Nas rodas de choro e nas bandas de baile de Curitiba, é muito difícil citar o nome de Daniel Ferreira de Miranda Júnior, o Daniel Miranda, e não receber de volta um entusiasmado aceno de reconhecimento dos músicos. O clarinetista e saxofonista falecido no último dia 1º, aos 54 anos, vítima de um AVC, era conhecido na cena artística paranaense e estava sempre a postos para levar a música para onde ela era necessária. Daniel fez parte de bandas de diferentes estilos e foi um dos fundadores da Banda Lyra Curitibana, responsável pela animação de eventos da cidade.
Apesar de ter nascido na Lapa (PR), foi em Antonina, no litoral do Paraná, que o gosto pelos instrumentos musicais tomou corpo oficialmente. Ainda criança, ouvia pelo rádio o som da clarineta e escolheu, de pronto, que aquela seria a sua praia. Aos oito anos começou a tocar e mais tarde migrou também para o saxofone. Entrou para a Orquestra Filarmônica de Antonina ainda infante. De mudança para Curitiba aos 14 anos, passou a frequentar também rodas de samba e de choro.
Tudo isso foi moldando desde cedo o que Daniel já havia escolhido ser na vida. Entrou para o Exército em 1984 e depois se tornou sargento da Polícia Militar, sempre fazendo parte das bandas das instituições. Também nos anos 1980 foi um dos fundadores da Banda Lyra, que até hoje é presença garantida em inaugurações, comemorações e eventos da cidade.
O repertório de Daniel era vasto, assim como o número de bandas pelas quais passou durante sua trajetória. Tocou nas bandas do Colégio Estadual do Paraná, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (na época em que era chamado de CEFET), Bom Jesus, Orquestra do SESI, na Orquestra Sinfônica Juvenil da Universidade Federal do Paraná, entre outras. Nos anos 2000, montou o Ebubu Fulô, grupo de choro, talvez seu estilo musical mais querido.
Ao longo da carreira, tocou com lendas da música brasileira que passavam por Curitiba para se apresentar, especialmente como membro da Orquestra à Base de Sopro do Conservatório de MPB, da qual participou por quatro anos. Acompanhou Nelson Sargento, Guilherme de Brito, Argemiro Patrocínio, Noca da Portela, Silvério Pontes e muitos outros nomes artísticos de peso de fora de Curitiba e da própria capital.
O que era profissão era hobby também. “Era festeiro, gostava de sair para tocar, de juntar pessoas e fazer uma roda. Esse era o ambiente que ele mais gostava”, conta o filho e músico Lucas Branco de Miranda. Os dois tocavam juntos com frequência no Jazz Cigano Quinteto e no conjunto Choro e Seresta. Deste último, era membro também o amigo João Luiz Rodrigues, mais conhecido como Joãozinho do Pandeiro.
Daniel e Joãozinho se conheciam há décadas, e ele lembra da personalidade sincera do amigo. “Ele falava o que tinha que falar na cara da pessoa, não acumulava nada. E se a pessoa ficasse brava por causa disso ia só perder tempo”, relata bem-humorado.
Sua despedida fez jus ao seu estilo de vida cercado de animação e boa música. Após o cortejo tradicional de falecimento, dezenas de músicos levaram um samba de homenagem noite adentro, em frente ao cemitério, relembrando toda a alegria do amigo. Daniel Miranda deixa esposa e um filho.
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