Pelo menos dois fatores unem Ester Gisele Marchesani – falecida em 24 de setembro, aos 74 anos – e sua família à história da cidade de Curitiba. O avô, Frederico Essenfelder, mais conhecido como Fritz, fundou o Coritiba Foot Ball Club em 1909. Foi ele também quem deu continuidade, a partir de 1920, com outros sócios, à marca de instrumentos musicais Essenfelder, criada pela família ainda em Berlim, na Alemanha. Ester, além de ter participado por cerca de 15 anos da administração da fábrica de pianos, esteve a vida toda empenhada em manter viva a memória de seus antepassados e a construir a própria.
Nascida em Curitiba em maio de 1945, teve no cuidado com os filhos, o marido (o médico pediatra José Renato Marchesani) e mais tarde com os netos e bisnetos uma missão constante. Ao mesmo tempo, manteve posição profissional ativa durante toda a vida. Formada em Pedagogia pela PUCPR, por anos foi secretária executiva da antiga Fundação Educacional do Estado do Paraná (Fundepar), atual Instituto Paranaense de Desenvolvimento Educacional. Depois de casada e com os dois filhos pequenos, mudou-se para Marechal Cândido Rondon, onde Renato e ela fundaram o Hospital e Maternidade Pequeno Príncipe e o administraram por 15 anos, até voltar à capital.
Estar à frente de iniciativas ligadas à filantropia, como o hospital infantil, era algo que lhe agradava pessoalmente. Seu cuidado constante com as pessoas fez com que fosse muito querida na região. Seja no trabalho ou como mãe, “a característica principal dela era estar sempre pronta”, conta a filha Liliana Marchesani Cardim. “Ajudava quem quer que fosse, independente de cor e credo”.
Uma de suas maiores paixões era o Movimento Bandeirante. Aos 17 anos já era chefe das bandeirantes em Curitiba e perpetuou esse amor ao ver seus descendentes participando das atividades. Até a bisneta é a mais nova lobinha da família.
Bastante ligada ao passado da família, cresceu tendo consciência da trilha que a família havia percorrido para chegar onde estava. Florian Essenfelder, seu bisavô, saiu da Alemanha no final do século XIX - já sabendo os principais acordes da manufatura de pianos - para se instalar em Buenos Aires, onde abriria uma oficina de pianos. Foi na capital argentina que nasceu Fritz, em 1891. Depois de instalados na fábrica em Curitiba, a partir de 1920, no cruzamento entre as ruas Mauá e Campos Sales, a história dos pianos Essenfelder vai até 1997, com seu fechamento. No entanto, ela continua a ser escrita cada vez que os dedos de um músico tocam as teclas que foram produzidas lá e que duram até hoje. Há peças produzidas pelo avô de Ester que até hoje encantam pela sonoridade e beleza clássica.
Ester participou da administração da fábrica no Alto da Glória até sua aposentadoria, nos anos 90, sempre com o interesse de preservar essa história. Foi essencial no auxílio a pesquisadores que escreveram teses e livros sobre esse capítulo importante da história da música no Paraná, fornecendo todo o material histórico necessário para tanto. Portadora de álbuns recheados de fotografias antigas e de memórias únicas, Ester cuidou não apenas de sua família, mas de tornar ainda mais sólida uma história já concretizada em Curitiba, tanto por causa do Coxa quanto por causa dos pianos Essenfelder.
Ester deixa o marido Renato, os filhos Liliana e Gabriel, os netos Juliana, Maurício e Arthur, e os bisnetos Natália e Leonardo.
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