O vendedor ambulante Gabriel Marcelino dos Santos, de 30 anos, tem um sonho: sair do abrigo de rua onde mora atualmente e criar o próprio negócio de iogurtes naturais. Ele veio de Várzea da Palma, no interior de Minas Gerais, que fica a 1.300 quilômetros de Curitiba, para realizar seu sonho empreendedor, mas percebeu que as dificuldades na cidade grande eram maiores do que pensava. Sem nem ter onde morar ou algo para comer, Santos passou a vender balas no sinaleiro entre as ruas Nilo Cairo e Mariano Torres, no Centro da capital.
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Para alcançar o sonho, o vendedor, que dorme em um dos abrigos oferecidos pela Fundação de Ação Social (FAS), da prefeitura de Curitiba, percorre quase 1 km por hora com o objetivo sempre em mente. A ocupação é nova. Quando chegou a Curitiba pela segunda vez, em 2017, o mineiro começou a vender iogurtes naturais caseiros na rua e com o dinheiro investiu em uma bicicleta. O transporte virou meio de trabalho e com ela passou a fazer entregas de aplicativos. “As entregas eram boas, mas o retorno era pequeno. Então, um amigo me apresentou o trabalho informal de vender balas no sinaleiro”, conta.
O vendedor faz questão de deixar claro aos clientes dos doces que o valor das vendas vão para fundos da nova empresa. Para o negócio de balas, ele criou uma conta na rede social Instagram, como @debalaembala. “Tem gente que me reconhece no sinaleiro e diz que estou ficando famoso. Uns compram a bala e outros só tiram foto do bilhete”, conta o vendedor.
O trabalho atual lhe rende R$ 120 por dia, uma meta que ele mesmo coloca para si. Fora o que é usado para custos de higiene pessoal, o restante é guardado para o futuro empreendimento. Ele não gasta com alimentação, pois descobriu formas de se alimentar por meio de trocas. “Em algumas empresas de fast food, eles te dão um lanche se você levar R$ 100 de trocado. Tenho um acordo com a panificadora aqui do lado também. Levo dinheiro trocado pra ele e ele me oferece almoço”, diz.
O serviço é cansativo. Em dias de pouco movimento, Santos trabalha até oito horas e chega a caminhar mais de 6km. “Tem dias que meu pé fica todo inchado de caminhar entre os carros. Mas dá para manter a forma”, brinca.
Apesar de otimista, o vendedor de rua passou por dificuldades financeiras na capital paranaense. “Não imaginava que moraria na rua quando vim pra cá. Mas me programei para passar dois anos na tentativa de realizar meu sonho, independente das pedras no caminho”, relata Santos.
Mantendo o foco em mente, ele procurou ajuda da prefeitura de Curitiba por meio do Centro Pop, centro de referência especializado para população em situação de rua, e do Vale do Pinhão, programa que promove o desenvolvimento econômico da cidade, que o auxiliaram na participação de cursos e planos de negócio. Foi assim que o futuro empreendedor conseguiu tirar o CNPJ da empresa que ainda está por vir.
O produto, segundo ele, é diferenciado. “Os iogurtes que têm aqui são cheios de conservantes e dá para perceber pelo prazo de validade alto. O meu iogurte terá 250ml e contará com acompanhamentos de frutas como blueberry e spirulina”, se referindo a um condimento natural que possui inúmeros benefícios à saúde.
A receita do produto, ele comenta apenas por cima, já que há o receio de que o segredo familiar venha a público. “Aprendi a fazer o iogurte na fábrica do meu tio, em Minas Gerais. Ele fechou o negócio dele, mas eu levei a receita pra frente”, relata Santos.
Rotina
Como vendedor de balas, o dia a dia não é fácil. Hoje, o vendedor trabalha na esquina entre as ruas Nilo Cairo e Mariano Torres por falta de opção. “Eu trabalhava na esquina de baixo porque o tempo no sinaleiro é maior. Mas é complicado, o pessoal em situação de rua acha que o ponto é fixo, mas não é assim”, desabafa.
Ele explica que com nunca houve nenhum tipo de confusão, na rua ou no hostel, como costuma chamar o abrigo Nova Morada Vida Nova, oferecido pela FAS. O que ele sente falta é a liberdade. “Semana que vem já vou me mudar para um quarto aqui no Centro. O abrigo é bom, mas temos hora para entrar e sair. Dessa maneira, não consigo fazer entrega durante a noite com minha bicicleta e garantir um dinheiro extra”, explica o vendedor. Para ele, morar no Centro é melhor pela logística. “Eu vou pagar R$ 400 para morar em um quarto aqui no Centro. Isso é ótimo porque meu trabalho é por aqui e consigo fazer tudo a pé”, afirma.
Mas não é somente de trabalho que vive Santos. Nas horas de lazer, costuma ir ao cinema, parques e praças. Dos filmes preferidos, ele gosta dos de heróis. “Eu ainda não assisti ao último que saiu, mas não ligo para spoilers não. Sou do tempo que comprava revista em quadrinhos para saber o que ia acontecer no desenho da TV”, relembra.
Futuro
A partir de agora, o vendedor pretende continuar vendendo balas no sinaleiro até outubro deste ano. Com o CNPJ criado há quase um ano, ele conta com um empréstimo para iniciar a carreira empreendedora. “Vou produzir meus iogurtes em uma fábrica e preciso de dinheiro para investir nas máquinas. Meu CNPJ vai me ajudar com isso”, conta.
Enquanto não conquista o sonhado negócio, o mineiro se mantém confiante. “O futuro só a gente vê”, diz, esperançoso.