A dificuldade de agendar horário para emitir uma nova via do RG pelo sistema do Instituto de Identificação do Paraná (IIPR) fez com que centenas de curitibanos madrugassem na fila da segunda edição do Mutirão da Cidadania, que começa nesta quinta-feira (1.º) na Rua da Cidadania do Boa Vista. O desespero é tanto que, para concorrer a uma das 400 senhas distribuídas, teve gente que esperou quase 17 horas na fila. Há dois anos a população enfrenta problemas para agendar atendimento no site do IIPR, órgão vinculado à Polícia Civil, sem que haja solução.
Veja o tamanho da fila de espera na Regional do Boa Vista
Foi o caso da autônoma Rosimari dos Santos, de 38 anos, que chegou à Rua da Cidadania do Boa Vista às 16h30 de quarta-feira (28) para garantir o atendimento junto com as filhas de 14 e 15 anos. Moradoras do bairro Santa Cândida, ela conta que tenta há três anos fazer a segunda via da sua carteira de identidade e das filhas pelo agendamento do Instituto de Identificação sem sucesso. Assim, sabendo do mutirão, se planejou para pernoitar na fila, garantir a senha e finalmente renovar o RG, o documento mais básico do cidadão brasileiro.
Veja também: Insegura e suja, Praça Tiradentes perde força como ponto turístico
“Tem que garantir para não perder essa chance. Desde que a minha filha mais nova fez 10 anos estamos nesse vai e vem da Polícia Civil para fazer identidade e não dá certo”, reclama Rosimari. “Eu não tenho computador em casa, preciso ir na lan house, que abre às 9h, mas às 9h10 não tem mais senha”.
O problema a que a autônoma se refere é exatamente a dificuldade que há anos os curitibanos enfrentam na hora de emitir um novo documento de identidade. Para fazer o agendamento, é preciso entrar pontualmente às 9h no site do IIPR para tentar encontrar um horário disponível. No entanto, mesmo que a pessoa se programa para isso, não consegue marcar atendimento e precisa recorrer aos mutirões da prefeitura para conseguir o mais básico de todos os documentos brasileiros — mesmo que, para isso, seja preciso esperar por dezenas de horas em uma fila.
E Rosimare não foi a única a ficar quase 17h esperando. A segunda pessoa na fila era Ana Bezerra, de 43 anos, que também chegou à Rua da Cidadania na tarde de quarta-feira. Segundo ela, quem chegou quarta-feira precisou passar a madrugada sem ir ao banheiro, já que a regional do Boa Vista fechou às 22h e os funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que fica ao lado não teriam deixado as pessoas utilizassem os sanitários. “Esse é o nosso Brasil. É fila para identidade, para saúde, para tudo”, afirma. Os banheiros químicos só foram instalados nas proximidades por volta das 8h30 desta quinta — quando a fila já estava quilométrica.
Comodidade mínima
De acordo com a prefeitura de Curitiba, o Mutirão da Cidadania do Boa Vista vai distribuir 1.100 senhas para a emissão do RG, sendo 400 somente nesta quinta-feira. Contudo, mesmo com o atendimento se iniciando às 9h, já haviam mais de 460 pessoas por volta das 8h — e a quantidade não parava de aumentar.
E, ao contrário do que aconteceu no mutirão de fevereiro, em Santa Felicidade, os responsáveis pela Regional do Boa Vista disponibilizaram cadeiras para que as pessoas pudessem aguardar sentadas. Segundo os organizadores, a estimativa é de que cerca de 200 assentos tenham sido oferecidos. Além disso, muita gente decidiu se precaver e levou sua própria cadeira de casa para não passar horas esperando em pé.
Ainda assim, mais e mais pessoas chegavam para aumentar o número já superlativo de interessados em uma nova via da identidade. Por volta das 8h20, quando mais de 500 pessoas já aguardavam na fila, um servidor da regional avisava que os grupos fora das 400 senhas poderiam ficar sem atendimento. A orientação não era para que eles deixassem a fila, mas que eles poderiam acabar esperando para nada.
Como nos demais atendimentos, a Polícia Civil só faz o RG de quem tem toda a documentação exigida. Caso contrário, a pessoa é dispensada e o próximo da fila é chamado. Isso mantém a esperança de quem já está na cota extra da fila, como a dona de casa Lídia Gonçalves, de 45 anos. Ela veio de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, com os dois filhos, uma de 5 e outro de 12. O mais velho precisa para fazer CPF, já que já tem que constar no Imposto de Renda da família este ano. Ela chegou pouco antes das 8h30 e foi avisada sobre a possibilidade de não conseguir a senha hoje. “Mas vou ficar. A gente não sabe se todo mundo vem com os documentos certos. Tem gente que não traz tudo o que eles pedem”.
Sem problemas
Enquanto pessoas como Rosimari esperam há pelo menos três anos para fazer seu RG, a Polícia Civil considera que não há problemas no sistema de agendamento. Por meio de nota, o IIPR diz reconhecer a grande procura pela internet e diz trabalhar constantemente com a organização e participação em eventos públicos, como o próprio mutirão desta quinta-feira. De acordo com o órgão, são liberadas diariamente 756 vagas para Curitiba, Região Metropolitana e Litoral do estado.
Para tentar resolver o problema, o IIPR afirma que existem projetos que podem melhorar o atendimento. “Entre eles, a abertura de concurso público, a contratação de funcionários terceirizados e uma solicitação de convênio junto as prefeituras – para que os documentos sejam feitos nas ruas das cidadanias”, afirma o texto. Além disso, o instituto aponta que mais de 30% dos agendamentos online não são realizados, já que a pessoa não comparece aos postos para fazer o documento.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Deixe sua opinião