Depois de diversas brigas com taxistas que utilizam o ponto localizado em frente ao Shopping Estação, motoristas de aplicativos de transporte como Uber, Cabify e 99 passaram a evitar o embarque e desembarque de passageiros pela entrada central da Avenida Sete de Setembro. A ideia, segundo os motoristas, é evitar confrontos e novas tensões.
A reportagem da Gazeta do Povo solicitou uma corrida pelo aplicativo até o shopping e, no trajeto, o motorista confirmou a mudança. “Eu sei que você solicitou no aplicativo a parada na Avenida Sete Setembro, mas não dá mais para pararmos ali porque tivemos problemas com os taxistas, sabe? Mas eu posso deixar você no acesso da Rua Rockfeller”, revelou o condutor da Uber, sem saber que transportava um repórter.
- Vídeo - taxistas criam barreira na porta de shopping
Um funcionário do shopping que preferiu não se identificar presenciou várias das intrigas que levaram à decisão dos motoristas de aplicativos. Segundo ele, é comum ouvir taxistas xingando os outros condutores, dando pontapés em seus carros e até atirando pedras contra os concorrentes. “Eu estava na porta do shopping, quando isso aconteceu. O taxista viu o Uber parar, saiu do táxi soltando um monte de palavrões e começou a atirar pedrinhas com um estilingue. Podia ter machucado o passageiro do outro”, lamentou.
Em outra situação, segundo o funcionário do shopping, um rapaz parou seu carro para embarcar um idoso próximo ao ponto de táxi da Avenida Sete de Setembro, mas precisou sair do veículo para acalmar os ânimos na fila dos táxis. “Quando ele estacionou, um taxista desceu e começou a gritar falando que Uber não podia parar ali. O rapaz também desceu do carro chamando o outro de louco e disse que só estava pegando o pai dele no shopping. Foi uma situação constrangedora”.
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De acordo com um taxista de 38 anos que trabalha no local desde 1999, casos como esses começaram em 2016, quando os aplicativos ainda não eram regulamentados. “O motivo era a luta contra a concorrência ilegal”, disse. No entanto, o prefeito Rafael Greca (PMN) regulamentou por decreto o serviço de transporte individual de passageiros por meio de aplicativos e, mesmo após a regulamentação, as desavenças continuaram. “Sempre tem uns que perdem a cabeça porque os diretos não são iguais e a concorrência se torna desleal. Mas eu acho que as brigas não vão levar a lugar nenhum”.
Guerra Fria
Por isso, ele e vários colegas decidiram colocar em prática uma ação diferente para espantar os motoristas de aplicativos do ponto do táxi. “Começamos a estacionar os táxis bem encostados um no outro. Assim, o passageiro não consegue passar entre os táxis para pegar um Uber. Isso é para própria segurança dele, evitando acidentes”, justificou.
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No entanto, nem todos os taxistas aderiram à “guerra fria”. “Eu não brigo com ninguém e também não me envolvo nessa de encostar no carro da frente porque sei que todos querem trabalhar. E não está fácil pra ninguém nessa época de crise”, afirmou um taxista de 52 anos que atua na profissão há 16 anos.
Uso comum
Enquanto taxistas e motoristas de aplicativos trabalham em meio às intrigas, passageiros como a atendente Maria Eduarda Carroquei, 26, se adequam às mudanças. “O motorista me deixou nessa entrada quando eu cheguei, então estou aguardando no mesmo lugar para ir embora”, comentou a jovem, enquanto esperava na porta do acesso à Rua Rockfeller. “Eu não sabia dessa briga aqui no shopping, mas a situação entre taxistas e Uber já é antiga e passou da hora de acabar. Se não existisse o aplicativo, eu iria de ônibus como fazia antes. Não ia usar o táxi”, completou o estudante de engenharia mecânica João Vitor Ferreira, 21.
Já o casal Rose Nascimento e Gilson Nunes acredita que, além de ser desnecessária, a guerra entre taxistas e motoristas de aplicativos também viola os diretos da população de ir e vir. “Ninguém pode ser dono da entrada de um shopping porque a rua é um espaço público e as pessoas têm direito de chegar e ir embora no portão que preferirem”.
Em nota, a Uber também se posicionou a respeito da situação, afirmando acreditar “que todo cidadão tem o direito de escolher como quer se movimentar pela cidade, assim como o direito de trabalhar honestamente”.