Se for para escolher um culpado pelo aumento da disseminação do coronavírus em Curitiba, os dados epidemiológicos, segundo a prefeitura, mostram que os dedos não devem ser apontados para o transporte coletivo da cidade.
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A conclusão foi apresentada pelo epidemiologista Diego Spinoza, da Secretaria Municipal da Saúde, em reunião realizada na véspera da edição do novo decreto de bandeira vermelha (27) com representantes dos setores econômicos da cidade e diretores de serviços hospitalares.
E como chegou-se ao diagnóstico de que a culpa não é dos ônibus? Segundo a prefeitura, foi pelo cruzamento do banco de dados dos testes positivos para Covid-19 na cidade com os CPFs dos usuários do cartão-transporte da Urbs, ao longo de um ano, de março de 2020 a março de 2021. O fato de o Brasil ser um dos países que menos fazem teste de Covid não invalida o estudo, segundo Spinoza. Para os casos em que não houve registro de um exame, ou o transporte foi pago em dinheiro, "essas pessoas estão fora do nosso alcance para fazer esse monitoramento". "Mas pelo número de casos e pelo volume de testes que a gente faz – duas vezes mais do que a média nacional – a gente acredita que consegue acompanhar um grande número de pessoas", sublinha.
Em média, apenas 0,02% dos usuários dos ônibus no período eram portadores do vírus, segundo os registros oficiais. E o risco de transmissão seria minimizado pelo fato de, como regra, todos usarem máscaras nos coletivos, e também pelo sistema de parada nos pontos, que favorece a troca de ar a cada abertura das portas. Por fim, uma peculiaridade também estaria contribuindo para reduzir o contágio: “Se você já circulou dentro do transporte coletivo aqui em Curitiba, você vê que as pessoas praticamente não conversam ali dentro, isso diminui a emissão de gotículas dentro do transporte coletivo”, pontua Spinoza.
O banco de dados da prefeitura é restrito aos usuários do cartão-transporte e àqueles que procuraram os serviços de saúde para testar para a Covid. O vírus, no entanto, não poderia estar circulando com pessoas não diagnosticadas ou assintomáticas? “Sim, a gente tem relato na literatura de pessoas que iniciam a transmissão antes de iniciar os sintomas, por isso a gente buscou os dados com três dias retroativos a partir da coleta do exame de Covid e até 14 dias depois. A gente tenta captar o máximo de pessoas que ainda não tinham o diagnóstico, mas já poderiam estar transmitindo”, afirma o epidemiologista.
O estudo focou apenas nos ônibus ligados ao transporte de Curitiba, não incluindo os da região metropolitana que “várias vezes” já teriam sido flagrados com lotação bem maior do que na capital, segundo Spinoza. Em Curitiba, acrescenta ele, os coletivos já estariam circulando com um volume de passageiros 50% menor do que antes da pandemia, com a média de 600 mil usuários por dia tendo caído para apenas 300 mil. “É preciso que a Comec também se posicione (sobre os ônibus da RMC) e acompanhe esses casos, porque, daí sim pode ter uma situação que a gente não está conseguindo captar, nesses ônibus muito cheios, vindos das cidades vizinhas de Curitiba”.
Apesar de a prefeitura argumentar que o problema da lotação é mais frequente nos ônibus da região metropolitana, fiscalizações recentes do Tribunal de Contas apontaram o descumprimento do limite de passageiros nos horários de pico na frota administrada pela Urbs. Em março, o tribunal chegou a emitir uma liminar suspendendo o transporte público na cidade, decisão que acabou sendo cassada pelo Tribunal de Justiça e negada, igualmente, em recurso impetrado junto ao Supremo Tribunal Federal.
A versão original da reportagem afirmava que Diego Spinoza é médico infectologista, quando ele é epidemiologista. Também foi corrigida a informação de que Spinoza afirmou que os ônibus vêm circulando com 50% de sua capacidade. Sua afirmação foi de que o volume de passageiros dos ônibus em Curitiba é 50% menor desde o início da pandemia.
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