O promotor de Justiça João Milton Salles, do Ministério Público do Paraná (MP-PR) em São José dos Pinhais, que acompanha as investigações da morte do jogador Daniel Corrêa Freitas, informou que o principal acusado do crime, Edison Brittes, utilizou um celular de um homem assassinado em 2016, na mesma cidade. O chip do celular, com o qual Brittes teria ligado para a família da vítima para dar os pêsames, pertencia a Fernando Sidral de Oliveira, que foi fuzilado em sua residência, no bairro Cristal, e estaria envolvido em crimes de receptação de veículos e adulteração de placas.
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A informação foi descoberta porque o número de telefone ficou registrado nos celulares da família de Daniel. “Esse fato em si não diz respeito à investigação de homicídio que está sendo imputado ao Edison [Brittes]. O que há são indícios de outros envolvimentos criminosos por parte dele, da mesma forma que a motocicleta que ele estava usando pertencia a um traficante”, observa Salles.
De acordo com o promotor, essas informações servem para demonstrar o comportamento social do acusado e podem ser usadas para posteriormente fixar a pena, por exemplo. “O perfil, muitas vezes, mostra o porquê de ele ter tido uma reação desproporcional ao relação ao ocorrido, mostra uma personalidade mais agressiva”, afirma.
Sobre a acusação de estar em posse de um celular de uma pessoa que teria sido morta há dois anos, o advogado Claudio Dalledone Júnior, que defende a família Brittes, afirmou que “não vai comentar a respeito fatos periféricos ao caso”.
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Indiciados
Segundo o delegado que investiga o caso, Amadeu Trevisan, seis pessoas devem ser indiciadas pela morte do jogador. Apesar de terem tido papéis diferentes nos eventos que resultaram no assassinato do atleta, todos tiveram uma participação no crime, segundo ele, e serão responsabilizados por homicídio qualificado.
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No entanto, de acordo com Salles, quando o inquérito chegar à Promotoria, caberá a ele analisar cada uma das condutas dos indiciados e tipificar os crimes cometidos, pois os eventos que envolvem a morte de Daniel vão desde agressões, mutilação e homicídio até a adulteração do local do crime. “Não necessariamente todos esses crimes foram cometidos pelas mesmas pessoas”, esclarece o promotor.
De acordo com o delegado, Edison Brittes foi o principal responsável pelo homicídio e por ameaçar alguns dos envolvidos a o acompanharem até o local onde o corpo do jogador foi deixado, em uma área rural de São José dos Pinhais. Cristiana e Allana Brittes, respectivamente esposa e filha de Edison Brittes, teriam ajudado a acobertar o crime.
Além da família Brittes, Igor King, 19 anos, David Willian da Silva, 18, e Eduardo Henrique da Silva, de 18 anos, primo de Cristina, serão indiciados. Os três estavam no carro com Edison Brittes e Daniel no momento em que ele foi levado para o matagal. O atleta foi espancado, degolado e teve o pênis decepado antes de ter o corpo abandonado.
O caso
O corpo de Daniel Corrêa Freitas foi encontrado em um matagal em São José dos Pinhais no dia 27 de outubro com sinais de tortura: o pescoço estava quase degolado e o pênis decepado. Daniel veio a Curitiba participar da festa de aniversário de Allana Brittes, filha de Edilson Brittes Jr, no dia 26 de outubro. Após participar da comemoração em uma casa noturna no bairro Batel, o jogador foi para outra festa na casa de Edison, dono de um mercado em São José dos Pinhais.
À polícia, o empresário admitiu ter matado o jogador após tê-lo flagrado tentando estuprar sua esposa - versão questionada pela polícia. O jogador chegou a enviar via Whatsapp a um amigo imagens dele ao lado da esposa de Edison na cama do casal, o que teria levado o empresário a cometer o assassinato. Nas fotos, Cristiana dorme enquanto o jogador faz caretas.
Daniel foi espancado na casa da família e levado para um matagal no porta-malas do carro de Edison. De acordo com o empresário, ele decidiu matar o atleta com uma faca que tinha no carro. Entretanto, Eduardo afirmou em seu depoimento nesta segunda-feira (12) que viu Edison pegar a faca na cozinha da residência.
Antes de ser preso, o empresário chegou a ligar para a família e para amigos de Daniel a fim de prestar solidariedade. Allana também trocou mensagens com uma parente de Daniel afirmando que não houve briga na casa da família e que o jogador foi embora sozinho na noite do assassinato.
Daniel teve passagem apagada pelo Coritiba em 2017, prejudicada por lesões. Natural da cidade de Juiz de Fora (MG), teve também passagens por Cruzeiro, Botafogo, São Paulo, Ponte Preta e estava atualmente no São Bento de Sorocaba (SP). O corpo do jogador foi enterrado no dia 31 de outubro na cidade de Conselheiro Lafaiete, também em Minas Gerais.