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Celina Lacerda Ferreira.
Celina Lacerda Ferreira.| Foto: Reprodução

A jovem Celina Lacerda Ferreira fazia tranquilamente seus rodopios e pliés no balé, dança que praticava desde antes dos dez anos de idade, quando foi selecionada por Diva Almeida, professora da Escola de Educação Física e Desportos do Paraná, para fazer parte do time que representaria o estado nos primeiros Jogos Escolares Brasileiros. Celina não se considerava até então uma ginasta, mas junto com as outras garotas aprendeu a série de exercícios com arco e voltou para Curitiba - a competição foi em Niterói (RJ) - com uma medalha. A partir daí, a ginástica não saiu mais de sua vida. A professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) responsável pela existência da Ginástica Rítmica Desportiva (GRD) no currículo do curso de Educação Física faleceu no dia 22 de janeiro, aos 69 anos, por causa de um câncer.

Pouco antes de iniciar no balé, que praticava no Clube Thalia, ela e a família se mudaram da Lapa (PR) para a capital. O pai, cansado de tocar a farmácia da família no interior, aceitou o convite para ser professor universitário da disciplina de Higiene no curso de Farmácia da UFPR. Inteligente e destinada a lecionar, Selina seguiu os passos do pai. Ingressou como estudante de Educação Física na Universidade aos 17 anos, no início dos anos 1970, e logo depois de formada passou a dar aulas na instituição, onde permaneceria até sua aposentadoria, no início dos anos 2000.

Sua maior luta e vitória foi a inclusão da GRD como disciplina obrigatória aos estudantes de Educação Física. Destacava a riqueza da disciplina em psicomotricidade e no trabalho educativo da bilateralidade, elementos fundamentais para ela na formação de profissionais da área. Ao trabalhar arduamente pelo desenvolvimento do curso, deixou uma marca eterna na história do setor. Porém, sua marca humana foi ainda maior.

A dedicação e a busca pela excelência que tinha no esporte eram sentidas por estudantes e atletas treinados por ela. Entre as centenas de mensagens de carinho, uma delas, escrita e deixada por um ex-aluno aos pés do caixão no velório foi enterrada junto com Celina. A docente viu a maior parte dos colegas pedir uma pausa nas aulas para se aperfeiçoarem em um doutorado. Na área dela, esse tipo de pós-graduação só seria possível fora do Paraná. Então, para não “abandonar” suas alunas e a disciplina que tanto lutou para colocar em pé, optou por frear o próprio desenvolvimento acadêmico.

Foi técnica no antigo Cefet e árbitra internacional de ginástica. Viajou para vários lugares do mundo arbitrando competições. Prezava pelo rigor e pela exatidão neste trabalho, e sentiu-se frustrada ao perceber que, em algumas ocasiões, pessoas que deveriam defender a imparcialidade nos torneios tentavam interferir em sua atuação. “Ela também tinha muita pena quando precisava dar nota baixa para alguma atleta”, lembra o irmão, Ovidio Lacerda Ferreira.

Depois de aposentada, mergulhou ainda mais em viagens pelo mundo com as amigas. Pelos quatro cantos do planeta, exibiu seu inglês, francês e alemão fluentes. Quando voltava, deliciava a família com relatos dos locais por onde passara. A exemplo da mãe, tornou-se voluntária no Hospital Pequeno Príncipe, mas a atuação das duas era distinta. Enquanto Celina mudava o ambiente lendo fábulas, a mãe fazia peças de tricô e crochê para os pequenos pacientes. Em comum, as duas também tinham o hábito de ostentar as cabeças forradas por cabelos brancos. Ao passar longe das tinturas, lançaram moda entre as amigas. Para cantar com maestria no coral do qual fazia parte, estudou harmonia e aperfeiçoou a voz em aulas particulares. Tudo para fazer bonito nas apresentações, que chegaram até a Rússia e França.

Celina deixa um irmão, uma cunhada e dois sobrinhos, a quem chamava de “filhinhos”.

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