Em dois anos Curitiba terá mais idosos do que crianças. A projeção do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) é de que em 2022 a capital do Paraná terá 332,6 mil habitantes acima dos 60 anos, cerca de 17,16% da população da cidade, e acima das 330,8 mil crianças e pré-adolescentes com menos de 14 anos. E não para por aí. Para 2040, o instituto prevê 544,5 mil curitibanos idosos, representando um quarto de toda a população da cidade. Esses são dados que apontam não apenas uma transição demográfica, mas especialmente uma mudança na maneira de pensar a cidade e as políticas públicas para uma população cada vez mais envelhecida.
Apesar de emergente, o assunto não é novo. Em 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um guia chamado Cidade Amiga do Idoso. O documento de 66 páginas é um passo a passo de como transformar uma cidade em um espaço favorável para o envelhecimento, no qual o idoso tenha parte significativa. O resumo é: “Uma cidade amiga do idoso estimula o envelhecimento ativo ao otimizar oportunidades para saúde, participação e segurança, para aumentar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem”.
O médico e especialista em gerontologia e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, Alexandre Kalache, foi um dos líderes do projeto na OMS e colocou em prática o guia em várias cidades do mundo. De todas as experiências realizadas, o ponto primordial observado na questão do envelhecimento da população foi a oportunidade que precisa ser dada ao idoso para fazer e sentir-se parte das cidades. “Para ser bem feito, qualquer projeto precisa colocar o idoso como protagonista, ele tem que ser ouvido. Se isso não acontecer, não há como dizer que a cidade está preparada para o envelhecimento”, opina.
Nós sabemos que a cada ano a expectativa de vida aumenta, mas precisamos trazer mais vida a esses anos e não mais anos a essa vida
Alexandre Kalache, médico especialista em gerontologia
Esse é um dos grandes desafios de Curitiba para os próximos anos, de integrar a pessoa idosa à dinâmica da cidade. Um desafio que passa por diversos setores da administração pública, como saúde, educação, trabalho, mobilidade, assistência social e lazer. Cada secretaria tem suas ações, mas muitas delas são coordenadas de forma conjunta. Por exemplo, questões de saúde podem envolver as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e a Fundação de Ação Social (FAS). Atividades de lazer colocam a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) e a Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj) trabalhando juntas. “A nossa política pública de pessoa com deficiência trabalha em conjunto e gera resultados para o idoso. Temos avançado muito em Curitiba em relação a isso”, afirma o presidente da FAS, Thiago Ferro.
Facilidade para ir e vir
Grande parte das ações da prefeitura de Curitiba estimula o idoso a sair de casa. Deixar o isolamento — em tempos normais sem pandemia de coronavírus — é fundamental. No entanto, se locomover pela cidade pode apresentar alguns obstáculos, desde a calçada com buracos, o ônibus sem acessibilidade e os edifícios sem elevadores. “Uma boa política para o idoso é ele poder sair de casa e socializar. E para isso precisa de um transporte público seguro e confiável, para que ele possa ir onde quer que queira, seja no médico, no culto ou visitar a família. Quando ficam em casa, ficam ainda mais vulneráveis”, comenta Kalache.
Para responder a essas demandas, a prefeitura tem apostado principalmente na renovação da frota dos ônibus da cidade para facilitar o acesso das pessoas idosas ao transporte público. Desde 2017, a cidade recebeu 410 novos ônibus, todos já adaptados para esse público. Além disso, a própria isenção tarifária para usuários de 65 anos, prevista em lei municipal, permite que a locomoção seja ainda fácil.
Tirar o idoso de casa simplesmente por tirar não é suficiente. É preciso integrá-los à cidade, seja para realizarem atividades do dia a dia, como ir ao banco ou ao médico, mas também para que tenham momentos de lazer, que podem ajudar inclusive para evitar novas idas aos serviços de saúde. “As atividades, o convívio social para o idoso, tirar ele do isolamento é fundamental. Qualquer atividade é importante, seja esportiva ou emotiva”, reforça Ferro, da FAS.
As dez regionais de Curitiba oferecem diversas atividades de lazer para os idosos. São piscinas, quadras e academias ao ar livre que dão suporte a aulas de hidroginástica, alongamento, musculação, caminhada, entre outros. E boa parte dessas atividades que hoje atendem 6,3 mil idosos da cidade é seguida de perto por profissionais de Educação Física, que fazem avaliação em cada pessoa idosa que se matricula nas aulas e acompanham a evolução ao longo dos meses.
“O que preconizamos na população é que ela se exercite. E uma forma de ter uma vida ativa e saudável é pelo aspecto físico. Tendo a atividade física para toda a população, especialmente a mais idosa, estamos reduzindo a ida a hospitais e uso de medicamentos”, avalia o diretor de Lazer da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj), Ronaldo Babiak, que assegura que a estrutura atual vai conseguir atender ao aumento da demanda de idosos. “Temos potencial hoje para atender mais de 40% do público que atendemos hoje. Não vai haver deficiência de vagas.”
Atividades para a mente
Os idosos não precisam apenas de atividades físicas. Outro aspecto importante na resposta para o envelhecimento da população é oferecer cursos, desde os mais básicos até os mais avançados, especialmente para quem ainda está no mercado de trabalho — a aposentadoria, afinal, é cada vez mais tarde. Quem lidera esse movimento em Curitiba é a FAS, por meio dos Liceus de Ofícios, com cursos ao longo de todo o ano. Muitos deles não são específicos para a terceira idade, mas idosos podem se matricular e participar normalmente.
Um dos cursos com mais procura e que é ofertado desde o ano passado nas regionais de Curitiba é o de inclusão digital para idosos. Nele, os alunos aprendem a lidar principalmente com smartphones, hoje tão comuns e acessíveis a uma fatia maior da população. Saber lidar com o aparelho e suas funcionalidades é visto como uma forma de liberdade e de autonomia. Não por acaso as regionais chegam a oferecer mais de uma turma por dia. “Curso de mundo digital para o idoso é fundamental para que ele aprenda a lidar com smartphone, computador, internet. É muito produtivo para um avô que quer cuidar do neto. Além disso, ele se sente mais pertencente à comunidade, válido e integrado, com mais qualidade de vida”, atesta o presidente da FAS, Thiago Ferro.
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