Inaugurado com a promessa de desafogar o trânsito, binário do Santa Quitéria gera reclamações de motoristas, moradores e comerciantes do bairro, desde que começou a funcionar, na tarde de sexta-feira (6). As pessoas ouvidas pela reportagem na segunda-feira (9) reclamaram de falta de projeto para a segurança de pedestres, retirada dos espaços destinados para estacionamento e falta de ciclovia e de controladores de velocidade. O binário deixou em mão única as ruas João Alencar Guimarães e Major França Gomes, no trecho entre a Avenida Presidente Arthur Bernardes e o cruzamento com a Rua Herbert Neal. Confira o que diz a prefeitura sobre os problemas.
A coordenadora editorial Raquel Andrade Lorenz, 35 anos, moradora do bairro, dirige diariamente na João Alencar Guimarães. A rua é o único acesso para a casa dela e havia a expectativa de melhoria no trânsito. Segundo a Raquel, isso não aconteceu. “Nem começou e já está se tornando um problema maior do que era. Perto das 18h30 o trânsito continua parado. E pior, com risco de pequenos acidentes porque os motoristas vêm pela faixa da esquerda, sentido bairro, e depois querem furar fila para entrar na faixa da direita, na tentativa de continuar indo reto.”, afirma.
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A moradora relata que o local onde o binário termina passou a existir um “funil de carros”. “Está caótico”, reclamou. Segundo ela, há problemas também para quem anda a pé. “Quem depende de ônibus tem que andar uma quadra a mais, em ruas mal iluminadas, porque alguns pontos foram desativados. A sensação é de que não fizeram nenhuma análise da viabilidade social do projeto”, reclama a moradora.
O excesso de velocidade também preocupa a vizinhança. A Raquel Andrade teme que o binário do Santa Quitéria se transforme em pista de corrida. “Em horário de pico, não tem como correr na pista por causa do movimento, mas em horários de fluxo mais leve, isso já acontece. Não queremos que aconteça, aqui, algo semelhante com o que aconteceu no binário da Mateus Leme”, alerta.
Problema para os pedestres e multas
No ponto de vista dos comerciantes, o binário é um benefício para o bairro, mas a falta de espaço para estacionar é motivo de reclamação. “É nítida a falta de um projeto. Não mexeram nas calçadas para criar vagas e ainda pintaram faixa amarela onde, antes, era permitido estacionar. Parece que só recaparam o asfalto, passaram uma mão de tinta na rua, mudaram as placas de lugar e colocaram o negócio para funcionar”, diz o farmacêutico Natanael Luciano Ribeiro, 51 anos, que trabalha na João Alencar Guimarães.
Ele reclama que a prefeitura poderia ter diminuído a largura das calçadas, feito avanços para os carros estacionarem e aproveitado para deixar a rua melhor para os pedestres. “Aqui perto, moram muitas pessoas com deficiência visual e não vi nada alterado para facilitar o acesso deles. Só mudaram mesmo o sentido da rua”, diz o farmacêutico.
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O esquecimento dos pedestres é um ponto comum nas reclamações. O aposentado Ruy Pedroso, 60 anos, também mencionou a falta de segurança para quem caminha por ali, no entanto, a preocupação principal dele foi com relação à atitude dos agentes da Superintendência de Transito (Setran). “Ninguém sabe se eles estão multando os motoristas que se enganam com a sinalização. Tenho visto um bloco na mão dos agentes e me preocupo porque tem gente que sempre estacionou na Herbert Neal, nessas duas quadras que ficam entre as ruas do binário, mas agora na primeira quadra não pode mais. Só tem placa de proibido estacionar e não vi nenhuma que deixe parar com o pisca alerta ligado, nem na frente de uma escolinha infantil que tem ali. Eu acho que faltou mapear a região”.
Em contato com a reportagem, a Setran informou que, nos primeiros dias de funcionamento do binário, não há aplicação de multas para os motoristas que se confundem com a nova sinalização. O que há é uma orientação dos agentes.
Sem orientação nos pontos de ônibus
Na sexta-feira, dia da inauguração do binário, a reportagem flagrou a dona de casa Eliane do Rocio de Araújo, 65 anos, moradora da Rua Curupaitis, avisando as pessoas de que alguns ônibus não paravam mais no ponto em frente à casa dela. “Não tem um cartaz sequer informando que o ponto foi desativado para algumas linhas. Os ônibus que iam para o Centro pela João Alencar viravam na minha rua, depois pegavam a França Gomes. Agora eles passam direto por lá. Eu aviso quem eu posso, mas não vou ficar fazendo isso a semana inteira. Falaram que ia ter gente da prefeitura orientando as pessoas, mas pelo jeito só tem aviso para quem tem carro”.
Mobilidade urbana
A nítida falta de um projeto de mobilidade urbana também gera discussões entre os moradores da região. “Minha família está no bairro há muito tempo. Passei minha infância por essas ruas e lembro da minha mãe me levando para a escola de bicicleta. O bairro cresceu, vieram novos condomínios de apartamentos, um supermercado grande, um binário e ninguém pensou numa ciclovia? Nas cidades mais modernas do mundo, o carro não está em primeiro lugar. É preciso colocar outros modais de transporte como alternativa”, analisa Michel Prado, 30 anos, organizador de um abaixo-assinado online pela implementação de ciclovia na região do binário.
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Além de reivindicar o espaço para bicicletas, Michel questiona a falta de preocupação com o impacto de um projeto de alteração no trânsito. “Ninguém pensou nos reflexos? Antes de entrar com o abaixo-assinado, procurei os órgãos públicos para conhecer o estudo feito sobre o binário. Ninguém soube me informar nada. Resolvi me reunir com outros vizinhos e sair em busca e uma solução, mas até agora só conseguimos saber, por meio da imprensa, que deve ser feito um estudo para implantação de uma ciclovia em uma rua paralela ao binário”.
O que diz a prefeitura
Quanto ao abuso de velocidade dos motoristas, a Setran diz que fará ações educativas de conscientização ao motorista que passa pelo trecho, sobre o respeito do limite de velocidade e, na sequência, pode utilizar os radares estáticos (equipamentos acoplados a um tripé) para fiscalização dos condutores. As ações estão acontecendo desde que o binário foi inaugurado e devem seguir por pelo menos dez dias, contados a partir da última sexta (6).
A pasta informou, ainda, que o limite de velocidade no binário do Santa Quitéria é de 50 km/h, compatível com a via. Além disso, em locais com grande concentração de pessoas, como perto de creche, escola e igreja, foram instaladas faixas elevadas, onde a velocidade é reduzida para 30 km/h.
Da falta de acessibilidade nas calçadas, a prefeitura diz que isso será tratado em projeto específico a ser desenvolvido por Ippuc e Setran.
Sobre a ciclovia, por meio de nota, a prefeitura de Curitiba informou que está desenvolvendo um projeto para a criação de uma ciclorrota, conduzido por técnicos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) e da Setran. De acordo com os primeiros estudos, “a ciclorrota passará pela Rua Júlio Eduardo Gineste, no trecho entre a ciclovia da Arthur Bernardes até a Rua João Scuissiato, seguindo até a Uniandrade. Essa ciclorrota receberá sinalização horizontal e vertical de acordo com os manuais e resoluções do Conselho Nacional de Trânsito”, diz a nota.
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