Elogiado como “estadista” pelo presidente Jair Bolsonaro na posse da nova diretoria da Usina de Itaipu nesta semana, o ditador paraguaio Alfredo Stroessner passava férias no Litoral do Paraná. Era na casa de amigos de frente para o mar e depois em uma mansão própria em Guaratuba que o general que governou o país vizinho à mão de ferro por 35 anos, de 1954 a 1989, costumava passar o verão.
E apesar da tortura, censura, eleições fraudadas e envolvimento das forças armadas com tráfico de drogas durante o regime ditatorial paraguaio, além de acusações de envolvimento pessoal do presidente com pedofilia e tráfico de crianças, Stroessner é lembrado com certo louvor em Guaratuba. Tanto que existe uma praça com o nome do ditador na cidade. Inaugurada pelo governador Ney Braga e pelo prefeito Antonio Franco Ferreira da Costa Filho em abril de 1980, a praça ainda hoje é visitada por muitos turistas paraguaios que veneram o general.
“Na época, a cidade achava muito importante e chique ter ele aqui, porque Guaratuba era muito pequena e não imaginava ter o presidente de um país na nossa praia”, lembra o caseiro Maurício Nunes da Silva, 49 anos, que mora em frente à Praça Presidente Alfredo Stroessner, no Balneário Brejatuba.
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A praça fica em uma praia que passou a ser conhecida como Praia dos Paraguaios justamente pela presença de turistas do país. Entre os primeiros frequentadores paraguaios estava uma família de amigos de Stroessner, cuja casa o ditador frequentava no início da década de 80.
A lembrança de Stroessner em Guaratuba é uma das mais marcantes da infância de Maurício. Ele recorda que era comum ver a comitiva oficial do presidente, um estafe de seguranças e outros funcionários, além de os próprios integrantes do governo circulando pela praia. “Mas o presidente em si era muito difícil a gente ver. Ele era uma pessoa muito reservada”, conta.
Logo após ser deposto em mais um golpe político no Paraguai em fevereiro de 1989, Stroessner se exilou no Brasil. Veio morar na mansão que adquiriu em Guaratuba. No imóvel de 14 cômodos no Balneário Brejatuba, ele viveu dois meses, antes de se mudar para Brasília, onde viveu 17 anos até morrer em agosto de 2006, aos 84 anos de idade. E neste período em que morou de fato no Litoral paranaense era mais difícil ainda avistá-lo. Até quem trabalhava na mansão o via raras vezes.
É o caso de Maria Iolita Correia da Silva, de 71 anos, que fazia a faxina do imóvel . Na época, ela trabalhava para a família de paraguaios que hospedava o ditador. Quando o general se mudou para Guaratuba, Maria passou a ser responsável pela limpeza da mansão de Stroessner.
“Todos os paraguaios eram muito gente boa, me tratavam bem”, afirma Maria. Mesmo tendo acesso à residência, dona Maria afirma que viu Stroessner poucas vezes. Uma delas foi na inauguração da praça. “Desse dia eu lembro bem, porque prepararei os salgadinhos da festa da inauguração. Mas não falei com ele. Ele era muito importante”, conta.
Em entrevista à Gazeta do Povo no ano da morte de Stroessner, o deputado estadual Nelson Justus (DEM), cujo filho, Roberto Jusus (DEM), é o atual prefeito de Guaratuba, lembrou que o general gostava muito de ir à praia, de fazer churrascos e conversar sobre futebol e música. “Éramos vizinhos no litoral. O general queria muito voltar ao Paraguai”, declarou o deputado em entrevista em 2006 sobre o exílio do ditador.
Pedofilia
Quanto às acusações de pedofilia, dona Maria afirma nunca ter ouvido nada sobre isto: “Acho que não deve ser verdade, eles não eram disso”, acredita. Ela continua morando ao lado da casa do ditador na Praia dos Paraguaios. Por ali, ainda é comum conterrâneos do ditador perguntarem pela praça ou por mais detalhes de quando o general descansava em Guaratuba, explica o caseiro Maurício Silva. “Muitos paraguaios ainda vêm para cá. Neste último mês de janeiro chegaram a vir uns dois por dia perguntar sobre o ditador”, relata o morador da região.
Já na região da mansão de Brejatuba, não há muitos vizinhos que se lembrem com precisão da época de Stroessner. Colado ao muro da residência há um hotel, onde os funcionários explicam que a propriedade ainda é da família do militar paraguaio. Porém, eles preferem não se aprofundar muito no assunto.
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