Em meio à pandemia do novo coronavírus, um estudo feito pelo Instituto Pólis ao longo de 60 dias avaliou como anda o discurso eleitoral de oito possíveis candidatos à prefeitura de Curitiba. A conclusão foi de que o atual prefeito, Rafael Greca (DEM), e o deputado federal e ex-prefeito Gustavo Fruet (PDT) são os mais ativos em postagens, comentários e propostas sobre questões atuais e urgentes na capital paranaense, como a saúde pública. Veja o resultado do estudo no final desta reportagem.
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“Sabemos que a pandemia é mundial, mas as respostas e políticas públicas almejadas pelo eleitor durante a campanha precisam tratar do âmbito local”, explica a cientista política Carolina de Paula, coordenadora do estudo. Para o instituto, a temática da saúde deve ganhar grande relevância na campanha deste ano. Além disso, em razão das medidas de restrição a aglomerações e à circulação de pessoas, o corpo a corpo deve ficar praticamente inviabilizado, dando ainda mais relevância às mídias digitais na disputa. Se o calendário eleitoral não foi alterado, o período oficial de campanha deverá ter início no dia 16 de agosto.
Além de Greca e Fruet, o estudo considerou como pré-candidatos à prefeitura de Curitiba os deputados estaduais Fernando Francischini (PSL) e Goura Nataraj (PDT), o deputado federal Luizão Goulart (Republicanos), o ex-secretário estadual de Justiça, Família e Trabalho, Ney Leprevost (PSD) e os médicos João Guilherme (Novo) e Dr. Rosinha (PT) – este último já descartou a disputa pelo Executivo da capital paranaense.
No levantamento foi analisado um universo de 1.150 posts feitos no Facebook pelos oito nomes, no período de 15 de março e 15 de maio. Foram selecionadas, por meio de um software de raspagem de dados, publicações que fizeram menção aos termos “covid-19”, “covid”, “coronavírus”, “corona”, “vírus”, “quarentena”, “isolamento” ou “pandemia”. O Facebook foi escolhido por ser a rede social com o maior volume de conteúdo público nos perfis dos pré-candidatos.
A análise mostrou que, no período analisado, Greca deu grande ênfase em conteúdo informativo sobre ações da prefeitura no enfrentamento à Covid-19, gerando alto engajamento dos cidadãos. Fruet também deu foco às questões municipais, porém em uma narrativa crítica à gestão da cidade.
Com o maior número de seguidores (mais de dois milhões), Francischini também apresentou alta taxa de engajamento, porém em temas relacionados ao governo federal, sem uma comunicação direta com moradores de Curitiba. “Adota uma estratégia de comunicação sobre a Covid-19 em que compartilha as ações do presidente Jair Bolsonaro [sem partido], inclusive as polêmicas medidas de uso da cloroquina e o apoio ao ministro Paulo Guedes [Economia]”, diz o estudo.
Para as analistas - três diretoras do Instituto Pólis - , João Guilherme e Luizão Goulart apresentaram comportamento semelhante, sem críticas nem apoios e com baixo engajamento em suas postagens. “Vemos que ambos ainda não entraram de fato na disputa sobre as ações relativas à Covid-19 na capital paranaense”. A diferença, aponta o levantamento, é que o pré-candidato do Novo segmenta o enfoque nos âmbitos municipal, estadual e federal, enquanto o deputado repercute ações relativas à esfera federal em quase a totalidade dos casos.
Leprevost, que no período analisado ocupava o cargo de secretário estadual, mencionou ações informativas sobre o governo de Carlos Massa Ratinho Júnior (PSD) em 88% das postagens avaliadas.
Entre os dois pré-candidatos do PDT, Fruet é considerado o que mais discute temas intrínsecos à cidade, enquanto Goura opta por distribuir sua intensa comunicação sobre ações referentes às três esferas da Federação – “algumas de tom crítico (em especial sobre o governo federal), mas também mesclando temas de mobilidade urbana e mensagens de reflexão sobre o momento da pandemia, com caráter mais generalizado.”
O Instituto Pólis avaliou ainda o comportamento do petista Dr. Rosinha na rede social, classificando-o como o que oferece o maior volume de críticas (80% do conteúdo), sendo direcionadas em sua ampla maioria ao governo federal (77% das ocorrências). O PT, no entanto, deve escolher para representar o partido na disputa pela prefeitura de Curitiba entre o deputado estadual Tadeu Veneri e o professor de Direito Paulo Opuszka.
O que pensam os candidatos
Procurados pela reportagem, os pré-candidatos são unânimes ao considerar que as redes sociais devem se tornar mais relevantes nas eleições municipais deste ano, tanto em razão da tendência natural de as campanhas migrarem para mídias digitais, quanto pela situação de pandemia que inviabiliza grandes mobilizações nas ruas. A disseminação de fake news por esses meios é uma preocupação constante entre os que pretendem concorrer à prefeitura.
“Em tempos de pandemia, a proximidade com a população e o alcance dessas plataformas são ferramentas que, sem dúvidas, serão muito exploradas no próximo pleito”, diz o prefeito, Rafael Greca (DEM). Ele destaca que atualiza pessoalmente suas mídias digitais. “Eu sou um entusiasta das redes sociais. Por elas eu me informo, fiscalizo e consigo acompanhar as demandas dos curitibanos que me escrevem. Acordo cedo, converso e respondo”. Para Greca, o maior desafio na campanha com essa configuração será “combater as fake news e os robôs que promovem a desinformação.”
Ney Leprevost (PSD) ressalta que, antes das redes sociais, a televisão ainda será o meio mais importante na comunicação com o eleitor. “Porém, em relação às campanhas anteriores, certamente haverá um aumento do que os candidatos irão colocar [de recursos] nas redes sociais”, avalia. Ele deixa a entender que há pré-candidatos que conseguiram chegar a um número elevado de seguidores de maneira artificial. “Não adianta você ter milhares de seguidores se eles foram conseguidos por vias transversas e sequer são da sua cidade. Aquela prática que muitos adotaram de comprar seguidores em redes sociais é ineficiente”. O ex-secretário estadual considera ainda que, com a migração da campanha de rua para a internet, deve aumentar a disseminação de fake news. “Creio que essa vai ser uma preocupação grande do jurídico das campanhas.”
A opinião é compartilhada por Goura (PDT). “Essa eleição de 2020 vai esboçar de certa forma as discussões de 2022. É de se esperar que a máquina desse gabinete do ódio, que já é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal [STF], seja utilizada para perpetuar ou fortalecer algumas candidaturas”, considera. “Do lado positivo, com as redes sociais a gente tem a possibilidade de um engajamento com um público muito mais amplo”, pondera. “Aqui em Curitiba, estamos falando de mais de 70 bairros e de uma população muito diversa. Espero que tenhamos um debate pautado nas discussões locais e necessárias para Curitiba”. Para ele, a pandemia tem explicitado graves problemas sociais e ambientais da cidade, que necessitam de um debate aprofundado que poderia ter a participação e o envolvimento dos candidatos facilitado por meio das redes sociais.
O outro pré-candidato do PDT, Gustavo Fruet, também se preocupa com a necessidade de combate às fake news, seguindo a linha da investigação conduzida pelo STF. “Gabinetes do ódio estão espalhados pelas máquinas públicas por todo país”, afirma. Para ele, a TV continuará tendo o maior peso nas campanhas majoritárias, mas, com a restrição a eventos públicos, por causa da pandemia, “certamente as redes sociais ganharão mais peso na campanha deste ano”.
Fernando Francischini (PSL) concorda: “Como o contato com os curitibanos poderá ser restrito, em virtude da pandemia, os debates sobre os problemas e soluções devem migrar para o ambiente virtual”, diz o deputado. “Por causa dessas indefinições, estamos redesenhando as estratégias do social media”. Em relação ao estudo do Instituto Pólis, ele salienta que o foco de suas redes sociais não é eleitoral e que a marca de 2 milhões de seguidores foi alcançada ao longo dos oito anos em que foi deputado federal. “Desde que fui eleito deputado estadual, tenho conversado ainda mais nas redes com os curitibanos, principalmente com aqueles que moram nos bairros mais carentes, onde as benesses da prefeitura não chegam”, afirma. “Esse diálogo será de imensa valia na construção do meu plano de governo, cuja prioridade serão as pessoas e não o asfalto.”
O deputado federal Luizão Goulart (Republicanos), que já foi prefeito de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, conta que sempre foi acostumado a fazer campanhas “corpo a corpo”, conversando com as pessoas. “Porém, em decorrência da pandemia, teremos muitas limitações e, por isso, precisamos nos reinventar”, explica. Sobre a análise feita pelo Instituto Pólis, ele ressalta que tem utilizado as redes sociais para destacar suas ações como parlamentar e prestar contas sobre o que vem apresentando e votando. “Sou divergente a algumas iniciativas do atual prefeito em relação ao combate ao coronavírus, mas prefiro me posicionar nas redes sociais de maneira propositiva”, afirma.
A campanha de João Guilherme (Novo) deve adotar as redes sociais como plataforma prioritária de comunicação. “Para minha candidatura será fundamental, visto que teremos pouco tempo de rádio e TV”, diz. Em relação ao estudo do Instituto Pólis, o pré-candidato explica que, nas últimas semanas, após o período da coleta dos dados, passou a se manifestar de maneira mais constante “sobre a falta de transparência nos dados do combate à Covid em Curitiba, sobre os ônibus lotados na cidade e a falta de liderança do prefeito Rafael Greca nessa luta contra a doença”. Ele acrescenta que tem recebido “retorno indignado da população sobre esses temas”.
A Gazeta do Povo procurou também o deputado estadual Tadeu Veneri e o professor Paulo Opuszka, pré-candidatos do PT, para falar sobre a campanha deste ano nas redes sociais, mas não obteve retorno deles até o fechamento desta reportagem.
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