Incerteza. É esse o sentimento de moradores e comerciantes do bairro Ahú, especificamente aqueles vizinhos ao prédio da Justiça Federal, sobre o novo depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro. As dúvidas, porém, não pairam sobre o que irá acontecer com o político petista nesta quarta-feira (13), mas sim sobre como será o movimento em seus estabelecimentos, bem como o funcionamento de eventuais bloqueios e restrições a moradores e clientes. A falta de informação confunde os vizinhos da “casa” da Lava Jato.
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Diferente do primeiro depoimento de Lula, em maio passado, não haverá cadastramento de moradores e comerciantes. A orientação principal é de que portem RG e comprovante de endereço para eventuais esclarecimentos. Quem trabalha na região, contudo, vai precisar contar com a boa vontade dos policiais que estarão nos perímetros de segurança nas quadras que circundam o prédio.
“Não falaram nada. Da outra vez foram semanas de cadastro e informações. Desta vez, pode acontecer de chegarmos para trabalhar e sermos impedidas”, explicou Karine Becker, gerente de uma loja de produtos naturais bem ao lado da Justiça Federal. De acordo com ela, foi uma vizinha quem avisou dos bloqueios, mas oficialmente ninguém foi informado de nada.
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As restrições de acesso de maio causaram prejuízos para a maioria dos comerciantes da região. Com fluxo limitado de pessoas, o movimento despencou e dependeu apenas dos jornalistas e policiais. “Nem os moradores do prédio aqui do lado vieram por medo do que poderia acontecer, pois estava uma bagunça. Parecia uma guerra. Foi um prejuízo enorme. Não arrecadamos nem o dinheiro para pagar a luz que gastamos”, acrescentou Karine.
O gerente de uma lanchonete ao lado afirmou que a falta de informações prejudica o planejamento da loja para esta quarta-feira. “Da outra vez, atendemos aos jornalistas e PMs. Dessa vez, não sabemos o que esperar. Vamos nos preparar para um dia normal, mesmo porque ninguém avisou nada sobre bloqueios no trânsito”, disse Daniel Martins.
Lucro alto
A dona de uma banca de revista na esquina da avenida Anita Garibaldi com a rua Bezerra de Menezes, Elenice Accordi, de 56 anos, foi quem mais lucrou com os bloqueios em maio e espera repetir a dose nesta quarta. Em maio, ela viu seu faturamento aumentar em 30% e dessa vez o otimismo é maior. Ela reforçou o estoque de refrigerantes, também apostando no calor que mantém as temperaturas elevadas em Curitiba nos últimos dias.
“Por mim, o Lula poderia vir toda semana”, diverte-se Elenice, acrescentando que os depoimentos do ex-presidente a colocaram no centro de uma grande concentração de policiais e jornalistas. “Todo mundo vinha comprar um chocolate ou um salgadinho. Agora, com o calor, vamos ter refrigerantes e água também”.
Outra vizinha que pretende lucrar é Helena Onuka. Ela é dona de um prédio na região e subloca espaços em sua varanda para televisões e rádios que transmitem suas programações do local. Dessa vez, no entanto, o lucro deve ser menor. Em maio, foram 11 TVs e duas rádios. “Até agora, foram 4 emissoras de TV e uma de rádio, mas ainda esperamos mais procura”, afirmou. Cada posição para TV vale R$ 1 mil. Para rádios ou jornais, R$ 300 a R$ 500.
Moradores sem informações
A estudante Aline Milani mora bem em frente ao prédio e disse que não sabe se poderá sair com o carro ou não durante os bloqueios. Aliás, ela reforçou que também não foi avisada de nada. “Não avisaram nada. Não sabemos como vai ser”, contou.
Mesmo com as inúmeras restrições e bloqueios, em maio ela disse que não teve problemas. Sem informações, as dúvidas aumentaram à época da segunda visita de Lula. “Da outra vez, foi toda aquela operação, mas eu consegui sair e entrar aqui em casa para ir a aula sem ninguém ao menos pedir meus documentos. Então não sei o que esperar”.
Linhas de ônibus alteradas
Por causa dos bloqueios próximos à Justiça Federal, a Urbs vai alterar dez linhas de ônibus que passam pela região do Ahú. A partir das primeiras horas desta quarta-feira, os ônibus Barreirinha/Guadalupe, Bom Retiro/Cabral, Barreirinha, Paineiras, Fernando de Noronha, Laranjeira, Ahú/Los Angeles, Cabral/Osório, Reforço Anita e Santa Gema terão seu trajeto modificado.
Em alguns casos, esse desvio vai fazer com que os pontos também passem por mudanças — exigindo bastante atenção dos passageiros. A previsão é que a situação só seja normalizada com o fim dos bloqueios, que só vai acontecer após o término do depoimento do ex-presidente Lula.