Ruth Wolski dos Santos e a história recente do teatro paranaense são unidades ligadas de forma intrínseca. Ela, no entanto, não foi atriz, diretora ou, de forma independente, promotora de espetáculos. Com uma capacidade social além do comum, foi parceira de décadas do ator e diretor teatral José Maria Santos, que dá nome ao teatro inaugurado em 1998 na Rua Treze de Maio, no Centro de Curitiba, e que se destacou pela defesa da classe artística local e do fomento cultural com o Teatro da Classe. Ruth faleceu no dia 20 de fevereiro, aos 84 anos, por problemas pulmonares.
Um dos filhos do casal, José Mauro dos Santos, um dos fundadores da Casa do Contador de Histórias, lembra que a presença dos dois era constante na esfera social curitibana. “Nessas revistas antigas, encontrei fotos deles juntos, gostavam muito de jantar fora e ir ao cinema, conversar com os amigos… Tinha gente que dizia que o único lugar certeiro para encontrar meu pai e minha mãe era na fila dos antigos cinemas de rua de Curitiba, o Ópera ou o Avenida”, conta.
Ruth e a irmã moravam com os pais em uma casa da Rua Alferes Ângelo Sampaio e, todos os anos, partiam para a folia no Carnaval, marcado pelos bailes. Em um desses eventos, conheceu Zé Maria. O jovem ator parecia ter saído de uma música de Belchior: “Apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes”, o que causou uma certa dose de problemas iniciais com o sogro, o polonês rígido Romualdo Wolski. Porém, com o tempo foi perceptível a boa combinação entre o casal, especialmente na criação dos filhos. José mais afetivo, Ruth mais prática e preocupada com o bem-estar de todos. Os dois se conheceram quando ela tinha menos de 20 anos e permaneceram juntos até o início da década de 1980. Zé Maria faleceu em 1990.
No meio artístico, ela conhecia todo mundo e manteve relações de amizade mesmo após o divórcio com o ator e diretor. Desde nova, Ruth era funcionária estatal da área de educação, tendo se aposentado próximo dos anos 1980. Iniciou o trabalho no antigo setor de estatística, quando todo o levantamento de dados do Paraná era feito à mão, sem uso de computadores. Passou por alguns nichos, até o último trabalho, na biblioteca do Colégio Estadual Nilson Baptista Ribas, onde impressionou o diretor com as atividades que promovia. Ele notou que os estudantes, que antes só iam à biblioteca por se enquadrarem em algum tipo de castigo, passaram a frequentar voluntariamente o local por serem atraídos pelas ações dela.
Em essência, ver as coisas acontecendo era o que Ruth mais gostava. Há cerca de 15 anos, mudou-se em definitivo para Matinhos, no litoral paranaense, onde era muito ativa na participação e organização de atividades junto à comunidade, em associação com o campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Entre elas, estavam a prática de yoga e outras ações de envolvimento da terceira idade, em especial. O filho Mauro lembra do afinco dela em levá-lo para uma oficina de contação de histórias, pois acreditava que isso agradaria os amigos e conhecidos locais.
Também era bastante ativa na religião e filosofia de vida Seicho-No-Ie, na qual chegou a ser palestrante. Inquieta e questionadora, não se dava por vencida quando acreditava que algo não estava sendo feito do jeito mais correto. “Ela era teimosa e estava sempre atrás de saber a verdade. Herdei um pouco dessa teimosia dela”, revela Mauro. Ruth teve uma tentativa de entrar na política, por causa da atuação de Jaime Lerner no Partido Democrático Trabalhista (PDT), mas acabou deixando o intuito de lado para seguir defendendo suas causas por conta própria.
Apaixonada por viagens, era presença cativa em excursões da terceira idade pelo Brasil e para o exterior. A próxima estava marcada para julho deste ano e seria uma viagem surpresa, em que os participantes só conhecem o destino na hora do embarque. Ruth teve cinco filhos (uma já falecida), nove netos e seis bisnetos.