Em quatro anos, o sistema de transporte público da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) teve queda de 25% no número de passageiros. Em 2015, eram 8,5 milhões de usuários. O número passou para 6,3 milhões em 2019 – menos 2,2 milhões de pessoas. Apesar do resultado do período, o ano de 2019 apresentou estabilidade no número de passageiros.
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De 2015 para 2016, a Rede Integrada de ônibus perdeu 600 mil usuários. Uma redução de 7,5%. De 2016 para 2017, a queda foi bem maior: de 17,7%. No período, 1,4 milhão de pessoas deixaram de utilizar os ônibus do transporte público. Entre os anos 2017-2018, a queda foi menor, de 3%, ou 200 mil passageiros. E no ano passado, houve uma redução de 12.108 usuários, ou 0,19%.
Para o presidente da Comec, Gilson Santos, os números de 2019 foram positivos frente ao cenário de grande concorrência com outros modais. “Poderia ter caído mais. Porque nós tivemos um reforço na competição com aplicativos, que passaram a operar em algumas cidades da região metropolitana. Nosso grande desafio é resgatar esse passageiro que está mudando para o aplicativo”, avalia.
Dentro da estratégia criada para evitar novas perdas de passageiros - o que inclui repensar o funcionamento do sistema -, a Comec, em parceria com as empresas operadoras, investiu R$ 32 milhões em 2019. Esses gastos incluem a compra de 66 veículos e a reforma dos terminais do Campina Grande do Sul, Almirante Tamandaré e Fazenda Rio Grande.
Reforçar a estrutura física existente não é suficiente para reverter o declínio do transporte coletivo tradicional. Diante disso, foram criadas também sete novas linhas - Hospital do Rocio, Hospital Angelina Caron, Pinhais; Centenário, Tunas do Paraná; Curitiba, Pinhais; Bairro Alto, Tupy; Juliana e Terminal Maracanã; Guadalupe (pela Linha Verde) - para tentar atrair outros usuários. Mas Santos sabe que para que as 200 linhas disponíveis no sistema sejam utilizadas é preciso muito mais. A dor de cabeça que já está na mira é a integração dos cartões de transporte com outras cidades que integram o Sistema de Transporte.
Cartão de transporte integrado
Hoje, muitas cidades possuem sistemas próprios e, com isso, o passageiro, em algumas situações, precisa utilizar até três cartões diferentes em um mesmo trajeto: o cartão da cidade em que moram, o da Comec e o de Curitiba, quando viagens são feitas dentro da capital.
O presidente da Comec estima que, em dois anos, a situação esteja resolvida. “Eu imagino que vai demorar uns dois anos, mas acredito que antes ainda a gente consiga unificar a utilização do cartão. Essa talvez seja a principal demanda do usuário”.
Para especialistas, essa é uma discussão essencial. “Se eu tenho um cartão e posso usar no transporte urbano e intrametropolitano, isso torna mais amigável e simplificado o uso do sistema. Do ponto de vista de política pública é fundamental que funcione bem”, afirma o arquiteto e urbanista Carlos Hardt, professor e pesquisador do programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
O professor Cassius Tadeu Scarpi, doutor e mestre em Pesquisa Operacional e coordenador do Grupo de Tecnologia Aplicada à Otimização (GTAO) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pondera que é imperativo pensar em outras formas de funcionalidade do sistema. Ele compara, por exemplo, com um serviço de TV por assinatura. “Você paga a TV (por mês) e usa o quanto quiser. Imagine se tivesse o mesmo serviço (no transporte): eu conseguisse um crédito e tivesse tantos quilômetros para andar. Você pensaria: já paguei a mensalidade, vou usar o serviço”, analisa.
Outra sugestão seria a implantação de tarifas proporcionais, quando o usuário paga pela quilometragem que utiliza. Além do valor máximo da tarifa, que poderia ser de R$ 4,50 (valor atual da passagem), por exemplo, poderia haver tarifas mais baratas para trajetos menores. “A tarifa proporcional é para atrair passageiros para trechos curtos, que dão mais lucro”, observa o professor da UFPR.
Relação entre ônibus e momento econômico
A grande queda na utilização do transporte público não pode ser vista apenas como uma opção entre um modal ou outro, embora a concorrência seja um fator importante na equação.
Para Cassius Tadeu Scarpi, o transporte público precisa ser analisado dentro do contexto econômico do país. Ele afirma que a queda foi bastante expressiva em 2017 devido à regularização de aplicativos de transporte na capital. “Isso foi mais forte em Curitiba (onde a regularização aconteceu), mas refletiu na Comec com muita intensidade”, afirma.
Segundo o docente, as pesquisas mostram que a partir de 2018 a queda continuou forte devido ao desemprego. “Quem é o usuário do transporte público? Aquele cidadão que não tem salário tão alto a ponto de ser viável o aplicativo. E o que acontece é que geralmente é ele quem tem que andar trechos muito longos”, complementa.
Na avaliação do doutor em Pesquisa Operacional, 2019 não apresentou queda tão expressiva, pois a economia começou a dar sinais de recuperação. O professor acredita que se o cenário continuar positivo economicamente – com crescimento do número de empregos, especialmente – é possível que haja um crescimento entre 0,5% e 1% de usuários do transporte.
Análise semelhante é feita pelo arquiteto e urbanista Carlos Hardt, professor e pesquisador do programa de Mestrado e Doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). “Os deslocamentos que acontecem particularmente numa região metropolitana têm, talvez, como principal origem e causa o aumento da atividade econômica, que gera necessidade de aumento de circulação de pessoas. Isso, genericamente, acontece em qualquer lugar”, avalia Hardt.
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