É passando cada vez mais tempo fora de casa que uma nova geração de curitibanos está aproveitando a cidade. E mais do que ocupar o espaço público, essa nova forma de interagir com Curitiba tem feito com que a população mais jovem quebre também a velha imagem do curitibano sisudo e pouco aberto a novas amizades.
Um dos principais responsáveis por esse movimento foram as chamadas prainhas, pequenos conjuntos comerciais composto por bares e restaurantes que atraíram os jovens para as calçadas e a movimentar ruas até então mortas para pedestres. A Rua Vicente Machado foi uma das primeiras, mas a iniciativa logo se espalhou. Até mesmo o Shopping Hauer, aberto em 1985 e que sempre teve um movimento mais diurno com serviços de beleza e pet shop, ganhou uma nova cara à medida que seus degraus e calçadas passaram a ser ocupadas por clientes boêmios.
Outra dessas prainhas foi formada do outro lado da cidade, na rua Itupava. Dessa vez, com uma área de deck, de frente para uma praça e ao lado da linha do trem. A forma de comer, beber e se divertir é a mesma: basta escolher entre diferentes bares e restaurantes e aproveitar ao ar livre.
João Paulo Mehl, articulador de desenvolvimento do Itupava 1299, acredita que a diferença entre outras “prainhas”, além da localização, é a conversa com a cidade e a comunidade. “A gente sempre teve um olhar sobre o espaço, a possibilidade de estar aqui para além de conduzir um empreendimento, mas também pensar de que forma a gente pode contribuir com a cidade”, conta.
Para a cientista social e antropóloga da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Luisa Fayet Sallas, esse tipo de movimento é característico da juventude. “Os jovens têm direito à cidade, como qualquer outra pessoa, de aproveitar o que ela tem a oferecer em seus diferentes espaços. Ser jovem é ter esse desejo de estar com seus grupos, com seus amigos, se encontrar” , diz. “A cidade foi se transformando, foi se abrindo para outros grupos. Então eu acho que o exercício de abertura, do novo, ele é um processo em negociação” .
Consumindo cultura
Se a ideia é consumir direto de quem produz, o segredo é cortar o intermediário. Ganhando força com a produção local de feiras e artistas, a feira Mamute aproveita para unir shows, oficinas e debates no mesmo espaço: a rua. A primeira edição da feira aconteceu na Julia da Costa, fechada especialmente para o evento, e contou com artistas independentes que trabalham com diferentes técnicas e temáticas: fotografia, literatura, ilustração, arte, história, moda, quadrinhos, camisetas, livros entre outras expressões. “Curitiba tem um cenário artístico muito forte só que a gente queria retomar essa força num formato diferente, ocupando a rua, um lugar de possibilidade de reunião de diferentes pessoas e que fosse uma festa”, conta a gestora cultural Ana Hupfer.
A edição deste ano, programada para abril, quer fortalecer a cena artística da cidade. “O que a gente fez foi concentrar na rua as atividades gratuitas, a programação cultural, as oficinas para crianças e os bate-papos”, relembra. Os artistas ocuparam um galpão que durante os dias úteis abriga um estacionamento. “A gente ressignificou esse espaço com uma decoração, luz e lambes para transformar o espaço”, diz Ana.
De lá pra cá
E a forma de se locomover pela cidade foi outra coisa que mudou entre os jovens curitibanos. A lotação do transporte público deu lugar a alternativas que valorizam a rua e a ocupação do espaço.
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A velha, bicicleta, pro exemplo, se tornou a queridinha da cidade, principalmente após a chegada dos serviços de empréstimo por aplicativo. Como é possível usar o celular para encontrar uma bike disponível nas redondezas, elas passaram a ser mais e mais usadas por quem quer fazer deslocamentos curtos. Basta andar pelo Centro para perceber quanta gente deixou o carro para pedalar.
Outra novidade são os patinetes elétricos. Sucesso em diversas cidades dos Estados Unidos e Europa, eles são encontrado em diferentes esquinas da cidade e já começaram a mudar o jeito do curitibano se locomover.
Quem usa, aprova a experiência. “Com o patinete você tem autorização para andar em cima da calçada, então os trajetos possíveis são os que se pode fazer a pé, mas mais rápido”, avalia o servidor público Luís Felipe Köppe.
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