulista, Porto Alegre, a escultura de "O Laçador"; O Rio de Janeiro ficou com o Corcovado e em Salvador, a escolha foi o Pelourinho.
A eleição se encerrou dia 30 de maio, com resultado em 8 de junho. Seu ápice se deu no 25 de junho de 1999, na escadaria do prédio histórico da Universidade Federal do Paraná, na Praça Santos Andrade. Ali, houve uma festa de gala para comemorar a eleição do prédio da UFPR como espaço-símbolo de Curitiba, em votação popular que envolveu cerca de 1 milhão de curitibanos. Como diz o livro dos 90 anos, Dr. Francisco mostrou com quantos paus se faz uma campanha.
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