O deputado estadual e ex-delegado Rubens Recalcatti (PSD) negou em entrevista coletiva nesta segunda-feira (19) ter amizade com a família Brittes, envolvida no assassinato do jogador Daniel. A declaração contesta a reportagem do programa Fantástico de domingo (18), na qual o político aparece na festa de aniversário de Cristiana Brittes, 35 anos, esposa do assassino confesso, o empresário Edison Brittes Jr, 38 anos. No vídeo, o ex-policial refere-se a Cristiana como “amiga do peito”.
O nome do ex-delegado, que comandou as equipes da Delegacia de Furtos e Roubos e de Homicídios em Curitiba, surgiu no caso Daniel após a descoberta de que Edison citou Recalcatti no Boletim de Ocorrência de quando foi preso em junho por porte ilegal de arma. Ao ser detido, Edison disse aos policiais que atendiam a ocorrência que ligaria para Recalcatti.
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“Foi dada voz de prisão a Edison. Neste momento Edison começou a declarar que era amigo de oficiais da polícia. Já na Central, Edison continuou realizando contatos através do celular, relatando que iria fazer contato com o deputado Recalcatti”, relata o Boletim de Ocorrência de junho, conforme publicado pelo Fantástico, que teve acesso ao documento.
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“Não vejo nenhum motivo para me relacionarem ao caso Brittes”, declarou o deputado. Ele também afirmou não se lembrar exatamente quando conheceu a família, mas acredita que tenha sido durante a campanha das eleições de 2014, quando concorreu pela primeira vez à Assembleia Legislativa. “Se eu estou no seu aniversário, é claro que vou dizer que você é meu amigo do peito, era uma festa de confraternização”, defende-se.
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Reeleito deputado este ano, Recalcatti comentou ainda que é muito conhecido no bairro onde moram os Brittes e confirmou que esteve na festa de aniversário de Cristiana. “Temos alguma relação, mas uma relação quase de campanha política. Sou um homem bastante conhecido e tenho uma trajetória política ao longo de 40 anos. Já ia muito na casa das pessoas e quando virei político passei a ir mais”, justificou.
O político também refutou que tenha comparecido à delegacia para livrar Edison da prisão em junho. “Jamais ele me ligou e jamais eu fui em delegacia de polícia pedir por ele ou por quem quer que seja. Nem lá trás, nem agora”, enfatiza.
Ao programa Fantástico, o advogado de Rubens Recalcatti, Claudio Dalledone - que também defende a família Brittes - reiterou que seu cliente não é próximo do assassino do jogador Daniel e que ele foi à festa de aniversário de Cristiana para cumprir agenda. “Foi compromisso político, mas não de amizade”.
Outro policial
Recalcatti é réu junto com outros oito policiais de em um processo em que é suspeito de envolvimento no extermínio de um homem em 2015 em Rio Branco do Sul, região metropolitana de Curitiba. Um dos suspeitos deste homicídio é o policial que seria dono do carro em que Edison levou Daniel para ser morto a facadas em um matagal em São José dos Pinhais. Este policial fez parte da equipe de Recalcatti - segundo o próprio deputado, na Delegacia de Homicídios.
O carro, um Hyundai Veloster, está no nome de um material de construção de Piraquara, na região metropolitana, mas estaria de posse deste policial que responde a três processos: assassinato, extorsão mediante sequestro e organização criminosa. O agente está afastado de suas atividades desde junho de 2017.
A informação sobre o veículo faz parte de um inquérito paralelo aberto pela Polícia Civil a pedido do Ministério Público do Paraná (MPPR) para saber se o assassino confesso tem ligação com o crime organizado. Esta investigação é independente do inquérito da morte do atleta.
O deputado afirma que não mantém mais contato com o policial e que por isso não comentaria o caso. “Desconheço a situação do carro e não tenho o que comentar a respeito disso”, afirmou Recalcatti , que negou que o policial preste serviços para ele na Assembleia.
A investigação da possível relação de Edison com o crime organizado leva em conta também o fato de o chip do celular com o qual o assassino chegou a ligar para consolar a família e amigos de Daniel estar no nome de um homem assassinado em 2016. Segundo o MPPR, o dono do chip teria ligações com receptação de carros roubados e foi executado.
Além disso, policiais da Delegacia de São José apreenderam na casa de Edison uma moto de luxo que estaria no nome de um traficante preso. Edison também responde a outros dois processos antes do caso Daniel: por receptação de carro roubado e por porte ilegal de arma.
O caso
O corpo de Daniel Corrêa Freitas foi encontrado em um matagal em São José dos Pinhais no dia 27 de outubro com sinais de tortura: o pescoço estava quase degolado e o pênis decepado. Daniel veio a Curitiba participar da festa de aniversário de Allana Brittes, filha de Edilson Brittes Jr, no dia 26 de outubro. Após participar da comemoração em uma casa noturna no bairro Batel, o jogador foi para outra festa na casa de Edison, dono de um mercado em São José dos Pinhais.
À polícia, o empresário admitiu ter matado o jogador após tê-lo flagrado tentando estuprar sua esposa - versão questionada pela polícia. O jogador chegou a enviar via Whatsapp a um amigo imagens dele ao lado da esposa de Edison na cama do casal, o que teria levado o empresário a cometer o assassinato. Nas fotos, Cristiana dorme enquanto o jogador faz caretas.
Daniel foi espancado na casa da família e levado para um matagal no porta-malas do carro de Edison. De acordo com o empresário, ele decidiu matar o atleta com uma faca que tinha no carro. Entretanto, Eduardo afirmou em seu depoimento nesta segunda-feira (12) que viu Edison pegar a faca na cozinha da residência.
Antes de ser preso, o empresário chegou a ligar para a família e para amigos de Daniel a fim de prestar solidariedade. Allana também trocou mensagens com uma parente de Daniel afirmando que não houve briga na casa da família e que o jogador foi embora sozinho na noite do assassinato.
Daniel teve passagem apagada pelo Coritiba em 2017, prejudicada por lesões. Natural da cidade de Juiz de Fora (MG), teve também passagens por Cruzeiro, Botafogo, São Paulo, Ponte Preta e estava atualmente no São Bento de Sorocaba (SP). O corpo do jogador foi enterrado no dia 31 de outubro na cidade de Conselheiro Lafaiete, também em Minas Gerais.
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