O Paraná será o primeiro estado brasileiro a participar de um programa do governo federal para tentar diminuir o tempo que crianças e adolescentes passam na frente de celulares e computadores. Batizado de Desafio Detox Digital, o projeto desenvolvido pelo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos vai levar para as escolas estaduais atividades e discussões sobre os riscos que uso excessivo de dispositivos eletrônicos traz para a saúde, segurança e até nas relações pessoais do indivíduo.
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O programa será lançado já no próximo dia 8 de julho e deve ir além das palestras e seminários em sala de aula. “O objetivo é manter o equilíbrio entre o online e o offline. Para isso, contamos com áreas como esporte, cultura e lazer para que haja uma substituição do tempo que a criança estaria fazendo uso das redes”, explica a assessora técnica da Secretaria Estadual de Justiça e uma das coordenadoras do projeto no Paraná, Cineiva Campoli Tono.
Para isso, o Detox Digital vai contar com uma espécie de força-tarefa na hora de levar o debate para as crianças. Além das secretarias de Justiça e Educação, compõem o grupo as pastas de Saúde, Segurança e Assistência Social do governo estadual, assim como o Ministério Público e o próprio Poder Judiciário. No entanto, são os pais e professores que devem assumir a linha de frente na discussão.
Tanto que, de acordo com Cineiva, a primeira ação do programa vai mirar justamente nos familiares, como uma forma de criar uma conexão entre a escola e os responsáveis pelo aluno. “Vamos repassar informações para eles, já que estamos em uma aliança e precisamos uns dos outros”, diz.
Segundo ela, uma das ações planejadas para os pais é justamente o envio do Marco Civil da Internet, que regula o uso da rede no país, para que eles saibam que existem direitos e deveres para quem navega e que a internet não é terra sem lei. “Muitos pais não sabem que classificação etária de alguns aplicativos é a partir dos 13 anos, por exemplo”, pontua a assessora técnica. Para ela, a conscientização é o primeiro passo do trabalho.
A ideia é levar o Detox Digital para os 32 núcleos regionais de Educação do Paraná. No entanto, já há planos para que o programa chegue também em escolas municipais e particulares. De acordo com Cineiva, duas escolas particulares no estado já estão participando do projeto, mas o objetivo é expandir. O contato, contudo, só deve ser feito quando o projeto já estiver em andamento — ou seja, ainda sem previsão de quando deve acontecer.
Especialistas aprovam
Embora ainda não tenha saído do papel, especialistas aprovam a iniciativa do Detox Digital. Segundo o médico psiquiatra Marcelo Daudt von der Heyde, professor do curso de Medicina da Pontifícia Católica do Paraná (PUCPR), a ideia do programa é boa. Segundo ele, fazer o jovem sair da frente do celular ao apresentar outras atividades é bastante eficiente e ajuda a reduzir o tempo que ele fica conectado. “A forma mais eficaz é ele ser convencido a mudar e não coagido a isso”, diz.
Para o médico, a principal preocupação em relação ao uso exagerado de dispositivos eletrônicos e internet é o impacto na saúde mental do indivíduo. “Devido à exposição, o córtex frontal do cérebro fica mais fino. Isso significa que há um aumento da impulsividade, dificuldades de processar a memória e dificuldade de aprofundamento”, aponta. Além disso, ele destaca que isso ainda pode gerar ansiedade e, em alguns casos, servir de gatilho para a depressão para quem possui algum tipo de vulnerabilidade mental.
Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma recomendação de que crianças de até dois anos não tenham contato algum com telas interativas. Já entre os 2 e os 6 anos, a indicação é que o uso não ultrapasse uma hora por dia. A partir dos 7, é preciso de supervisão intensiva dos pais.
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