| Foto: Andreas Lischka / Pixabay

A Polícia Civil investiga denúncias contra o ex-funcionário de uma concessionária de Curitiba suspeito de aplicar golpes em série contra clientes na compra e venda de veículos. Em pelo menos dois dos sete casos apurados pela reportagem, as tratativas teriam sido fechadas dentro da revendedora, motivo pelo qual o estabelecimento também foi alvo de ações na Justiça. As fraudes superam R$ 280 mil.

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Os golpes envolvem um ex-vendedor de uma concessionária no bairro Hauer. A revendedora nega ter sido conivente com a postura do ex-funcionário Marcos Marascki, demitido em abril de 2018, e afirma também ser vítima dos golpes. Enquanto era vendedor credenciado à loja, o suspeito já tinha uma condenação de 1 ano e 9 meses por estelionato contra sete idosos em Santa Catarina em 2008.

Em um dos processos que tramita na Justiça do Paraná contra o ex-funcionário e a revendedora, as vítimas alegam ter fechado a compra de um automóvel de R$ 55 mil. O negócio foi fechado em março de 2018 pela aposentada Ivani Moreira Couto, 54 anos, e pelo marido Valdir Moreira Couto, 56 anos. O casal comprou um veículo pelo programa Pessoas com Deficiência (PCD), ao qual Couto tem direito por não ter parte dos movimentos do corpo.

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Mas um ano e seis meses depois, o casal segue sem o veículo e sem dinheiro, que veio com o seguro de dois carros da família roubados em sequência. "Confiei no vendedor, na concessionária, e não está sendo fácil. Eu tinha que ir de Uber do Xaxim ao Cabral para levar meu marido na reabilitação, pagando entre R$ 28 e R$ 29 para ir e R$ 35 para voltar porque já era horário de pico. Dei graças quando pegamos um carro velho que estava no conserto, mas de vez em quando ele ainda me deixa na rua. Esses dias fiquei embaixo do sinaleiro e tive que sair e empurrar o carro", relata Ivani.

O imbróglio principal está no fato de a maior parte do valor, R$ 53 mil, ter sido depositado diretamente na conta do funcionário, como ele mesmo teria orientado. "A gente já tinha fechado o negócio na loja, que foi onde fizemos o primeiro pagamento de R$ 1 mil. Depois ele foi até minha casa para entregar o recibo do pagamento que eu já tinha feito e me passou o número da conta dele para depositar os R$ 53 mil. Acreditei e não vi maldade, até porque a gente já tinha acertado tudo dentro da loja e ele veio na minha casa com maleta e papel da marca do carro", justificou a dona de casa.

Na ação, os advogados do casal sustentam que Marascki se aproveitou das condições das vítimas. Contra a empresa, pesaria a acusação de ter sido negligente. Segundo a defesa, Ivani e o marido voltaram à concessionária para cobrar respostas, mas teriam sido comunicados de que apenas o então funcionário poderia orientá-los.

O suspeito também teria feito vítima um engenheiro de 42 anos do estado de São Paulo. Mas ele conseguiu ser integralmente ressarcido em um acordo extrajudicial fechado com a concessionária de Curitiba. O acordo foi homologado em 28 de agosto na 1.ª Vara Cível de Limeira. Em janeiro de 2018, a vítima paulista optou por financiar R$ 29 mil de um veículo que custava R$ 77,9 mil. Mas, após a venda de um veículo da família, desistiu das parcelas e depositou o restante para quitar a dívida diretamente na conta de Marascki – também por indicação do vendedor. Um mês depois, as cobranças do carnê de financiamento ainda em aberto começaram a aparecer e a Justiça foi acionada.

Negócio paralelo

Fora da concessionária, Marascki teria continuado a fazer vítimas. No sistema digital da Justiça do Paraná, há pelo menos outro cinco processos relacionados à compra e venda de carros.

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Em dois deles, o suspeito teria se apresentado como funcionário de uma montadora e por isso conseguiria comprar automóveis a preços menores do que os de mercado. Um dos lesados perdeu R$ 66 mil ao encomendar dois automóveis. Outro entregou o próprio veículo como parte do pagamento que faria por um veículo de R$ 88 mil - nunca recebido.

Em 2008, Marascki foi condenado pela Justiça de Santa Catarina em um processo de estelionato contra idosos. Fingindo ser vendedor de purificadores de água, ele usou o nome de sete clientes idosos para fazer empréstimo sem autorização com parcelas descontadas das aposentadorias das vítimas. Segundo a Justiça, o golpe chegou a  R$ 15,3 mil.

Outro lado

Por meio do advogado Geraldo Oliveira, o ex-revendedor nega as acusações. Embora não tenha se pronunciado sobre os acordos fechados dentro da concessionária, a defesa afirmou que as demais ocorrências ligadas ao negócio paralelo de Marascki – que seria uma pequena empresa legalizada - foram provocadas por um sócio, que pegou dinheiro dos clientes e fugiu.

O advogado refuta ainda que os casos se tratem de golpes. "Ele está pagando os carros de todos os casos. O que aconteceu foi que ele levou um golpe dos sócios, mas ele vai pagar", afirmou o advogado.

A concessionária também se pronunciou por nota dos advogados. A empresa enfatiza que não foi conivente com as práticas ilícitas do ex-funcionário e que somente após mais de um ano e meio do desligamento do colaborador é que a revendedora tomou conhecimento das supostas fraudes – versão diferente da que foi dada pelos clientes lesados.

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No texto, os advogados da empresa se referem aos valores depositados na conta do revendedor - nunca repassados à empresa –-como falta de cautela, mas afirmam que todas as medidas jurídicas têm sido tomadas pela empresa para resguardar o direito dos consumidores. "Nesse ponto, a concessionária é vitima do suposto delito de estelionato praticado por tal colaborador, e por isso provoca a instauração de Inquérito Policial para apurar sua conduta", traz a nota.

A Polícia Civil confirmou que investiga o ex-vendedor. O inquérito corre no 9º Distrito Policial, no bairro Santa Quitéria, na capital. A delegacia, porém, não quis mais detalhes sobre os casos e alegou que isso atrapalharia as investigações.