Carregando flores e velas, famílias, casais, amigos, monges e freiras entravam pelo portão principal do Cemitério Municipal São Francisco de Paula na manhã deste sábado (2), Dia de Finados, em Curitiba. “Sabe, Francisca, quando eu entro no cemitério eu fico imaginando as mães”, confidencia, reticente, uma senhora à sua amiga. O comentário entreouvido em meio ao movimento é a razão que leva voluntários de diferentes igrejas cristãs aos cemitérios nesta data.
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Para amenizar a solidão e a tristeza que muitos sentem no Dia de Finados, dezenas de voluntários cristãos distribuíram rosas brancas no cemitério pela manhã. À tarde, o grupo realiza a ação no Cemitério Municipal do Água Verde. “Todo mundo presta homenagens aos mortos no dia de hoje, mas muitas dessas pessoas estão sozinhas. Elas também precisam receber amor e atenção”, disse Laura Siza, voluntária de 27 anos da House Church. Ela participa há três anos da ação.
A abordagem rende reações diversas: da incredulidade ao desabafo, todas terminam com um sorriso do interlocutor ao ouvirem a pergunta “Alguém já lhe deu uma flor hoje?”. Junto da rosa, os voluntários passam uma mensagem de alento e carinho e se oferecem para fazer uma prece.
“Muitas das pessoas que vêm orar no cemitério hoje não têm com quem conversar, não ganham um minuto de atenção. Uma senhora chorou muito quando lhe demos a flor. É importante demonstrar amor também aos vivos”, defende Laura, que estava com outros dois voluntários, William Soga, 29 anos, há oito anos evangelista, e Thiago Cardoso de Oliveira, 33 anos. Ambos são da ABA - Aliança Bíblica de Avivamento e participaram da ação pela primeira vez neste Dia dos Finados.
Durante a manhã, o movimento começou mais intenso e a partir das 9h30, conforme a temperatura aumentava, muitas pessoas deixavam o cemitério para as missas de finados ou para se abrigar na sombra, do lado de fora do cemitério. O tráfego pela região do Municipal era tranquilo, sem filas entre as 10h e 10h30, e voluntários da Igreja Guadalupe, responsável pela missa das 11h em uma das capelas do local, circulavam entre as quadras do cemitério para repassar informações e prestarem auxílio.
Em volta da Cruz das Almas, subia o cheiro de cera derretida e o som do murmúrio das preces individuais. Nos túmulos, havia quem orasse, varresse, repusesse flores e retirasse as ervas daninhas que teimam em nascer pelas frestas de granito. Uma mulher acompanhada da filha adolescente para em frente ao jazigo da família e timidamente cumprimenta as almas: “Oi, gente, tudo bom?”, enquanto ajeitava o retrato do pai.
Umas quadras abaixo, dois casais de idosos se encontram por acaso, param em uma sombra para conversar e gargalham das coincidências da vida. Nas saídas laterais dos cemitérios, mais voluntários com rosas a postos: “Você também é importante”, respondem, ao ouvirem diferentes histórias.