Há dois anos, os moradores dos bairros Cajuru e Uberaba que moram no entorno da linha férrea têm perdido o sono todas as noites. Da meia-noite às 6 da manhã, trens de carga passam a cada duas horas buzinando no cruzamento com passagens de nível. Só naquela região são 11 delas, fora os trechos clandestinos - onde a população criou atalhos.
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Toda vez que o trem passa por uma passagem de nível, ele segue o mesmo padrão estabelecido por lei: duas buzinas longas de três segundos cada, uma curta de um segundo e, por último, uma longa de três segundos. “De dia não incomoda tanto, mas à noite é humanamente impossível dormir”, desabafou o presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Mercúrio, Odenir Cândido.
Na região do Cajuru e Uberaba, a linha férrea segue em paralelo com as ruas Reinaldo Rodrigues Lima e Thomaz David Borges e cruza as vias Ozires del Corso, Sebastião Marcos Luiz e Amador Bueno.
O alerta da buzina é a principal sinalização da chegada do trem, já que os cruzamentos da região não possuem cancelas e os acidentes são frequentes. Um deles foi registrado na última sexta-feira (25): um carro colidiu contra um trem e capotou em seguida. O acidente, que foi na Rua Ozires del Corso - onde também é relativamente comum o trem atropelar pessoas. As duas mulheres que estavam no carro ficaram feridas no acidente de sexta.
De acordo com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o sinal sonoro do trem é o único instrumento de comunicação com o trânsito rodoviário. A buzina tem o propósito de chamar a atenção dos motoristas. A resolução da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) prevê que as buzinas nas imediações das passagens de nível precisam ser utilizadas para alertar pedestres e motoristas da chegada do trem.
Noites em claro
A buzina do trem, de som agudo e intensidade entre 90 a 110 decibéis, o equivalente ao som de uma britadeira, tem feito o operador de equipamento aposentado José Anarolindo Aires, de 68 anos, tomar antidepressivos para dormir melhor. “Mesmo com o remédio, continuo acordando com essa buzina, é fora de série. Não tem necessidade de tanta buzina, não tem quase ninguém na rua nesse horário da madrugada”, comentou o aposentado, que desde de agosto vem se recuperando de uma cirurgia na coluna e está acamado.
Vindo de Paranaguá, no litoral do Paraná, Aires está temporariamente no bairro e se recupera na casa do filho, o porteiro Cleverson Aires, de 37 anos. “Eu moro há 12 anos aqui, tenho consciência que escolhi morar do lado da linha do trem, mas de uns dois anos pra cá a buzina está barulhenta demais. Quando o trem passa, a gente tem que parar de falar e esperar todo o barulho para dar continuidade ao assunto”, explicou o porteiro. Além do pai que está temporariamente na casa, ele mora com a esposa e com o filho de dois anos.
Os incomodados com o trem
Não só a família de Cleverson tem perdido o sono com o barulho do trem nos últimos tempos, mas ao menos 80 famílias dos bairros Cajuru e Uberaba que moram próximo à linha do trem passam a noite em claro. No WhatsApp, os moradores se reuniram num grupo para desabafar e procurar uma maneira de fazer com que o incômodo diminua.
Representantes de associação de moradores entraram em contato com a Rumo, empresa operadora das linhas férreas da região, para tentar um acordo. Do início do ano até agora, foram três reuniões, mas nenhuma solução concreta foi tomada.
Para a infelicidade dos moradores incomodados, a norma não restringe o horário em que a buzina é acionada. “Nosso papel é fazer uma ponte entre a empresa e os moradores e não uma vala. A gente quer que o assunto chegue até Brasília, para que o volume desse apito diminua”, explicou o presidente da Associação de Moradias Serra do Mar da Vila Autódromo, Carlos França.
Outro lado
Em nota, a Rumo esclareceu que segue todas as normas regulamentares para promover a convivência segura junto à comunidade. A concessionária diz ter diálogo aberto com a população e que vai fazer uma avaliação técnica para checar o volume das buzinas nos próximos meses.
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