Miguel e Gilson com as medalhas de campeões do Paranaense de Veteranos de 2012. No colo, o neto Arthur.| Foto: Acervo da família
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Quando ingressou na prática do judô, Miguel Neves de Jesus proporcionou um encontro ideal para sua personalidade disciplinada, típica de quem opta pela carreira militar. O ofício de professor da arte marcial, que viria mais tarde, adicionou a essa mistura uma pitada de ternura, traço já presente em seu jeito de ser. Miguel faleceu em Curitiba, no dia 7 de outubro, aos 76 anos - 36 deles dedicados ao Exército, se aposentando como capitão em 1999, e 40 ao judô, lutando e treinando.

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A descoberta do esporte aconteceu por acaso, e no começo até um pouco a contragosto. O filho mais velho tinha dez anos quando, na escola, foi proposta a prática. Os pais foram até a escola conversar com o professor e acabaram se encantando tanto que não só liberaram o menino para os treinos como passaram a praticar também.

A partir de então, a família toda – incluindo o filho mais novo, que começou com três anos – passou a orbitar junta em treinos três vezes por semana, trocas de faixa, golpes e estratégias de judocas. Todos se tornaram, eventualmente, professores e faixas pretas, reconhecimento de grau máximo de habilidade no esporte.

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Miguel foi o responsável por levar a arte marcial para o Clube dos Subtenentes e Sargentos do Exército de Curitiba, onde era o professor mais graduado em atuação. Por causa das mudanças de local de trabalho, ele atuou como treinador nas cidades paranaenses de Jaguariaíva e Arapoti, além de Itararé, em São Paulo. Também foi delegado da Região Centro-Sul da Federação Paranaense de Judô.

A participação em competições com os alunos foi um caminho natural. Acompanhava os participantes sempre que possível, ficava apreensivo e estava sempre com um abraço caloroso à espera após a luta, seja em parabenização pela vitória ou como consolo pela derrota. O filho Gilson André Acosta de Jesus lembra de um momento marcante em um desses torneios, no início dos anos 2000.

Como é costume em diversas modalidades esportivas, o hino nacional é cantado por todos antes do início dos trabalhos. Porém, o sistema de som estava com problema na ocasião, inviabilizando a reprodução da canção. Experiente com cerimonial e dotado de uma bela voz, Miguel prontamente empunhou o microfone e puxou o hino, acompanhado em seguida por todos os presentes. Recentemente, Gilson soube que essa passagem emocionou não só a ele, mas vários colegas e amigos, que compartilharam a recordação desse dia após o falecimento do pai.

Foram milhares de mensagens recebidas pela família. Em todos esses anos ensinando o judô, Miguel criou laços duradouros e marcou a vida de inúmeras pessoas ao reforçar valores como respeito e disciplina em um período de formação de caráter – a infância e adolescência. “A maior parte das pessoas lembra da maneira como meu pai contagiava os outros com a energia dele. Ele sempre tinha uma palavra de alegria e educação”, comenta Gilson. Pela postura militar cultivada durante anos, podia dar a impressão de sisudez e rigidez a um recém-chegado. Porém, era só passar algum tempo com ele para entender quão brincalhão e positivo era.

No tempo livre, gostava de curtir a família e fazer o tradicional churrasco de domingo. Miguel deixa esposa, teve dois filhos (um deles já falecido) e sete netos.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]