De forma costumeira, as gestões da prefeitura de Curitiba procuram manter a fama de referência em transporte público conquistada pela capital ao longo dos anos. Mas nem todos os novos equipamentos testados ou prometidos como possíveis melhorias tiveram resultado satisfatório e viraram realidade no transporte coletivo da capital. É o caso dos pontos de wi-fi nos terminais e estações-tubo, bagageiros nos ônibus, espaço para levar bicicletas no biarticulados e até mesmo os painéis de aviso dos horários de chegada dos ônibus nos pontos que não funcionam direito.
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A Gazeta o Povo levantou quatro ideias que não deram certo no transporte coletivo da cidade, seja por motivo financeiro ou por ter caído no desgosto dos usuários dos ônibus, e mais duas ideias que funcionam abaixo do esperado, como os painéis eletrônicos e os hibribus.
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Veja a lista e saiba o porquê de os projetos não terem dado certo:
Bagageiro
Em agosto de 2010, época do prefeito Luciano Ducci (PSB), a prefeitura de Curitiba testou o uso de bagageiro dentro dos ônibus do transporte coletivo da cidade. Eles foram instalados pela Urbs na linha Interbairros 2, alternado com o Interbairros 3, por serem linhas procuradas por estudantes e trabalhadores que costumam levar bolsas e pastas. Segundo a prefeitura, o objetivo era oferecer um espaço para acomodar mochilas, por exemplo, e melhorar a circulação dentro do veículo, principalmente para quem ficava em pé durante o trajeto.
O bagageiro foi testado por 60 dias, no lado direito do ônibus. Nele cabiam de 50 a 60 mochilas grandes. O equipamento era feito de madeira e possuía suporte de ferro. Tinha cerca de 10 metros e é era dividido em quatro partes.
A ideia não deu certo porque o aproveitamento ficou aquém do esperado, mesmo com a aplicação de adesivos sinalizando que o veículo estava equipado com bagageiro e orientando as pessoas a tirarem as mochilas das costas. Além disso, segundo a Urbs, a presença do bagageiro causava certa restrição de acesso aos bancos por causa da altura em que ele ficava. O projeto não avançou e pelo comprovado desinteresse dos passageiros – verificado por pesquisa de observação dos técnicos da Urbs –, não será implantado nos bagageiros nos ônibus urbanos de Curitiba.
BRT-Bike
Curitiba começou a testar o “BRT-Bike” em junho de 2016, no mandato de Gustavo Fruet (PDT). Era um projeto-piloto para permitir que ciclistas levassem as suas bicicletas dentro dos ônibus. Não deu certo. Os testes duraram um mês, na linha Centenário/Campo Comprido, que cobre o eixo leste-oeste da capital paranaense. A linha foi escolhida por ter uma “demanda manifesta” de ciclistas, que seriam beneficiados por essa integração com o sistema de ônibus. Neste período de experiência, dos 24 biarticulados da linha, apenas um deles teve o equipamento instalado.
Os engates eram travas metálicas no fundo do ônibus (com entrada pela porta “5”), nos quais duas bicicletas podiam ser engatadas por cintos de segurança pelos próprios donos. Os ciclistas podiam embarcar em qualquer horário, mas apenas nos terminais Campo Comprido, Campina do Siqueira, Capão da Imbuia, Vila Oficinas e Centenário, além de na estação-tubo da Praça Rui Barbosa. Na época, o aparelho custou R$ 6,5 mil, pagos pela Urbs.
Os testes serviram para determinar, principalmente, o “tempo de operação” do “BRT-Bike” – ou seja, quantos minutos os ciclistas gastavam para embarcar com as bicicletas e engatá-las no equipamento. Além, claro, de avaliar eventuais transtornos que o projeto causaria para outros usuários.
A inciativa não foi levada adiante porque, segundo o relatório da Urbs, em 936 viagens testes – nos períodos da manhã, tarde e noite – o BRT-Bike foi usado 11 vezes por ciclistas.
Além disso, 551 comentários de passageiros aleatórios também foram coletados e 389 deles foram desfavoráveis à instalação do BRT-Bike – mais de 70% das pessoas ouvidas. As opiniões destacadas no relatório alegavam que as bicicletas ocupavam espaço dos passageiros, possíveis acidentes pela circulação de bicicletas durante o embarque/desembarque e a possibilidade da bike se soltar do suporte e machucar alguém. A necessidade de embarcar e desembarcar bicicletas somente nos terminais também foi motivo apontado como falha no projeto, por limitar as opções de deslocamento dos ciclistas.
Face ao resultado constatado, a Urbs não tem em vista a retomada da ação.
Hibribus
Foi em 2012, também no mandato de Ducci (PSB), que os primeiros ônibus híbridos produzidos no Brasil começaram a circular em Curitiba. Eles reduzem em 90% a emissão de poluentes, na comparação com os ônibus que circulam com combustível fóssil, e 35% o consumo de combustível. Chamados de hibribus, eles funcionam com fonte elétrica aliada a um combustível que pode ser o biodiesel (não-fóssil) ou o diesel comum (fóssil).
Na gestão de Rafael Greca (PMN), de acordo com dados da Urbs, na frota de 1.649 ônibus de Curitiba, a cidade utiliza apenas 30 hibribus. Desses, apenas dois funcionam com eletricidade e biodiesel e outros 28 com eletricidade e diesel. Os 30 ônibus representam de 1,8% do total da frota curitibana. Quer dizer que a cidade que já foi modelo para vários países do mundo na questão do transporte ainda enfrenta o problema dos ônibus poluentes, com mais de 97% da frota movida somente a diesel.
Segundo a Urbs, embora circulem poucos hibribus, o projeto de buscar melhoria para o meio ambiente com a ampliação da frota de veículos menos poluentes não está abandonado. Entretanto, o comprometimento da cidade não é com uma tecnologia específica, mas com a solução técnica que se demonstre mais eficaz para a mitigação das mudanças climáticas e a redução dos poluentes. Assim, o plano de ampliar a frota de veículos de baixa emissão jamais foi abandonado, de acordo com a administração municipal, embora esses não precisem ser, necessariamente, os veículos híbridos já operantes na frota. Conforme explica a Urbs, todos os novos ônibus adquiridos a partir de 2017 têm motor Euro 5 e podem rodar tanto com diesel comum como biodiesel.
A prefeitura de Curitiba, atualmente, aposta na ampliação da frota dos ônibus movidos 100% a biodiesel. Para isso, em março de 2019, a Urbs promete colocar em circulação 25 novos biarticulados com motores preparados para uso do chamado B100, ou seja, livre do combustível fóssil, mas a utilização do biodiesel nessa nova frota ainda depende de autorização da ANP. Hoje a cidade já utiliza a cota máxima estabelecida pela agência.
Wi-fi
Prometida ainda na gestão de Fruet (PDT), a implantação de sinal gratuito e aberto de internet sem fio nos terminais do transporte coletivo não chegou a ser implementada. A promessa da prefeitura era de que até 2016 seis terminais teriam wi-fi para uso dos passageiros. Em agosto 2016, a rede foi disponibilizada no terminal do Capão Raso, mas, conforme apurado pela Gazeta do Povo agosto de 2017, o sistema nunca funcionou direito. No Pinheirinho, Cabral, Boqueirão, Campina do Siqueira e Santa Cândida – os outros terminais que deveriam oferecer o serviço até o fim de 2016 –, o sinal sequer chegou.
No entanto no novo Plano Plurianual (PPA) da cidade, o prefeito Rafael Greca (PMN) retomou a promessa de instalar wi-fi em seis terminais de Curitiba. Em agosto de 2018, a prefeitura chegou a anunciar uma parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel) para implantação de internet wi-fi em estações-tubo da cidade. Em um primeiro momento, seriam instalados pontos de wi-fi em 34 estações-tubos da linha Santa Cândida/Praça do Japão. No entanto, mais de um mês após o anúncio, ainda não foi informada a data em que os pontos de wi-fi começarão a funcionar.
O projeto ainda não está funcionando pela falta de recursos. Segundo a Urbs, a ideia da gestão anterior era bancar a implantação dessa rede de wi-fi com recursos do Fundo de Urbanização de Curitiba, que estava com saldo negativo entre o fim de 2016 e começo de 2017. Mas, mesmo com a recuperação do FUC, a prioridade da gestão no momento é usar os recursos para o pagamento da operação do transporte coletivo. A Urbs estuda outros meios como patrocínio e parcerias para a instalação de wi-fi nos terminais. De acordo com a pasta, ainda neste ano já devem começar a instalação das redes de internet em alguns pontos da cidade.
Multa fura-catraca
Desde que começou a fazer operações fura-catraca, em 2017, para coibir a entrada de pessoas nos ônibus de Curitiba sem pagar a passagem, a prefeitura de Curitiba, por meio da Guarda Municipal, já apreendeu 64 pessoas; todas menores de 18 anos. As apreensões foram feitas em operações que ocorreram a partir de março de 2018.
Pela lei municipal 14.856 de 2016, a cada um desses infratores deveria ser aplicada uma multa de 50 vezes o valor da tarifa vigente – o que hoje equivaleria a R$ 212,50. No caso dos infratores reincidentes, o valor da multa seria dobrado. Mas mesmo tendo sido aprovada em 2016, a lei não foi regulamentada por um decreto da prefeito, o que impede a aplicação da multa.
As informações estão em um documento enviado pela prefeitura de Curitiba ao vereador Rogério Campos (PSC), que pediu informações sobre o assunto. Nele, o prefeito Rafael Greca (PMN) afirma que “a gestão 2013/2016 [do ex-prefeito Gustavo Fruet], responsável pela edição de tal diploma, acabou por não cumprir o prazo previsto, restando desta forma ineficaz os efeitos para a devida aplicação das sanções prevista na norma”. Greca não explica no documento os motivos de a atual gestão não ter feito a regulamentação.
Considerando todas as apreensões, caso as multas tivessem sido aplicadas – desconsiderando a hipótese de reincidência – o município teria arrecadado cerca de R$ 13,6 mil.
Painéis
Em dezembro de 2013, também na gestão Fruet (PDT), a prefeitura prometeu que painéis eletrônicos instalados nos pontos de parada dos terminais e nas estações tubo informariam em quanto tempo os ônibus estariam nos pontos. Além do tempo real, o sistema de informação de itinerário do Transit do Google Maps indicaria a melhor opção de ônibus e a melhor opção a partir do ponto de partida. No entanto, alguns painéis não funcionam direito.
Os painéis eletrônicos estão instalados em todos os terminais e estações-tubo, à exceção de 38 , que estão em estações no trecho do desalinhamento nas avenidas Paraná, João Gualberto e Sete de Setembro, e no terminal Santa Cândida.
Segundo a Urbs, alguns desses painéis estão sem informar a previsão de horários por causa de algum dano técnico ou vandalismo. A pasta explicou que, para corrigir esses casos, a prefeitura está trabalhando em um termo de referência para contratação de uma empresa especializada para fazer a devida manutenção.
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